O Pantanal vive umas das piores crises hídricas dos últimos anos, segundo informações divulgadas pelo WWF-Brasil, nesta quarta-feira (3). Conforme o estudo, 14 municípios pantaneiros, apresentaram redução da superfície de água em 2024, em comparação ao ano passado.
De acordo com o levantamento, a média de área coberta por água no Bioma durante o período de cheia em 2024 foi menor que a do período de seca do ano passado. Ou seja, entre janeiro e abril de 2024, a média da área coberta por água foi de apenas 400 mil hectares, em pleno período de cheias, abaixo da média de 440 mil hectares registrada na estação seca de 2023.
Segundo a geógrafa Mariana Dias, analista de geoprocessamento na ArcPlan, 2018 foi o último ano com uma grande cheia no Pantanal.“Na década de 80, o Pantanal teve um período mais cheio, com áreas maiores ficando alagadas por mais tempo. O que estamos observando agora é que a área alagada nas cheias é cada vez menor. Então temos mais áreas ficando secas, com as áreas alagadas ficando úmidas por menos tempo. Tudo isso gera instabilidades no ecossistema”, comenta Mariana.
Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil, esclarece que nos cinco primeiros meses de 2024 o nível do Rio Paraguai, principal bacia do Pantanal, esteve 68% abaixo do esperado. “De forma geral, considera-se que há uma seca quando o nível do Rio Paraguai está abaixo de quatro metros. Em 2024, essa medida não passou de um metro. O nível do Rio Paraguai nos cinco primeiros meses deste ano esteve, em média, 68% abaixo da média esperada para o período”, afirma.
O levantamento foi encomendado pelo WWF-Brasil e realizado pela empresa especializada ArcPlan, com financiamento do WWF-Japão. Ele verifica as informações obtidas por satélite. “Ao analisar os dados, observamos que o pulso de cheias não aconteceu em 2024. Mesmo nos meses em que é esperado esse transbordamento, tão importante para a manutenção do sistema pantaneiro, ele não ocorreu”, ressalta Helga.
Maior perda de água
Corumbá, que é o maior município do bioma, com uma área de 6,5 milhões de hectares, é também o que mais perdeu superfície de água em 2024, em comparação a 2021, segundo o estudo: uma redução de cerca de 20,4 mil hectares. Em segundo lugar em perda de superfície de água, Poconé teve uma redução de pouco mais de 18.205 hectares.
“Corumbá ocupa cerca de 60% do bioma, por isso os dados do município são também uma espécie de resumo do que está ocorrendo no Pantanal. Mas em quase todos os municípios, 2024 pode ser um ano mais seco do que 2021, o mais seco da série analisada no estudo”, comenta Mariana.
Concessionária faz alerta e pede uso consciente de água em MS
Em meio a uma crise hídrica sem precedentes no estado, a Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul (Sanesul) fez um alerta às autoridades públicas e à população sobre a necessidade de adotar medidas urgentes quanto ao consumo consciente de água na região do Pantanal.
A concessionária atende 68 municípios do estado e informou que a preocupação atual é com os rios que estão com níveis abaixo do ideal. São eles: Miranda, Aquidauana, Taquarussu e Paraguai, rios que abastecem os municípios de Miranda, Ladário, Corumbá, Aquidauana e Anastácio.
A empresa confirma que ligou um sinal de alerta com relação ao abastecimento de aproximadamente 180 mil clientes ativos nessas cidades, pois, conforme aponta o monitoramento, os rios estão perdendo nível a cada dia.
Peixes agonizam em meio à seca em baía inundável
Em meio à seca e ao fogo que atingem o Pantanal de Mato Grosso do Sul, uma baía inundável próxima ao rio Paraguai, principal bacia do bioma, se transformou em um imenso lamaçal, onde centenas de peixes morreram agonizando (veja o vídeo acima).
As imagens foram feitas pela pesquisadora da ONG Ecoa, Edilaine Arruda. O local onde o registro foi feito é uma área inundável no Porto Amolar, na região de Corumbá (MS), que secou. No vídeo, é possível ver centenas de peixes agonizando.
Novos dados científicos revelaram que o Pantanal, a maior planície alagada do mundo, tem se tornado um ambiente cada vez mais seco, um cenário propício para a propagação de focos de incêndio.