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Sexta, 22 de novembro de 2024

DF: Operação desarticula organização criminosa internacional

Batizada de Difusão Vermelha, operação da Polícia Civil desmantelou célula criminosa baseada em Lisboa

07 de mar 2023 - 15h:39 Créditos: SBT Jornalismo
Crédito: Reprodução/PCDF

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por meio da operação Difusão Vermelha, desarticulou uma organização criminosa internacional, com sede em Portugal, que aplicava golpes no Brasil. A operação contou com apoio da Interpol, que emitiu o Red Notice (autorização para captura de indivíduos em qualquer país conveniado, além de publicação de suas fotos como "procurados") e cumpriu mandado de prisão preventiva de seis líderes da célula criminosa em Lisboa, que serão extraditados para o Brasil.  Foram realizados, ainda, o bloqueio de contas bancárias, sequestro de criptoativos e derrubada de websites.

Por meio da empresa de fachada Pineal Marketing, a organização oferecia opções de investimento (Day Trade e FOREX) falsas, com promessas altas de retorno, que nunca aconteciam. Segundo a polícia, a atividade já ocorria há pelo menos quatro anos, "vitimando milhares de pessoas em território nacional e expatriando milhões de reais via uma bem estruturada operação de criptomoedas".

De acordo com a PCDF, os criminosos reproduziam o ambiente do filme "O Lobo de Wall Street", de Martin Scorsese, com "ostentação de riqueza" e premiações aos melhores "vendedores". Os líderes incentivavam os empregados a verem o filme, se inspirarem no protagonista, e terem como lema "pensem em vocês e em suas famílias, esqueçam as vítimas".

Segundo a corporação, foram mapeadas pelo menos 945 vítimas diferentes, mas já se sabe, por meio da investigação, que existem "muitas mais". 

"Foram encontradas vítimas que chegaram a perder R$ 1,5 milhão. Também foram narradas histórias de vítimas que perderam todas as economias da vida, alguns gastaram dinheiro que seria usado para tratamento de câncer de familiares e outros até mesmo todo o dinheiro recebido de heranças. Diversas vítimas tiveram rompimento de casamentos e laços familiares, várias em depressão com tendências suicidas", afirma o delegado responsável pela investigação, Erick Sallum

A PCDF informa que os criminosos foram indiciados em "diversas imputações de fraude eletrônica", além de organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, com penas somadas que ultrapassam os 50 anos.

Esquema

Segundo a investigação, um indivíduo de nacionalidade tcheca, residente em Lisboa, montou uma empresa de publicidade de fachada, a Pineal Marketing, que tinha como verdadeira operação a venda de falsos investimentos na bolsa de valores, por meio de empresas fantasmas de corretagem, tendo brasileiros como vítimas.

Foi apontado que o call center da organização criminosa era distribuído em quatro locais diferentes e empregava centenas de brasileiros, geralmente imigrantes ilegais que, sem opção de trabalho, se sujeitavam a participar. "A contratação exclusiva de brasileiros decorria também da necessidade de pessoas que falassem português brasileiro fluente, uma vez que eles assediavam e buscavam vítimas apenas no Brasil", informa a PCDF. 

Os brasileiros contratados para trabalhar nesse escritório tinham a função de ligar para o Brasil e oferecer opções de investimento (Day Trade e FOREX). De acordo com a polícia, eles usavam "todo tipo de argumento" para convencer as vítimas a ingressar no mercado de valores e fazer aplicações que gerariam altas rentabilidades com garantia. 

A polícia ainda informa que a operação criminosa foi estruturada fora do país com o propósito de atacar vítimas somente no Brasil, assim as autoridades portuguesas ficariam de "mãos atadas", visto que sem vítimas para comprovar as alegações, a investigação ficava emperrada. Outro motivo seria que os criminosos acreditavam que a polícia brasileira seria incapaz de alcançá-los. "Eles sabiam que caso atuassem contra cidadãos portugueses, de outros países da União Europeia ou dos Estados Unidos, a operação teria sido desarticulada com maior facilidade", afirma a polícia. 

Para dar aparência de legitimidade e fazer as vítimas acreditarem que se tratava de investimentos reais, a investigação apontou que os criminosos montaram na internet páginas "muito bem montadas, dando a impressão de serem empresas idôneas", de empreendimentos fictícios, como: Paxton Trade, Ipromarkets, Ventus Inc, Glastrox, Fgmarkets, 555 Markets e ZetaTraders. As vítimas, então, faziam cadastros nessas páginas e depois usavam um aplicativo para poder fazer os supostos investimentos. 

As vítimas enganadas passavam a investir nas ações indicadas pelos criminosos, mas diferente do prometido, sempre perdiam tudo. Devido às perdas, eram incentivadas a fazer novos investimentos com esperança de reverter o prejuízo. Segundo a polícia, os novos investimentos também geravam outras perdas, gerando uma "bola de neve", e depois das vítimas perderem todas suas economias e se endividarem ainda mais em bancos, não tendo mais "um centavo para aplicar", os criminosos cortavam os contatos telefônicos e elas ficavam sem a quem recorrer.

