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Domingo, 22 de dezembro de 2024

Em Campo Grande, 1 em cada 9 pacientes soropositivo abandonam o tratamento

Segundo dados da Sesau, na Capital, há o registro de pelo menos 5.852 pessoas convivendo com HIV/Aids

01 de jan 2023 - 10h:37 Créditos: Correio do Estado
Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Dezembro é o mês dedicado à campanha "Dezembro Vermelho", instituída no Brasil pela Lei nº 13.504/2017, que marca uma grande mobilização nacional na luta contra o vírus HIV, a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Humana)  e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). 

Segundo dados divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), 10.206 pessoas convivem diariamente com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) em Mato Grosso do Sul.

Em 2022, foram registrados 1.011 novos casos. Em 2021, foram 1.210, e, em 2020, 1.011. Os municípios que registraram mais testes positivos, neste ano, foram Campo Grande (405), Dourados (143) e Três Lagoas (95).

Na Capital, há o registro de pelo menos 5.852 pessoas convivendo com HIV/Aids. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), um dado preocupante é o número de abandonos do tratamento - quando a pessoa fica mais de 100 dias sem retirar a medicação, oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Ainda segundo a Sesau, no ano de 2021, 663 pessoas deixaram de fazer o tratamento, em 2022, até o momento, foram 722 desistências.

Ícaro Brandão, de 26 anos, é um dos pacientes atendidos pelo SUS. Em entrevista ao Correio do Estado, ele relatou como foi o processo de descoberta do vírus e início do tratamento. 

"Primeiramente, eu fiz o teste, que deu positivo. Dizem que quando você testa positivo você já pode sair com o medicamento, mas demorou. Primeiro coletaram meu sangue, aí foram começar a dar meus remédios só depois de uns 3 meses, eu até fiquei preocupado no começo", comentou.

Já faz aproximadamente dois anos e meio que Ícaro realiza o tratamento, que consiste na TARV de primeira linha, composta por 1 comprimido ("2 em 1" TDF+3TC) e 1 comprimido de DTG, juntos, em tomada única diária.

"Para a retirada (do medicamento), tenho que fazer testes de sangue, para ver se estou bem de saúde, e aí eles me dão alguns meses de remédio até minha próxima consulta".

Os medicamentos são retirados a cada três meses, no Hospital Dia Professora Esterina Corsini, dedicado a atender doenças infecciosas, do Hospital Universitário. Apesar da disponibilidade do medicamento, Ícaro comenta que nem sempre é fácil de conseguir a receita para a retirada.

"Eles sempre remarcam (as consultas periódicas), então é um pouco complicado. Aí vou lá, converso com eles, eles entendem que eu preciso do remédio para viver, e eles me dão o remédio mesmo sem a receita, ou após eu passar por algum médico rápido", comentou.

O paciente completa que nunca ficou sem o remédio, mas que o atendimento costuma ser demorado: "tenho que perder uma tarde inteira".

Ao Correio do Estado, o médico infectologista Dr. Roberto Braz, que atende no Centro de Testagem e Aconselhamento de Campo Grande, explicou que o tratamento para Aids/HIV só pode ser oferecido pelo SUS, medida adotada pelo Ministério da Saúde como uma forma de controle.

"O tratamento do HIV é exclusivamente dispensado pelo SUS. Então, a pessoa não consegue comprar o medicamento para tratamento do HIV em farmácias comuns. Isso é uma forma de controle do Ministério da Saúde em relação a dispensação do medicamento, e é importante até para, através desse controle, saber quem consegue fazer o tratamento e quem para de fazer o tratamento. Então, todo o tratamento que a pessoa precisa é dispensado pelo SUS".

Para Braz, a maior causa de abandono do tratamento ainda é o preconceito. 

"Hoje em dia o HIV não tem cura, mas ele tem esse tratamento que é bastante eficaz, deixa a pessoa ser saudável, com uma boa expectativa de vida, praticamente a mesma de quem não vive com HIV. Infelizmente, o que mata ainda é o estigma e o preconceito. Muita gente, por medo de se expor, por medo do preconceito, às vezes acaba deixando de fazer esse segmento, e deixando de retirar o medicamento", comentou.

O abandono é ainda mais visível em pessoas em situação de vulnerabilidade social.

"Pessoas periféricas, pessoas pretas, pessoas que têm menor escolaridade, pessoas transexuais, travestis... Pessoas mais vulneráveis sentem mais o preconceito, e tem tendência, infelizmente, a abandonar com mais frequência", explicou o infectologista.

A melhor forma de combater os preconceitos é por meio da informação, da ciência. 

