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Domingo, 30 de junho de 2024

Cansaço e dores no corpo costumam ser sinais iniciais da depressão; veja outros sintomas

Neuropsiquiatra explica que tristeza e prostração também podem aparecer, mas em fase mais avançada da doença

07 de mai 2022 - 10h:36 Créditos: R7
Crédito: R7

Alterações no sono, cansaço excessivo (inclusive mental), dores no corpo, dificuldade de concentração, mudança de peso sem dieta específica e perda do interesse por atividades que costumavam ser prazerosas. Estes são sintomas que costumam aparecer logo no início da depressão, mas que podem passar despercebidos até que a doença cause prejuízos individuais mais significativos.

Recentemente, uma pesquisa mostrou que o diagnóstico de depressão cresceu 40% no Brasil nos três primeiros meses de 2022, na comparação com o período pré-pandemia. 

O neuropsiquiatra Marco Antonio Abud, fundador do canal Saúde da Mente, no YouTube, explica que a tristeza, a falta de apetite e não sair da cama, por exemplo, são sintomas os mais associados à depressão, mas pontua que "quando está nesse quadro, não quer dizer que já não tem jeito, mas seria possível identificar antes".

Desinteresse

O especialista ressalta que o "sintoma-raiz" da depressão é "a perda da capacidade de sentir emoções positivas".

"A pessoa começa a se envolver menos em atividades sociais e atividades que ela gostava de fazer. Ela pode até só conseguir trabalhar, mas para de fazer tudo o que gostava depois, de sair com os amigos, ir para happy hour, jogar futebol... ela vai se arrastando para o trabalho, volta para casa e fica deitada."



Quando o indivíduo com depressão faz alguma atividade social também pode ser percebido que ele está "aéreo" ou esquecendo o que o interlocutor fala.

Ele chama atenção para o fato de que muitas pessoas esperarem a motivação para fazer as coisas, quando deve ser o contrário.

"Uma vez que nós temos contato com conexões de qualidade, com coisas que são valiosas, prazerosas, com objetivos, isso é o que vai liberar dopamina em alguns circuitos específicos [do cérebro] e vai gerar motivações. Quando nos afastamos de coisas positivas, temos cada vez menos energia. Isso vai virando um ciclo vicioso."



Sono e cansaço

Alterações no sono podem estar associadas a quadros depressivos

Alterações no sono podem estar associadas a quadros depressivos

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Dormir poucas horas ou demais também é um sinal de que algo pode estar errado. Normalmente, pessoas com depressão podem estar sempre esgotadas física e mentalmente, mesmo após longas horas de sono.

Abud recomenda a realização de exames para detectar ou descartar outras doenças ou deficiências de nutrientes que também podem causar sintomas parecidos – falta de vitamina D, anemia e hipotireoidismo, por exemplo.

Manter um bom padrão de sono também é essencial para prevenir quadros depressivos, de acordo com o neuropsiquiatra. 

Alterações intensas de peso

Outro sintoma que deve ser observado, especialmente por quem faz parte do círculo próximo, são variações no peso em um intervalo de três a quatro meses.

"[Alterações] muito para cima ou para baixo, exceto se a pessoa estiver fazendo uma dieta específica", pontua Abud.

Idosos com depressão, por exemplo, podem apresentar falta de apetite e consequente perda de peso.

Dores no corpo

Diversas condições podem causar dores, por isso é necessário procurar especialistas para descartar outras doenças, especialmente as reumatológicas e musculoesqueléticas.

Marco Antonio Abud esclarece que não se trata de dor psicossomática e que este é um conceito errado e ultrapassado.

"A depressão aumenta a sensibilidade à dor, a gente sente dor com menos estímulo. Isso não é psicológico, é testado clinicamente. O centro da dor fica mais ativado, a pessoa sente dor nas juntas, dor de cabeça... Se isso estiver persistindo por mais de um mês, dois meses, é importante pensar nisso [suspeita de depressão]."

Segundo o médico, "é basicamente impossível ter um quadro depressivo sem que haja alguma alteração, maior ou menor, na sua concentração e na sua performance mental".

A pessoa com depressão começa a apresentar dificuldades ou a cometer erros que não cometia anteriormente no trabalho, por exemplo.

Além de problemas de concentração, é comum que haja esquecimentos, sensação de "estar ficando burro", dificuldade para tomar decisões e fala mais lenta do que o habitual, acrescenta o neuropsiquiatra.

Ruminações depressivas

O cansaço mental e a dificuldade de concentração são explicáveis por um padrão de pensamento característico de quem sofre de depressão que é chamado de ruminações depressivas.

"[São] pensamentos negativos que focam em si mesmo e não conseguem focar no outro, no mundo, no futuro. A pessoa fica presa em um padrão de ruminação procurando por que a coisa está acontecendo e procurando no passado", exemplifica o médico.

De forma repetitiva, o indivíduo fica tentando entender o motivo de algumas frustrações e problemas pessoais, por exemplo, sem utilizar uma fórmula que seria mais eficaz: buscar como resolver e o que vai fazer. 

"O 'por que' mantém a pessoa no quadro depressivo", afirma Abud.

A partir daí, se esse pensamento ruminante não for bloqueado, a tendência é que o indivíduo com depressão chegue a três conclusões: sentimento de culpa, de inutilidade ("não tenho valor como pessoa") e de desesperança ("não há saída").

"Esse tipo de pensamento consome muita energia. Até quem não tem depressão, se ficar preso nesse tipo de pensamento, não consegue se concentrar em mais nada, isso é altamente cansativo, consome muita energia mental. A pessoa tende a se isolar e deixar de fazer coisas que ativam o centro da motivação."

E aí cria-se um ciclo vicioso baseado em culpa ? ruminação ? perda de energia ? deixar de fazer coisas importantes/prazerosas.  

Como quebrar esse padrão?

Todos nós temos pensamentos negativos, mas a pessoa com depressão começa a acreditar muito neles, alerta o médico.

"A nossa mente produz pensamentos o tempo todo, e alguns não têm o menor sentido, é como se fossem bugs no sistema", exemplifica, ao destacar que é fundamental "perceber e começar a duvidar desses pensamentos, porque não são verdadeiros".

É por meio da psicoterapia que o paciente com depressão vai aprender a substituir os pensamentos ruminantes. 

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