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Quarta, 09 de abril de 2025

Entenda por que os peixes tem atacado banhistas em Bonito (MS)

Casos de mordida de peixes vêm sendo registrados em lagoa artificial de atrativo turístico do município. Entre as espécies que atacaram banhistas está o tambaqui, que não é característico da região.

03 de abr 2025 - 10h:59 Créditos: G1
Crédito: Divulgação

O Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) interditou um balneário em Bonito após ocorrências de ataques de peixes a banhistas, na última semana. Conforme apurado, somente neste ano foram registrados 30 casos no local. No ano passado, foram 64 ataques do tipo. 

Os registros ocorreram em uma lagoa artificial do atrativo onde são encontradas, sobretudo, espécies como o tambaqui (Colossoma macropomum). Entre as vítimas, está um homem que pediu para não ser identificado. Ele relatou que foi atacado em 2023 e levou oito pontos em um dedo da mão.

Tambaqui (Colossoma macropomum). Espécie ocorre na bacia Amazônica. — Foto: Reprodução/Brian Gratwicke
Tambaqui (Colossoma macropomum). Espécie ocorre na bacia Amazônica. — Foto: Reprodução/Brian Gratwicke


Segundo o biólogo e professor visitante da Universidade de Campinas (Unicamp), José Sabino, que atua na região de Bonito, a espécie não tem ocorrência na bacia do Alto Paraguai, que abrange os rios da região, e é encontrada em áreas de planície da bacia Amazônica.

“O tambaqui é um peixe amazônico e se assemelha ao pacu. Mas, ele tem uma dentição muito robusta, com dentes que lembram nossos molares. Ele ocorre em locais de floresta inundada e se alimenta de frutos mais duros e castanhas”, explica o professor.

O fato de consumir alimentos mais duros, conforme Sabino, faz com que a mordida do tambaqui tenha força, o que pode causar ferimentos graves em humanos.

“Por se alimentarem de frutos, os tambaquis e outros peixes também, ficam sempre atentos a qualquer movimento dentro d´’gua, podendo se confundir e, ocorrendo então a mordida em banhistas”, continua Sabino.

Introdução de espécies exóticas

A introdução de espécies exóticas em ecossistemas diferentes dos naturais, ou seja, onde não há ocorrências dessas espécies, é considerada crime ambiental no Brasil.

De acordo com o professor José Sabino, o deslocamento intencional de espécies para outros habitats é um dos vetores da destruição da biodiversidade no planeta.

“Você tem a destruição de habitats, você tem a poluição, o tráfico de animais e a poluição que impactam a biodiversidade. O outro vetor é a introdução de espécies exóticas. Quando você introduz, você não está garantindo que aquela espécie vá se estabelecer”, afirma o professor.

No caso específico do atrativo interditado, o professor acredita que houve certo despreparo ao se introduzir a espécie na lagoa artificial. Ele defende que é preciso fazer um diagnóstico do problema para mitigar o impacto.

“Uma sugestão é que os peixes sejam retirados do local, porque não adianta por uma tela ali [para evitar que os peixes voltem para a área dos banhistas], porque daqui a pouco tiram a tela ou os turistas pulam a cerca para olhar os peixes mais de perto. Ambientalmente correto, é retirá-los”, finaliza Sabino.

Liberação do órgão ambiental

Após o registro das ocorrências de ataques aos visitantes do atrativo, o Imasul suspendeu, em uma primeira determinação, o funcionamento total do local, no dia 26 do mês passado. Três dias depois, parte das atividades foram liberadas, mas a lagoa onde os incidentes ocorreram permanece interditada. O atrativo tenta reverter a decisão.

Para o professor, além da responsabilidade do empreendimento em relação aos ataques, é preciso indagar, também, como o órgão ambiental autorizou o funcionamento do local e a introdução da espécie na lagoa.

“Como é que licencia um passeio com uma espécie exótica, no sentido de ser translocada entre bacias? Isso é proibido por lei”, questiona.

A reportagem entrou em contato com o Imasul e não obteve retorno.

Banhista foi mordido por peixe em atrativo de Bonito em 2023. — Foto: Arquivo pessoal
Banhista foi mordido por peixe em atrativo de Bonito. — Foto: Arquivo pessoal




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