"É muito importante a gente falar sobre o tema, falar sobre o indetectável (pessoa que faz o tratamento corretamente e deixa de transmitir o vírus), e levar a informação de que, hoje em dia, apesar de não ter cura, o HIV tem um tratamento bastante simples e eficaz, bem diferente do que era no início da infecção e da descoberta do vírus", concluiu.


Como funciona o tratamento?

 
Dr. Roberto Braz, explica que o tratamento preferencial inicial é composto por três medicamentos, formulados em dois comprimidos, que seriam o Tenofovir e Lamivudina em um comprimido, e o Dolutegravir em outro.

"Esses medicamentos são antirretrovirais que atuam destruindo o vírus. Eles inibem algumas enzimas que fazem parte do processo de replicação e multiplicação do vírus. Então, acaba que o vírus não consegue se multiplicar", resumiu.

O infectologista lembra que, apesar do tratamento, ainda não existe uma cura para a doença.

"Mas aí a gente ainda não tem uma cura, né? A gente consegue destruir o vírus até que ele fique em números extremamente baixos na corrente sanguínea. Mas a cura ainda não existe, porque o vírus consegue se esconder em alguns locais, que a gente chama de santuários, que o medicamento não chega".

Segundo Braz, a existência destes santuários reforça a necessidade do paciente manter o tratamento: "Se a pessoa parar de tomar o medicamento, esse vírus sai desses locais e volta a se multiplicar", pontuou.

Na primeira consulta, o paciente recebe a receita para retirar o medicamento, que deve durar trinta dias. Uma série de exames é solicitada, e um retorno é marcado, podendo variar de quinze a trinta dias, dependendo da agenda.

"O paciente retorna geralmente em trinta dias, aí se avalia o resultado desses exames iniciais, de carga viral, de CD4, que são parâmetros que a gente usa pra saber em que nível está a infecção. Aí essa pessoa passa a retornar a cada três meses para as consultas, até que, após três a seis meses de tratamento, se ela toma certinho o medicamento, ela fica indetectável", explicou.

O termo "indetectável" é utilizado quando o vírus está suprimido, em níveis bem baixos na corrente sanguínea.

"Geralmente a gente considera indetectável quem tem menos de cinquenta cópias do vírus no sangue. A partir do momento que a pessoa faz certinho o tratamento, se torna indetectável, as consultas e exames passam a ser semestrais".

Além disso, os chamados "indetectáveis" também são intransmissíveis, ou seja, o organismo não transmite o vírus através de relações sexuais, nem através da gestação, no caso de uma mulher grávida vivendo com HIV.

"Em tratamento regular, a mulher pode ter um um filho biológico sem transmitir para o bebê nem para a parceria", concluiu. 

Então, a importância do tratamento adequado é garantir qualidade de vida, suprimindo o vírus, e impedir a transmissão, até como forma de prevenção. 

"O paciente que faz o diagnóstico atualmente, em Campo Grande, pode iniciar o tratamento em qualquer Unidade Básica de Saúde. Se ele já tiver complicações da infecção pelo HIV aí ele é referenciado, ele é encaminhado a unidades especializadas. Mas o paciente que faz um diagnóstico recente, a infecção ainda está estável, ele pode fazer o acompanhamento e tratamento em qualquer unidade básica", completou Dr. Roberto Braz.

Diferença de HIV e Aids

O HIV (human immunodeficiency virus) é o vírus que ataca o sistema imunológico e deixa o organismo sem defesa contra outras infecções, provocando a imunodeficiência humana. Com o avanço da infecção pelo HIV, o sistema imunológico enfraquece, e não consegue mais combater outros agentes infecciosos. 

Quando isso acontece, o paciente é diagnosticado com Aids. Sendo assim, o HIV é o vírus que - se não for tratado - pode provocar a Aids.

Sintomas

Os sintomas da doença são:

Febre

Fraqueza

Mal-estar

Emagrecimento

Diarreia prolongada

Dores e inchaço na região genital

Sapinho

Inchaço nos gânglios

Erupções na pele

Língua branca e úlceras

Transmissão

As formas de contrair a doença são:

Relações sexuais desprotegidas

Compartilhamento de objetos perfurocortantes (seringas, agulhas)

Transfusão de sangue

Amamentação mãe para filho

Prevenção

As formas de evitar a doença são:

Uso de preservativo durante as relações sexuais

Utilização de seringas e agulhas descartáveis

Uso de luvas para manipular feridas e líquidos corporais

Testar sangue e hemoderivados antes de transfusão sanguínea

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