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Quinta, 21 de novembro de 2024

Setembro Amarelo 2020

Reflexões a cerca da sociedade suicida atual.

04 de set 2020 - 18h:49 Créditos: Filipe Boechat é doutor em Psicologia pela UFRJ
Crédito: Google

Desde 2015, foi instituído o "Setembro Amarelo" em nosso país, como o mês de prevenção ao suicídio, sendo dia 10, Dia Nacional de Prevenção ao Suicídio, uma campanha para discussão e prevenção. A cor amarela teve origem quando Mike Emme, adolescente de 17 anos, suicidou-se em 1994. No velório, seus pais fizeram uma cesta e os amigos dele colocaram 500 cartões e fitas amarelas (cor do carro Mustang que o adolescente restaurou e amava), com a mensagem: "Se precisar, peça ajuda".

Em pouco tempo, espalhou-se pelos Estados Unidos e ficou como símbolo da campanha. No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV), organização sem fins lucrativos, destina-se a dar apoio emocional e prevenir o suicídio, basta ligar para o número 188. É necessário prestar atenção a alguns sinais. A depressão é fator de alerta, assim como histórico familiar de suicídio, isolamento, solidão (idosos), etc.

Mas, se por um lado, o Setembro Amarelo tem sido bem sucedido no sentido de provocar alguma fissura no individualismo, sensibilizando para os sinais de desesperança de quem está deprimido, e estimulando o suporte familiar e social; por outro, o Ministério da Saúde promete o que não pode cumprir. Afinal, a Emenda Constitucional 95, assinada pelo governo golpista do Michel Temer em 2016, impede o financiamento em políticas sociais, dentre elas que a saúde cresça junto às demandas da população.

Por isso, se solidarizar a essa campanha vai muito além de usar fitinha amarela, consiste em defender políticas públicas capazes de dar esperança ao povo. O desafio para os anos que se seguem compreende também nos fazer representar por quem investe efetivamente na manutenção da vida.

O capitalismo não inventou o suicídio, mas é visível o enorme potencial que possui para lançar os indivíduos à beira do abismo.

Não é difícil entender o porquê. Afinal, todos nós que vivemos do nosso trabalho estamos cotidianamente submetidos à exploração, às opressões de gênero, raça, etnia e sexualidade. Vivendo em condições de enorme desigualdade, "para a glória e bem-aventurança dos nossos patrões", somos presas fáceis da depressão, do desespero e da descrença.

Para piorar esse quadro, o momento que o país atravessa não é dos melhores. O conservadorismo cresce vertiginosamente e produz aberrações como as “viúvas da ditadura”, vestidas de verde e amarelo nas principais avenidas do país. Na mesma onda, os neofascistas saem do armário, junto com monarquistas reivindicando a volta do Império, do fraque e da cartola.

No momento em que assistimos à sangria das políticas públicas, à retirada de direitos trabalhistas e à escalada do conservadorismo, não é de admirar que o suicídio apareça como solução para tanta gente.

No entanto, em momentos difíceis como esse, precisamos resistir. Porque se é verdade que a sociedade capitalista é uma sociedade suicida, é porque ela produz os seus coveiros. Nós, que somos a maioria, precisamos resistir justamente para que estejamos de pé no dia em que essa forma desumana de vida der seu último suspiro, e para lançarmos sobre ela a derradeira pá de cal.


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