O conflito entre Rússia e Ucrânia reascendeu o temor de um confronto envolvendo arsenais nucleares. Com poucos dias de guerra no leste da Europa, o presidente russo, Vladimir Putin, colocou as equipes de defesa nuclear em alerta, temendo uma retaliação dos países ocidentais.
A Rússia, país com o maior arsenal nuclear do mundo — possui 6.257 ogivas nucleares contra 5.500 dos EUA —, chegou a afirmar que a Ucrânia tinha um programa para desenvolvimento de bombas atômicas mais evoluído que o do Irã ou da Coreia do Norte. A denúncia dos russos também aponta para o conhecimento dos Estados Unidos sobre os planos ucranianos.
Um grupo de especialistas entrevistado pelo R7 não descarta que as armas com tecnologia nuclear sejam usadas no futuro, já que na Segunda Guerra Mundial duas bombas atômicas foram jogadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.
“Nunca é demais lembrar que os Estados Unidos são o único país a usar bombas nucleares em um conflito. Nós temos um precedente, sim. No final da Segunda Guerra Mundial, as bombas norte-americanas foram jogadas em cima de população civil”, relembra o professor James Onnig da Facamp (Faculdades de Campinas).
O economista e doutor em relações internacionais Igor Lucena explicou que a forma como o conflito entre Rússia e Ucrânia escalonou pode reservar um futuro atômico, caso a guerra entre os dois países não alcance um cessar-fogo em breve.
“Se fosse há um mês, eu nunca estaria falando sobra a utilização de um arsenal atômico. [...] O que imagino hoje, de uma maneira bem pragmática, é a possibilidade de um lançamento nuclear de aviso ou de advertência”.
Especialista em Rússia, o historiador Rodrigo Ianhez afirma que é “evidente” que a utilização do arsenal nuclear mundial seja possível, na medida em que as potências militares não encontrem uma forma diplomática de resolver suas questões.
“É claro que é possível que o arsenal nuclear, que não apenas Estados Unidos e Rússia possuem, [...] seja utilizado. Estamos em um momento que a situação está ganhando um caráter tenso e evidente que as chances disso ocorrer aumentam”.
Para a professora de Relações Internacionais da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Miriam Saraiva é importante destacar que nem todas as armas com tecnologia nuclear são bombas atômicas, como as utilizadas sobre o céu japonês na década de 1940.
“As armas nucleares têm muitas categorias, digamos. Desde mísseis fortíssimos balísticos que um joga contra o outro, até armas nucleares menores, se assim podemos dizer. Desde o submarino com propulsão nuclear, que não é uma arma, mas é movido à energia nuclear, até armas nucleares pequenas, localizadas.”
Manifestantes protestam contra bombas atômicas usando máscaras de líderes mundiais
OMAR MESSINGER / EFE-EPA - 1.8.2019
Diferentemente da destruição em massa que se pensa ao falar em arma nuclear, os especialistas entendem que não há espaço para esse tipo de ação hoje. Quando os Estados Unidos usaram a bomba atômica na Segunda Guerra Mundial, nenhuma outra potencia militar possuía tal tecnologia.
Atualmente, grandes potências mundiais têm acesso a um arsenal nuclear de alto impacto, como França, Reino Unido e a própria Rússia. Desta forma, a utilização de uma bomba atômica pode significar, basicamente, a autodestruição das nações envolvidas.
“[As grandes potências] podem fazer isso, de fato seria trágico e não há nada que impeça que elas façam em algum momento no futuro. Creio eu que não será um contra o outro, pois possuem as grandes armas nucleares e podem usar um contra o outro”, conta Saraiva.
“Hoje eu não acho que estamos vendo um arsenal atômico russo e americano sendo utilizado da maneira hollywoodiana, de que eles encontrariam um local, explodiriam uma bomba atômica e a gente veria aquela nuvem de cogumelo. Mas o que imagino hoje, de uma maneira bem pragmática, é a possibilidade de um lançamento nuclear de aviso ou de advertência”, diz Lucena.
Assim como Putin deixou o arsenal nuclear do país em alerta para se defender de ataques, todas as outras nações constroem armas de larga escala com esse objetivo. Ianhez explica que tecnologias desse tipo não são desenvolvidas com a intenção de usar em ações ofensivas, como a que a Rússia exerce na Ucrânia atualmente, por exemplo.
“É muito importante colocar que armas nucleares são feitas para não serem utilizadas. Por mais estranho que isso possa parecer, são armas de dissuasão. Elas existem justamente para dissuadir o inimigo a atacar, de modo em que até mesmo o Putin ter colocado o arsenal nuclear russo em alerta máximo, não significa que ele planeja utilizar esse arsenal.”
Onnig, apesar de reconhecer que há a chance da utilização deste tipo de arma, não vê lados vencedores quando o assunto envolve arsenais nucleares.
“Todos sabemos que não existirão vencedores em um conflito como esse. Perde toda a humanidade, perde as relações internacionais e, portanto, estamos diante de uma obrigação que, além de deter o conflito na Ucrânia, o mapa da mina passa também por um grande desarmamento nuclear, sem dúvida alguma”, conclui.
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Tanques e soldados russos na Ucrânia. Investida começou na madrugada do dia 24 de fevereiro após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, autorizar uma operação militar na região separatista no leste ucraniano e decretar lei marcial