A história do marketing político no Brasil registra nas eleições de 1960 que Jânio Quadros (UDN) usava como ferramenta de marketing proletarizar sua imagem. Um dos truques era usar ternos amarrotados, com ombros brilhando de caspas (dizem que era talco propositadamente espalhado). No tempo de Jânio, as pessoas diziam: "Vejam, um homem do povo como nós, ele tem caspa no cabelo!".
Se para Jânio a caspa foi ferramenta de marketing, para muitos homens e mulheres ela não passa de um incômodo daqueles, não só para a saúde do couro cabeludo como para as situações constrangedoras a que a pessoa se submete. Esta doença é um tipo de processo inflamatório que provoca a descamação do couro cabeludo, ficando evidente até nas roupas, com o desagradável efeito estético da queda das células mortas.
Estudos estimam que 40% da população brasileira sofre com a caspa. O problema aumenta neste período do ano, de temperaturas mais amenas. Isso porque a caspa também pode ser ocasionada pela descamação oleosa do couro cabeludo, e o banho com água mais quente faz com que os fios fiquem mais oleosos, propícios para o crescimento de fungos.
"O distúrbio se dá quando o fungo Pityrosporum ovale se prolifera excessivamente (tanto no couro cabeludo quanto no canal piloso, onde fica a raiz do cabelo), desencadeando uma inflamação no local", explica a dermatologista e consultora de beleza Luciana Maluf.
As duas principais formas de ocorrência apontadas pela dermatologista são a pitiríase esteatoide ou capitis, situação na qual a descamação é fina e difusa, não adere ao couro cabeludo, apresenta poucos sinais inflamatórios e aparece mais em adultos; e a crosta láctea (caspa oleosa), presente mais em crianças e caracterizada por escamas gordurosas e amareladas, que grudam nos fios e no couro cabeludo. "A resposta inflamatória nesse caso é intensa, causando, às vezes, a chamada adenomegalia local, um aumento nos gânglios linfáticos".
O estudante André Pimenta, 23 anos, conta que passou por uma situação constrangedora no dia de sua formatura em Direito. "Todo mundo sabe que este é um dia muito especial, a gente veste aquela beca preta para receber o diploma. E justamente neste dia, talvez pelo excesso de ansiedade e estresse, as caspas forraram o tecido sobre meus ombros, e meus amigos, claro, não deixaram por menos, me zoaram muito. Precisei da ajuda de uma amiga para tentar minimizar o problema, pelo menos por algumas horas". O estudante conta que, depois deste dia, procurou tratamento médico.
Não existe uma causa estabelecida para a existência da caspa, podendo haver vários fatores para a sua formação, tais como: alimentação incorreta, distúrbio hormonais, estresse, ansiedade, depressão, tratamentos químicos no cabelo, entre outros. Ela pode ser fina e esbranquiçada ou grossa mais amarelada e gordurosa, e pode ocorrer em qualquer tipo de cabelo. Nos recém-nascidos, a caspa surge dentro do quadro relacionado como eczema infantil. Em jovens e adultos, as chances de desenvolver caspa é maior.
Para tratar do problema, especialistas aconselham a lavagem diária dos fios de cabelo. Muitas pessoas fazem o contrário, deixam de lavar por achar que assim o problema vai melhorar, mas, quanto mais oleoso o cabelo está, mais proliferação do fungo terá, agravando a caspa.
Prevenção e tratamento
Para a dermatologista Fabiane Brenner, o tratamento da caspa passa pelo cuidado de evitar alguns hábitos. "Tomar banhos quentes e demorados e utilizar o secador com muita frequência, em temperatura alta, podem ocasionar o ressecamento do couro cabeludo e provocar a descamação".
Para evitar a descamação e a coceira, ela recomenda que as mulheres que sofrem com a caspa procurem utilizar xampus específicos, podendo ser formulados por um médico ou comprados diretamente nas farmácias. "Procure por xampus à base de piritionato de zinco, alcatrão ou cetoconazol. Se a descamação estiver ativa, o uso destes xampus pode ser diário ou, então, quando a caspa estiver controlada, elas podem alternar o xampu anticaspa com outro para cabelos oleosos".
Outro cuidado deve ser com a forma de aplicar o xampu. Fabiane ensina que o xampu anticaspa deve ser aplicado no couro cabelo, com pausa de cinco minutos para os ativos reagirem com a pele. Depois disto, ele pode apenas escorrer pelos fios e depois deve ser enxaguado. No comprimento e nas pontas, ela recomenda a utilização de um bom condicionador. "Desta forma, a mulher elimina a caspa e ainda preserva a hidratação dos fios. E, se a oleosidade for muito evidente, elas podem utilizar uma vez por semana um xampu antirresíduos". Com a utilização dos xampus adequados, os médicos afirmam que, em duas semanas, em média, os sintomas como coceira e a descamação costumam desaparecer ou diminuir.
Outros problemas no couro cabeludo
Todos sabem que o corpo dá sinais quando algo não está funcionando perfeitamente. Mas o que os cabelos têm a ver com a saúde da pele? Segundo a doutora Luciana Maluf, tudo. "Afinal, é do couro cabeludo que partem as madeixas. Por isso, quando falamos em cabelos saudáveis, é preciso estar atento aos cuidados necessários com a pele que cobre nosso crânio e reúne características e doenças específicas".
Outros problemas comuns, além da caspa, são: dermatite seborreica (ligada ao surgimento de um fungo), alopecia (termo médico geral usado para designar a perda de cabelo, com diferentes manifestações) e o câncer de pele.
Dermatite seborreica -- É uma inflamação da pele que causa vermelhidão e escamação (e que, além do couro cabeludo, também pode ocorrer ao redor das sobrancelhas, nos cantos do nariz, dentro e atrás das orelhas e no colo). A dermatite seborreica é uma doença crônica e intermitente, ou seja, os sintomas vão e voltam. Pouco se sabe sobre a causa, mas alguns fatores relacionados são a genética e as alterações hormonais (estímulo dos hormônios androgênicos). Pode ainda ser desencadeada pela presença de um fungo conhecido como Pityrosporum ovale, nos adultos, e predominantemente pela Candica albicans, nos bebês.
Alopecia -- Esse termo dá conta de uma gama de distúrbios que levam à queda de cabelo. As alopecias podem ser classificadas entre congênitas ou adquiridas, difusas ou localizadas, cicatriciais ou não cicatriciais.
Câncer de pele no couro cabeludo -- O câncer de pele é o mais comum entre os 100 tipos da doença, representando mais da metade dos diagnósticos. Segundo o portal da Sociedade Brasileira de Dermatologia, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) registrou 181.430 novos casos no Brasil em 2016. Dentro disso, o que acomete o couro cabeludo é a manifestação mais perigosa desse tipo de doença.