Há seis meses um Jeep Cherokee de propriedade da Paraná Imobiliária, Consultoria e Construção Civil Ltda está apreendido em uma delegacia de São Paulo (SP) após ser flagrado com um quilo cocaína. Até aí tudo bem, se o caso não envolvesse, direta ou indiretamente, um ex-prefeito de cidade de Mato Grosso do Sul.
O veículo, avaliado em R$ 100 mil, estava em um posto de gasolina, no dia 16 de junho de 2021, quando foi flagrado por policiais civis paulistanos que investigavam uma quadrilha que trafica drogas no interior do estado vizinho.
A empresa proprietária do veículo faz parte do Grupo Paraná, de Costa Rica (MS), de propriedade dos filhos do ex-prefeito do município, Waldeli dos Santos Rosa, que deixou a sociedade em outubro do ano passado e deixou sua parte para os herdeiros.
O motorista, que estava com a filha no momento do flagrante, foi preso e aguarda julgamento por tráfico de drogas. A cocaína, um tijolo de quase um quilo, estava em uma mochila no porta-mala da Cherokee.
De acordo com informações da Polícia Civil de São Paulo, a droga é avaliada em cerca de R$ 25 mil, e o condutor do veículo, Fábio Augusto da Silva Pantano, afirmou ser o proprietário do Jeep Cherokee, mas não apresentou documento que comprovasse a compra ou a transferência do veículo, que estaria em nome da empresa dos filhos do ex-prefeito de Costa Rica. O ex-prefeito tem repassado sua parte do Grupo Paraná aos herdeiros no último ano.
A Polícia Civil de São Paulo informou que trabalhava em uma investigação contra uma quadrilha do interior do Estado que realizava tráfico de drogas. Segundo as investigações, o veículo Jeep Cherokee faria a entrega da cocaína em um posto na capital de São Paulo no dia 16 de junho de 2021.
Os policiais fizeram campana e flagraram Fábio, acompanhado de sua filha adolescente, com a carga da droga dentro de uma mochila no porta-malas da caminhonete. O homem contou que não sabia do conteúdo da mochila e afirmou que estaria apenas levando o objeto a pedido de um amigo, conhecido apenas como “Gil”. Segundo informações, Fábio já morou em Costa Rica e mudou-se para uma cidade do interior de São Paulo.
Com a prisão dele e a apreensão do veículo, começou a saga na Justiça para a liberação da Cherokee.
Fábio disse, a princípio, que o veículo seria de sua propriedade. Depois, mudou a versão e colocou sua ex-esposa, Marcia Aparecida Pereira da Silva, como a nova proprietária do carro, desvinculando o nome do ex-prefeito de Costa Rica ao caso de tráfico de drogas. Segundo a defesa de ambos, a mulher, que se declara cabeleireira autônoma, comprou o veículo, dos filhos de Waldeli, dias antes do fato.
O MPE/SP (Ministério Público do Estado) consultou, em outubro, junto ao Detran/MS, que não houve nenhuma comunicação de venda do veículo no período.
No entanto, Waldeli mostrou - após contado da reportagem - cópia do comunicado de venda conforme imagem abaixo:
A venda de Waldeli para a esposa do traficante, porém, não é reconhecida pelo Ministério Público Paulista.
Requer-se, outrossim, seja decretado o perdimento definitivo do veículo Jeep/Cherokee, modelo 2014, cor azul, placas OON2B04, de Costa Rica/MS (cf. auto de depósito – fl.17), nos termos do artigo 63 da Lei n° 11.343/2006. Embora tenha sido apresentado suposto documento de transferência em favor da companheira do réu (fls.107/108), está cabalmente demonstrado que era ele quem possuía o automóvel que também utilizou como instrumento do narcotráfico - trecho do parecer do MP/SP
Em resumo, o Ministério Público paulista não reconhece a venda do veículo do grupo Paraná - dos filhos de Waldeli - para a esposa do traficante. A defesa do ex-prefeito inclusive luta que o veículo volte para Márcia, logo, para o grupo dos filhos do ex-prefeito.
Mas a pergunta que fica é:o traficante comprou o carro do Grupo Paraná, dos parentes do ex-prefeito, e não transferiu?
Se sim, o Grupo reconhece que deve perder o veículo, o que tenta não fazer, já que luta pela Cherokee
Se não venderam, qual o motivo do carro estar com o traficante?
Veja o documento completo com o parecer do MP/SP:
MAIS WALDELI
Waldeli destaca que o documento foi autenticado apresentado à reportagem no dia da venda em 2 de junho. Já o comunicado no site oficial do Detran/MS foi feito posteriormente, o que, segundo ele, vem sido usado por adversários políticos.
A defesa de Marcia e Fabio pedem à Justiça de São Paulo a liberação do veículo ou o depósito do valor para o pagamento pela suposta compra, que teria sido realizada em modalidade de financiamento diretamente com os filhos do ex-prefeito.
O MPE, por sua vez, requer o perdimento definitivo do veículo Jeep Cherokee. Fábio continua preso em presídio de São Bernardo do Campo.