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Segunda, 23 de dezembro de 2024

Estado chega a 27 feminicídios, maior índice desde criação da lei

Tipologia do crime foi instituída em 2015; desde então, mortes de mulheres por companheiros ou no ambiente familiar têm essa classificação

04 de ago 2022 - 10h:54 Créditos: Correio do Estado
Crédito: Correio do Estado

Mato Grosso do Sul chegou ontem a 27 casos de feminicídio desde o dia 1º de janeiro. Esse número é o maior já registrado no Estado desde que a Lei nº 13.104/2015, que tipificou o crime, entrou em vigor, no dia 9 de março de 2015. A última vítima, a segunda nesta semana, é de Amambai.

Segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), no ano passado, ocorreram 24 feminicídios de janeiro até o fim de agosto, número que já foi superado este ano antes mesmo de o mês terminar.

O aumento também é registrado em Campo Grande, já que a cidade acumula oito vítimas antes do fim do oitavo mês do ano, também o maior índice desde a criação da lei.

No caso mais recente, de acordo com a polícia, o crime ocorreu no fim da tarde de terça-feira, na Aldeia Amambai, localizada a 351 quilômetros de Campo Grande. Rosa Rodrigues, de 29 anos, foi morta por estrangulamento pelo marido, Reinaldo Rodrigues Arce, de 30 anos.  

Conforme o boletim de ocorrência, três testemunhas relataram que Reinaldo teria entrado com Rosa na residência, mas que, pouco depois, o homem teria saído desacompanhado, afirmando que Rosa havia se enforcado.  

A perícia da Polícia Civil, por meio do Setor de Investigação Geral (SIG), no entanto, constatou que não se tratava de suicídio, e sim de homicídio. A investigação concluiu, então, que foi Reinaldo quem cometeu o crime. Ele foi preso.

Este é o segundo caso de feminicídio registrado esta semana, o anterior foi descoberto na segunda-feira, quando a polícia encontrou o corpo de Luciana de Carvalho, 45 anos, que foi morta a facadas pelo companheiro, Inácio Pereira, 47 anos, e deixada por quatro dias no chão da cozinha da casa onde eles residiam.

A mulher teria sido morta no dia 28 de julho com uma faca de cozinha, que o companheiro jogou na pia após o crime. O corpo permaneceu no local onde caiu até que vizinhos, incomodados com o mau cheiro do local, no Bairro Sílvia Regina, chamaram o dono da residência. Este, constatando o odor muito forte que vinha da casa, decidiu chamar a polícia.

O casal tinha uma relação conturbada, e, em fevereiro deste ano, a vítima havia registrado um boletim de ocorrência contra o agressor por injúria e vias de fato. Por causa disso, ela chegou a receber uma medida protetiva contra Inácio.

Em julho, foi a vez de Inácio registrar um boletim de ocorrência contra a mulher, por injúria, chegando a mencionar as agressões. Entretanto, tempo depois eles voltaram a morar juntos.

PSICOLOGIA

Dados da pesquisa de opinião Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher – 2021, realizada pelo Instituto DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, mostraram que 86% das mulheres brasileiras perceberam um aumento na violência cometida contra pessoas do sexo feminino durante o último ano.

Conforme a psicóloga Izabelli Coleone, para entender as agressões, é importante saber também o contexto de criação e de vida em que os agressores viveram e se formaram como pessoa.

“[Precisamos saber] Como que foi constituído o ambiente familiar [do agressor], como foi feita essa passagem de como tratar uma mulher, de como aceitar a postura dela ou o que ela quer fazer, as decisões dela. Como foi lidado com esse homem os momentos que ele sentiu raiva, que ele quis expressar esse ódio”, explicou.

Para ela, o aumento pode ter relação ao entendimento da mulher de sua liberdade e como isto é visto por alguns homens. 

“A partir de quando a lei surgiu, nós [mulheres] criamos uma força para nos defender e acreditar que também tem pessoas lutando pelo nosso direito, e isso inclui o ato de a gente dizer não e dar opinião, fazendo com que a gente crie nosso espaço, mas é o quesito criar espaço que muitas vezes não é aceito pelo sexo oposto”, disse.

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