O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPE-MS), diante as provas colhidas no inquérito policial da Delegacia Especializada de Repressão à Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros (Garras), ofereceu denúncia contra o conselheiro do Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul (TCE-MS) e ex-presidente da Assembleia Legislativa do estado, Jerson Domingos.
Segundo o documento, ele é investigado desde o dia 3 de maio de 2019, quando o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) instaurou procedimento para apurar a prática dos crimes de organização criminosa e porte ilegal de arma de fogo, entre outros possíveis delitos.
No decorrer das buscas, foi descoberto que homicídios ocorridos em Campo Grande tinham características de serem cometidos por organizações criminosas, com "participação de agentes, ocupando mais de um veículo, em nítida divisão de tarefas e utilização de armas de grosso calibre (fuzil)".
De fato, a investigação apontou a morte de Ilson Martins Figueiredo, Orlando da Silva e Matheus Coutinho Xavier, todos atingidos por disparos de fuzil 762, que é uma arma de guerra. Os fatos também já vinham sendo apurados desde o mês de abril pelo Garras e então se constatou a organização criminosa que tinha finalidade de cometer assassinatos pelas "mais variadas motivações, desde questões financeiras até inimizades pessoais dos denunciados com Jamil Name e Jamil Name Filho".
Ao elaborar o relatório contra os envolvidos, a inteligência da Polícia Civil inclusive destacou a periculosidade e os qualificou como "'maior e mais duradoura e estruturada milícia de Mato Grosso do Sul, chefiada pelo então "empresário" Jamil Name e seu filho Jamil Name Filho, vulgo "Jamilzinho".
Em setembro do ano anterior, a operação Omertá foi deflagrada pelo Garras e demais forças policiais, com a intenção de esclarecer os crimes de posse/porte de arsenal de guerra, obstrução à justiça, organização criminosa, constituição de milícia armada, corrupção passiva/ativa, tráfico de armas de fogo, extorsão, homicídio qualificado e outros crimes.
No dia 21 de fevereiro deste ano, ainda apurando os crimes, a polícia soube que a organização criminosa colocou em prática, mesmo de dentro de regime fechado em outro estado, o plano de assassinar um promotor de Justiça do Gaeco e um delegado do Garras. É neste momento que Jerson Domingos entraria no plano, com o fornecimento de "armas de fogo e toda a logística operacional para as execuções dos agentes públicos mencionados".
No dia 17 de março, a segunda fase da operação Omertá foi deflagrada. Na ocasião, 18 mandados de busca e apreensão e um depósito ilegal de armas e munições foi flagrado na casa de Jerson.
O advogado dele, André Borges, disse ao G1 que Jerson Domingos está "muito tranquilo quando a este processo e irá se defender brevemente, oportunidade em que pedirá a absolvição, porque estava na posse de poucas armas de fogo, com a única finalizada de sua defesa própria e da propriedade rural, nada mais do que isto".