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Sábado, 28 de setembro de 2024

Paralimpíada começou com arquibancadas vazias

Mas com um palco maior desta vez

04 de set 2021 - 10h:45 Créditos: DAIANE SCHUINDT
Crédito: Assessoria

Depois que a pandemia do coronavírus impediu seu acesso a uma piscina, uma nadadora paralímpica acabou treinando na água fria do Rio Arkansas durante algum tempo. Outra pegou emprestado um banco de treinamento para natação, montou-o em sua garagem no estado de Minnesota e simulou as braçadas usando um sistema de roldanas para simular a resistência. Foi a imitação mais próxima que ela conseguiu obter da experiência de remar na água. E em Cardiff, no País de Gales, um campeão de arremesso de peso improvisou amarrando uma rede de carga entre as macieiras e as pereiras para praticar o esporte com segurança no quintal de sua nova casa.

Hannah Aspden, à esquerda, treina na Base Aérea de Yokota, em Fussa, no Japão, em 18 de agosto de 2021, durante os Jogos Paralímpicos de 2021. (Chang W. Lee/The New York Times)

© Distributed by The New York Times Licensing Group Hannah Aspden, à esquerda, treina na Base Aérea de Yokota, em Fussa, no Japão, em 18 de agosto de 2021, durante os Jogos Paralímpicos de 2021. (Chang W. Lee/The New York Times)

O símbolo da Paralimpíada é aceso durante os Jogos Paralímpicos em Tóquio, em 22 de agosto de 2021. (Chang W. Lee/The New York Times)

© Distributed by The New York Times Licensing Group O símbolo da Paralimpíada é aceso durante os Jogos Paralímpicos em Tóquio, em 22 de agosto de 2021. (Chang W. Lee/The New York Times)

Meses depois, esses três atletas – Sophia Herzog, Mallory Weggemann e Aled Sion Davies – juntaram-se a cerca de 4.400 outros competidores em Tóquio para a 16ª edição dos Jogos Paralímpicos de verão, que começou em 24 de agosto. Como os milhares de atletas olímpicos que competiram aqui semanas atrás, os paralímpicos vão entrar em campos, quadras e pistas com um ano de atraso, sem espectadores e sob a ameaça de contágio que, a julgar pela audiência da televisão, ofuscou tantos outros grandes eventos esportivos no último ano e meio.

As Paralimpíadas, entretanto, podem ser o raro espetáculo atlético que atinge níveis consideravelmente mais altos de envolvimento durante a pandemia, acelerando-o de uma forma que os esportes da velha guarda não conseguem. Aliada à democratização cultural moldada pelas redes sociais, uma inquietação gerada por múltiplos bloqueios amplificou uma mudança nos valores e gostos, especialmente entre os jovens, que enfatiza os negligenciados e desvalorizados.

Darlene Hunter, jogadora de basquete em cadeira de rodas dos Estados Unidos, que dá aulas sobre questões relacionadas à deficiência na Universidade do Texas, em Arlington, disse recentemente que nos cinco anos desde as últimas Paralimpíadas de verão, no Rio de Janeiro, viu um interesse crescente pelos Jogos e uma melhor compreensão deles. No passado, ela rotineiramente tinha de explicar o que significavam os Jogos Paralímpicos e a medalha de ouro de sua equipe em 2016. "As pessoas sabem o que é agora. Estão falando disso. Estão ouvindo como nunca antes", comentou Hunter enquanto se preparava para sua terceira participação nos Jogos.

Mudanças significativas nos últimos cinco anos incluem a paridade no prêmio em dinheiro para os medalhistas paralímpicos dos EUA, que costumavam receber um quinto do que seus colegas olímpicos recebiam (US$ 37.500 pela medalha de ouro, US$ 22.500 pela de prata e US$ 15.000 pela de bronze) e uma expansão da cobertura pela televisão e pelos serviços de streaming. Essa disponibilidade foi estimulada até certo ponto pela decisão do Comitê Paralímpico Internacional de renunciar às suas taxas dos direitos de transmissão em dezenas de países da África Subsaariana e de ajudar as emissoras locais a cobrir o evento.

A NBCUniversal, rede olímpica e paralímpica de longa data dos Estados Unidos, comprometeu-se a 1.200 horas de cobertura em seus canais de televisão e suas plataformas de streaming, depois de ter apresentado apenas 70 horas do evento no Brasil em 2016 e cinco horas e meia dos Jogos de Londres em 2012. A programação inclui a primeira cobertura em horário nobre dos Jogos Paralímpicos no canal principal da NBC, quatro horas distribuídas em três programas de destaque.

O padrão a ser superado pela Paralimpíada de Tóquio é a Paralimpíada de Londres em 2012. Os atletas falam até hoje da multidão bem-informada, bem como do espírito daquele encontro, alimentado em parte pela história do Reino Unido de ser o berço dos esportes adaptados e da cobertura frequentemente atrevida do Canal 4, que superou a oferta da BBC pelos direitos da competição.

No último dia da Olimpíada de Londres, a suposta atração principal daquele verão, o Canal 4 colocou outdoors pela cidade para promover os Jogos Paralímpicos. "Obrigado pelo aquecimento", diziam os anúncios.

Na época, as pessoas com deficiência constituíam cerca de 50 por cento da equipe de cobertura do canal. Para os Jogos de Tóquio, a proporção para o Canal 4 é estimada em pouco mais de 70 por cento. Craig Spence, chefe de comunicações do Comitê Paralímpico Internacional, afirmou: "Foi uma revolução na televisão britânica. Antes da cobertura de Londres 2012, não víamos realmente pessoas com deficiência em programas de TV ou apresentando programas de atualidade. Agora vemos. Todas as outras emissoras no Reino Unido perceberam que o Canal 4 estava no caminho certo."

Esse tipo de aceitação nem sempre fez parte da história das Paralimpíadas, principalmente quando a União Soviética se recusou a sediar os jogos paralelos aos Jogos Olímpicos de Verão de Moscou em 1980, supostamente depois de um alto funcionário russo ter afirmado que não havia inválidos no país. Os Jogos Paralímpicos foram transferidos para a Holanda naquele ano. Agora, há um filme premiado sobre eles.

"Rising Phoenix", documentário da Netflix centrado em nove atletas paralímpicos de 2016, foi produzido por Greg Nugent, diretor de marketing da Paralimpíada de Londres, e Tatyana McFadden, que participou de seis Paralimpíadas pelos EUA e que também é uma das estrelas do filme.

Nugent disse que fez o filme em parte na esperança de fazer as Paralimpíadas parecerem indispensáveis, e não como um evento que poderia ser bem-sucedido em uma cidade, apenas para vacilar quatro anos depois na próxima. "Eu queria tornar moralmente impossível para qualquer futuro comitê organizador fazer um julgamento básico de que uma Paralimpíada seria menor do que uma Olimpíada."

O símbolo da Paralimpíada é aceso durante os Jogos Paralímpicos em Tóquio, em 22 de agosto de 2021. (Chang W. Lee/The New York Times) widget de imagem

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