"Todo o dinheiro depositado nas contas das supostas empresas era diretamente desviado para contas pessoais dos criminosos. As vítimas pensavam que tinham perdido tudo na bolsa de valores e muitos sequer sabiam que se tratava de um golpe", diz o delegado.

A investigação obteve "diversas provas" do ambiente "sociopático" existente dentro da empresa. A figura de Jordan Belfort, autor do livro de memórias "O Lobo de Wall Street", adaptado para as telonas em 2013, era venerada. Além de replicar o ambiente, com ostentação e premiações aos melhores vendedores, nos grupos de WhatsApp da empresa, os "gerentes" incentivavam os "vendedores" a verem o filme protagonizado por Leonardo DiCaprio, além de serem "sistematicamente induzidos" a terem o mesmo comportamento.

Operação 

Para conseguir contato com os funcionários da empresa, os policiais usaram um aplicativo para simular números de telefones portugueses. Isso fazia com que os funcionários atendessem às ligações da polícia, oportunidade em que eram intimados. "Sem terem como alegar que não sabiam da intimação, eram forçados a comparecer e prestar esclarecimentos via videoconferência com o delegado. A partir destas informações, a PCDF montou o quebra-cabeça", informa a polícia.

Essa tática foi a mesma usada pelos criminosos para conseguirem enganar as vítimas brasileiras. Eles usavam aplicativos que mascaravam os números internacionais, porque sabiam que ligações de números internacionais para assediar brasileiros não seria eficiente. Ao simular número com DDD (61), conseguiam que as vítimas atendessem à primeira ligação e, assim, "fossem hipnotizadas pelas falsas promessas de rentabilidade". Segundo a PCDF, foi usado o "feitiço contra o feiticeiro".

Com o decorrer da investigação, o líder da organização criminosa chegou a ser interrogado, tendo contratado advogados no Brasil. Enquanto investigado, ele manteve a operação criminosa e ainda expandiu a atividade, abrindo outros três escritórios, chegando a contar com mais de 150 brasileiros contratados. 

Com a comprovação da fraude, a autoridade policial determinou a prisão preventiva dos líderes, por meio do Red Notice emitido pela Interpol. De acordo com a polícia do DF, trata-se do primeiro pedido dessa espécie deferido pela Justiça brasileira à Polícia Civil, enquanto uma organização criminosa está em funcionamento. A prisão dos envolvidos aconteceu na madrugada desta 3ª feira (7.mar). "O adido alemão no Brasil, representante da Bundeskriminalamt (BKA), foi decisivo na localização e captura do líder da organização criminosa no aeroporto de Frankfurt, quando pensava ter escapado", conta o delegado.

Também foi autorizado judicialmente o "take down" na própria rede de transportes nacional dos sites ilegais, visto que eles são hospedados em outros países, que não respondem ao apelo brasileiro. Agora, qualquer pessoa que tente acessar os sites maliciosos será redirecionada para uma página da PCDF que contém um alerta sobre o golpe.

"A PCDF deflagra a presente operação como uma resposta às dezenas de vítimas que choraram ao prestar declarações, desacreditadas de que algo seria feito e, por isso, pensavam em terminar suas próprias vidas. Nós prometemos às vítimas uma resposta e agora entregamos, as vidas que acabaram foram as dos criminosos", declara o delegado. 

A investigação mostrou que o mesmo grupo criminoso não possui apenas o escritório em Lisboa, o qual foi desarticulado, mas em Praga, Tel Aviv, Dubai, Londres e Madrid para executar o mesmo esquema, fazendo vítimas no México, Argentina, Uruguai e Chile.

Como não cair em golpe de investimento

A Polícia Civil do Distrito Federal orienta como a população deve proceder para não cair em golpes de investimento. A corporação alerta que nenhuma empresa de corretagem (Brokers) pode fazer oferta proativa pública em território nacional sem autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Além disso, a Polícia Civil orienta:

  • Não aceitem propostas ou contratem com empresas internacionais por meio de websites de outros países;
  • Não aceitem contato de WhatsApp ou ligações de supostos corretores de outros países;
  • Sempre que a promessa de ganho for muito boa, tenha certeza de que é golpe;
  • Operações de Day Trade em FOREX são as mais especulativas do mundo, com taxas de perda acima de 90%;
  • Não se arrisque naquilo que você não entende;
  • Antes de efetivar qualquer contratação, pesquise na internet e junto às autoridades nacionais se aquela suposta corretora é idônea e possui autorização para operar no Brasil.

A polícia ainda pede que qualquer vítima do esquema, em qualquer parte do país, procure as delegacias de suas regiões para registro de ocorrência.

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