Desde de 2018, a vida de Thaisa Pereira dos Santos, 23 anos, se tornou um inferno. Ela trabalhava como atendente em uma rede de fast-food, localizada dentro de um supermercado da Rua Spipe Calarge, em Campo Grande, quando começou a sofrer bullying.
A jovem conta que, por conta de problemas sérios de saúde do filho, teve que faltar alguns dias no trabalho e começou a ser atacada pelos colegas que atuavam no local.
“Desde quando entrei na loja, meu filho tinha 2 anos, ele tem problema de saúde, intolerante a lactose, descobrimos isso na época, tive que começar a fazer tratamento dele. Ele não podia comer nada com leite, ele vivia doente, pegou pneumonia, levei atestado e a empresa começou a desconfiar. Precisei levar ele para ultrassom e foi aí que tudo começou”, diz atendente.
Thaisa fazia parte de um grupo de WhatsApp e virou alvo de xingamentos e desprezo por faltar para cuidar do filho.
“Vem trabalhar sua vagabunda do c*, piranha, sua cadela desgraçada, seu filho ficou doente de novo, do dia para noite. Você enche a cara e o moleque passa mal sua mentirosa”, disse um dos colegas em um audio enviado no grupo.
A atendente ouviu o áudio e entrou em desespero. “Printei e mandei para o gerente. Ele viu e mandou menino apagar áudio, mas ficou salvo no meu celular. Como tinha meu filho que dependia de mim, engoli, passei borracha por cima e fui trabalhar”.
Novo ataque
A ex-funcionária da rede relembra que enquanto trabalhava, sofreu uma hemorragia e teve que deixar o local de trabalho em uma ambulância do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
“Em agosto de 2018, eu passei mal, tive hemorragia menstrual, sai de Samu de lá, me levaram para uma unidade de saúde, a médica achou que era aborto, como não tinha feito exame, entreguei atestado. Falei com gerente, que iam me afastar, acharam que era aborto, nenhum momento falei que abortei. Não sabia o que era, me afastaram para exame, fiquei cinco dias, fiz exame. Peguei mais cinco dias de atestado, começaram as brincadeirinhas pesadas no grupo de novo”.
Chorando, a mulher relata o novo ataque. “O funcionário pegou e passou ketchup na cadeira, tirou foto e mandou assim: a Thaisa veio aqui e menstruou de novo. Ele pegou a cadeira, pintou e passou papel. Depois ele tirou foto e mandou isso no grupo. Eu tinha passado mal e todo mundo viu, fiquei sentada na praça sangrando nas pernas, era algo vergonhoso e ainda virei motivo de chacota. O gerente chamou a atenção dele sobre o que poderia acontecer diante dessas brincadeiras e ele apagou”, diz a ex-atendente.
Pânico
A jovem atualmente faz tratamento psicológico e diz que tem medo de ser alvo de novos ataques.
“Eu não conseguia colocar a cara para fora de vergonha, não entro mais nos mercados, não consigo trabalhar, estou passando necessidade, eu fico tremendo só de pensar que posso passar por isso de novo. Eu não voltei mais lá, eles mandaram uma carta pelo correio me dando 72 horas para voltar, se não daria abandono de trabalho”.
A jovem ingressou com uma ação na justiça e aguarda decisão. “Eu processei eles, vamos para audiência ainda, só que mesmo processando, buscando justiça para o que fizeram comigo, eu só penso em ficar trancada dentro de casa que é onde estou protegida”.
Rede de Fast food
O Jornal O Vigilante entrou em contato com a empresa, que garante que os funcionários responsáveis pelo ocorrido foram punidos.
“Reforçamos que não compactuamos com a postura relatada, e prezamos pelas mais corretas e respeitosas relações de trabalho entre nossos colaboradores. Esse caso pontual, que aconteceu em um de nossos restaurantes franqueados, foi amplamente investigado para a tomada das medidas cabíveis e, na ocasião, os funcionários envolvidos foram devidamente advertidos e responsabilizados. Esclarecemos que não comentamos casos judiciais em andamento e que, a partir da decisão final estabelecida pela Justiça, acataremos as determinações”, disse em nota a empresa.