Em tempos de insegurança, medo e cenário de guerra em todo o País – e no mundo – com a Pandemia do novo coronavírus, o Mato Grosso do Sul mostra que a solidariedade e a consciência social podem vir de onde menos se espera. Atentos à alta demanda dos chamados EPIs – Equipamentos de Proteção Individual – que ajudam na proteção contra o Covid – 19, presos da capital e de outras onze cidades do interior estão fabricando materiais de higiene, álcool 70%, hipoclorito de sódio, além de máscaras, gorros e capotes.
Há 19 anos cumprindo pena, André é um dos voluntários no setor de costura, onde se produz máscaras, capotes e toucas. Alarmado com a Pandemia, ele diz que se sente importante com fazer parte desta ação. “Trabalho sábados, domingos, o tempo que for necessário para ajudar as pessoas lá fora”, afirma.
Em uma semana, apenas nas unidades prisionais de Campo Grande, foram produzidos cerca de 600 litros de hipoclorito de sódio, 1.560 máscaras e 270 litros de sabão liquido. No interior já foram produzidas 3.251 máscaras, tudo feito dentro das normas sanitárias e acompanhamento de técnicos da Universidade Federal do MS. A meta é que sejam produzidas, diariamente, cerca de três mil máscaras de TNT, nos estabelecimentos de todo o Estado.
A ação é fruto do termo de cooperação mútua assinado entre a Agepen, Associação dos Magistrados de Mato Grosso do Sul (Amamsul), Associação Sul-Mato-Grossense do Ministério Público (ASMMP) e o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS). A eficiência do projeto já chamou a atenção de outros três estados da Federação (São Paulo, Santa Catarina e Rondônia) que pretendem adotar o mesmo modelo de cooperação.
Por aqui, a ação também conta com apoio essencial da 2ª Vara de Execução Penal de Campo Grande, e Central de Execução de Penas Alternativas (CEPA), representadas pelo juiz Albino Coimbra Neto, que destinou recursos para aquisição de materiais. No interior, as prefeituras municipais colaboram com doação de insumos e equipamentos como máquinas de costuras.
Por enquanto, a produção está voltada para a demanda interna, ou seja, profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à pandemia, agentes, bombeiros, policiais e a população carcerária do Estado. Vale ressaltar que nenhum dos 19.500 detentos de todo o Estado apresentou sinais do Covid 19.
Segundo a médica infectologista e integrante do Comitê de Operações de Emergência (COE) da SES, doutora Mariana Croda, que realiza a monitoração técnica do trabalho, além de ajudar a situação atual os EPIs serão vitais nos próximos dias. “Eles vão abastecer os hospitais e ainda poupar os equipamentos que existem para os profissionais que estão na linha de frente no atendimento”, ressalta.
No Estabelecimento Penal “Jair Ferreira de Carvalho” (Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande) a produção de hipoclorito de sódio e sabão liquido é feita por 18 internos, sob a supervisão do químico, o agente Osmar Nunes de Freitas. O grupo de trabalhadores foi selecionado de acordo com as habilidades e experiência de cada um, além do bom comportamento. Muitos aprenderam a costurar dentro da Instituição, através dos diversos cursos oferecidos.
O diretor da unidade, Mauro Augusto Ferrari de Araújo destaca que todos eles têm a plena consciência da importância do trabalho desenvolvido. “Eles se sentem satisfeitos em poder ajudar a população”, conta. Além de contribuir para a ressocialização do preso e atender uma demanda de mercado, a iniciativa beneficia toda a sociedade.
“É um processo que dá perspectiva, esperança, oportunidades e autoestima a essas pessoas, até para evitar casos de reincidência, Diretora de Assistência Penitenciária da Agepen, Elaine Arima Xavier Castro, salientando que nesse momento tão delicado, esse público acaba se sentindo importante para a sociedade. E claro toda ajuda é sempre muito bem-vinda.