
Pela 2ª vez a Justiça decretou a falência e determinou o encerramento das atividades do Grupo Bigolin, fundado há mais de 35 anos e um dos ícones da construção civil em Mato Grosso do Sul. Diante de dívida superior a R$ 116,3 milhões, a empresa tinha apenas R$ 1,5 mil em caixa e R$ 742 em contas bancárias. Além de não dispor de patrimônio para garantir o pagamento dos débitos milionários, os sócios ainda correm risco de ter a prisão preventiva decretada por fraude.
O colapso do grupo começou há oito anos com um plano ousado de ampliar as vendas e surfar na onda do programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo federal, que tinha a meta de construir 2 milhões de moradias no País. “No ano de 2013, o Grupo Bigolin investiu pesado em merchandising para atrair a clientela e fazer frente aos novos concorrentes. Contudo, em que pesem as grandes esperanças de crescimento, o que se viu, na prática, foi um imenso mercado aguerrido, obrigando a baixar os preços e achatar as margens”, pontuou o juiz José Henrique Neiva de Carvalho e Silva, da Vara de Falências, Insolvências e Recuperações.
Diante da crise, os sócios decidiram dividir o grupo em dois, sendo que a parte do Centro-Oeste englobava os estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, enquanto a Sul ficaria com as lojas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande. A cisão foi sacramentada no início de 2015.
No ano seguinte, sem condições de honrar os compromissos, o grupo pediu recuperação judicial e informou dívida de R$ 54,780 milhões. A recuperação judicial se transformou em outra novela.
Os sócios elevaram a dívida para R$ 88 milhões, não cumpriram as obrigações do plano de recuperação e ainda se apropriaram dos lucros. Em março de 2019, o juiz José Henrique Neiva decretou a falência do grupo pela primeira vez. A empresa recorreu e o Tribunal de Justiça suspendeu a falência, dando uma nova chance.
Respaldados pelo desembargador Vilson Bertelli, do TJMS, que suspendeu a falência, os sócios não mudaram a conduta. Conforme a Pradebomn & Cury Advogados Associados, a Bigolin sonegou informações e só pagou a indenização de 11 dos 170 trabalhadores demitidos.
Os empresários nunca teriam procurado a União para negociar ou parcelar os débitos federais. Justiça decretou a falência e determinou o encerramento das atividades do Grupo Bigolin. Sem atualizar a dívida declarada com os demais credores em 2016, o valor estava em R$ 54,7 milhões.
Além de decretar a falência e o bloqueio dos bens e contas bancárias, o juiz determinou o levantamento de todos os bens para levar a leilão em 60 dias. No entanto, a justiça encontrou apenas R$ 742 depositado em uma conta do Banco do Brasil na busca de R$ 54,7 milhões para honrar os credores. As demais contas estavam zeradas. Em caixa das duas lojas na Capital e em Três Lagoas, o administrador judicial encontrou apenas R$ 1,5 mil.
O juiz ainda alertou que poderá decretar a prisão preventiva dos donos da Bigolin com base na Lei de Recuperação Judicial e Falência em vigor desde 2005. A detenção é prevista no caso de fraude.
Fonte:O Jacaré.