O Colégio Antônio Vieira, localizado no bairro do Garcia, em Salvador, foi mais uma vez criticado por adotar livros de autores negros e não católicos. Através das redes sociais, a mãe de um aluno demonstrou revolta ao saber que o livro “Pequeno Manual Antirracista”, da escritora Djamila Ribeiro, está sendo usado nas aulas de religião do 8º ano.
Na postagem, a mulher questionou o fato da filósofa e pesquisadora pertencer ao candomblé. Ela escreveu também que a utilização da obra configura “imposição ideológica” e “doutrinação escancarada”. A mãe afirmou ainda que o colégio usar o nome do Padre Antônio Vieira é um “desrespeito a sua memória”.
Djamila Ribeiro é uma das principais vozes brasileiras em defesa de negros e mulheres e foi a autora que mais vendeu livros no Brasil em 2020, segundo a Amazon. “Pequeno Manual Antirracista” apareceu em primeiro lugar no ranking. Nele, a escritora trata de temas como a negritude, branquitude, cultura, afetos e violência racial, que é considerada crime desde 1989.
O ataque repercutiu na internet e foi comentado pela própria Djamila. “Parabenizo a escola por trabalhar para ampliar a conscientização dos alunos e alunas”, disse.
A autora da obra lembra também que Salvador é a capital com maior população negra no Brasil e defendeu que a mãe do estudante “precisa estudar sobre o contexto social e racial do país”.
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O Colégio Antônio Vieira é de ordem religiosa e um dos mais tradicionais da capital baiana. Em nota enviada à CNN, a instituição disse que é preciso garantir o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil. O livro foi escolhido, segundo o diretor-geral Sérgio Silveira, por reforçar os valores cristãos.
“É justo afirmar que o cristão, por sua vocação, é também convocado a ser antirracista, a sensibilizar-se e a engajar-se no combate e denúncia de todas as formas de racismo, tanto dentro do contexto eclesial quanto na sociedade em geral”, afirma o texto.
Outros casos
Em 2019, na mesma instituição de ensino, o livro alvo de críticas foi “Na Minha Pele”, do ator e diretor Lázaro Ramos. Na época, um publicitário chegou a chamar a obra de “lixo”.
Já em 2023, o livro infantil Amoras, de Emicida, foi alvo de intolerância religiosa praticado pela mãe de um aluno do ensino fundamental da escola. As páginas do livro foram riscadas com indicações de salmos bíblicos, enquanto informações sobre orixás foram indicadas como “fake”.