
Daqui a cinco anos, em 2028, Francisco de Assis Pereira vai poder sair da cadeia. Hoje, preso numa penitenciária do interior de São Paulo, ele cumpre pena por sete homicídios e nove estupros. Pelas atrocidades cometidas, o Maníaco do Parque foi sentenciado a 285 anos de prisão. Mas, graças à nossa lei, voltará a encher as ruas de medo.
O mesmo medo que atingiu Campo Grande com um outro maníaco do parque. O Maníaco do Parque das Nações.
José Carlos de Santana Júnior cometeu 10 estupros na capital sul-mato-grossense em 2007. Foi preso, condenado a 34 anos. Impossibilitado de chegar perto dos seus alvos, mostrou comportamento exemplar. E 16 anos depois, voltou às ruas, e a cometer os mesmos crimes.
Está preso preventivamente e já foi reconhecido por 6 vítimas. Uma delas de apenas 14 anos.
Ao ser perguntado o porquê voltou a agir depois de tanto tempo, ele teria dito às delegadas que o prenderam que não consegue parar com os estupros.
“Indivíduos como o Maníaco do Parque voltam a delinquir. Eles não têm sentimentos de compaixão, de altruísmo. São irrecuperáveis para a sociedade.”
A fala é do psiquiatra forense Guido Palumbo, um dos mais famosos do país. É direcionada a Francisco de Assis Pereira. Uma teoria que o maníaco do parque de Campo Grande demonstrou na prática.
A história de Santana Júnior, por enquanto, está apenas na imprensa.
Já a de seu companheiro de crime mais famoso vai desfilar a psicopatia em um filme e em uma minissérie, ambos produzidos pelo Prime Video e com previsão de estreia no ano que vem. O ator Silvero Pereira fará o papel de Francisco.
Retrato importante para que o serial killer não seja esquecido às vésperas de ter a avaliação psiquiátrica feita por especialistas que podem permitir sua volta à sociedade.
Hoje, prestes a completar 56 anos, ele vive solitário, passando o tempo fazendo tricô na penitenciária de Iaras, no interior de São Paulo. Também é assíduo leitor da Bíblia e frequenta os cultos na prisão. Um homem de fé. Igual ao maníaco de Campo Grande que, segundo relatos das novas vítimas, faz orações enquanto as estupra.
Nesses casos, fé demais não cheira bem.

Quem conheceu Francisco de perto sabe o quanto ele é bom em enganar as pessoas. Um manipulador nato.
Era assim, na lábia, que convencia mulheres morenas, de cabelos compridos e corpos esculturais a segui-lo até o Parque do Estado, uma região de Mata Atlântica na capital paulista. Esse talento do mal é mostrado no episódio 8 da primeira, de dez temporadas, da série documental Investigação Criminal, também do Prime Video.
Os documentaristas contam, na versão de quem participou diretamente das apurações, as histórias dos principais crimes brasileiros.
Elise Matsunaga, Alexandre Nardoni, Roger Abdelmassih e outros vilões do mundo real são dissecados por delegados, peritos criminais e psiquiatras.
O caso do Maníaco do Parque paulistano surgiu em 1998. Quando um menino entrou no parque para buscar uma pipa perdida, encontrou a cena assustadora de um cadáver de mulher, nu, de quatro, entre as árvores, a jovem foi identificada posteriormente como Selma Ferreira Queiroz, de 18 anos.
Atraída pelo modus operandi mais banal.
O maluco caçava mulheres nos metrôs da periferia. Ao detectar uma mulher triste – e ele diz que elas sempre ficam cabisbaixas quando estão assim – chegava e começava a conversar. Logo, se apresentava como representante de uma agência de modelos fotográficas que fazia trabalhos para uma multinacional de cosméticos. Selma e todas as outras ouviram que eram lindas e tinham a pele perfeita para os produtos comercializados pela empresa,
Isso bastava para que confiassem no sujeito que acabaram de conhecer.
Isso bastava para que topassem subir numa moto com alguém que acabaram de conhecer.
Isso bastava para que entrassem numa mata fechada com um homem que acabaram de conhecer.
Logo que ele passava a cerca, segundo relatos do delegado que conduziu os inquéritos contra o maníaco, Francisco se transformava num animal, demonstrava de imediato toda a raiva contra as vítimas e começava o espancamento. Era tão violento que uma das vítimas – de apenas 16 anos – chegou a dizer que ele poderia fazer o que quisesse com ela, mas que parasse de bater em seu rosto, pois não aguentava mais o sofrimento. Ela foi morta enforcada com um cordão.
Todas elas eram abusadas antes e depois de perderem a vida. Prática que ele fazia por dias seguidos até que a putrefação do corpo não permitisse mais o vilipêndio (abuso de cadáveres). Francisco também era quase um canibal. Os corpos das vítimas eram cobertos de mordidas. Ele dizia que tinha vontade de arrancar a pele das mulheres com os dentes. Difícil imaginar o quanto sofreram as vítimas desse monstro.
Difícil imaginar o quanto sofrem as vítimas do maníaco do parque de Campo Grande. Sobreviventes, mas com sequelas terríveis. Na vida social. Na memória que não deixa esquecer o medo de tudo se repetir.

Casos como esses precisam ser retratados – pela imprensa ou por outras áreas – para que as estratégias desses predadores sejam amplamente divulgadas.
O conhecimento é uma grande proteção.
Entrar no carro de aplicativo dirigido pelo Maníaco do Parque das Nações precisa ser uma decisão consciente. Ver a foto do perfil e o nome do motorista no aplicativo dão, à cliente que conhece sua história, a opção de aceitar ou não a corrida. Uma adolescente atacada por ele não sabia disso. Fugiu do estupro, mas não da importunação sexual.
Oportunidades como a de ser descoberta por um olheiro de modelos ou a de conseguir uma oferta de emprego imediato também precisam estar no radar das mulheres como possíveis artimanhas de tarados. Eles podem estar bem perto de você.
O maníaco sul-mato-grossense andava pelas ruas – inclusive as movimentadas – falando ao celular enquanto perseguia o alvo do ataque.
O de São Paulo era acima de qualquer suspeita; Funcionário exemplar na empresa de motoboy onde trabalhava. Pelo menos até que o dono descobriu a carteira de uma das vítimas do maníaco escondida dentro de um vaso sanitário quebrado no banheiro do local.
Patinador talentoso, era tão admirado pelos colegas que um deles não acreditou quando uma das meninas do grupo de patinação disse que foi agredida física e sexualmente por Francisco no parque. Sim, ela sobreviveu. Outras também.
Uma delas caiu na lábia do maníaco uma segunda vez, foi quando estava preso. Ela procurou o delegado e pediu para falar com Francisco, queria desabafar, jogar na cara do maníaco todo o ódio que ela sentia após ter sido violentada por ele, Francisco fumava um cigarro na sala de interrogatório, o delegado perguntou se ele atenderia a mulher, e viu uma transformação física no semblante do assassino, de demônio, se transformou num anjo arrependido, E só com a pele de cordeiro permitiu a entrada da vítima raivosa. Após poucos minutos de conversa, a mulher fez um segundo pedido ao delegado, ela queria dar um beijo em Francisco. Deu dois, um na testa e um na bochecha. Foi embora achando que ele tinha se arrependido do que fez e que merecia ser perdoado, assim que ela saiu, o lobo voltou na expressão do estuprador.
Expressão que, segundo a lei, estará nas ruas em 2028.