Fugindo do aluguel, cerca de 70 famílias voltaram a ocupar um terreno baldio na Rua Brígida de Melo, no Bairro Los Angeles, extremo sul da Capital, na tarde desta segunda-feira (06). O local já havia sido desocupado pela prefeitura há cerca de quatro meses. Mas agora, a ordem entre os moradores é resistir.
Aos poucos, os barrancos de lona e madeira estão tomando conta do espaço. Cada morador tem demarcado de forma improvisada o seu terreno de 10x30. Organizado, o grupo de moradores disse ter feito uma seleção de quem poderia morar naquela que pode vir ser a mais nova favela da cidade.
"Quem tem casa e tem como pagar, estamos dispensando", comenta o autônomo Alisson Reis de Souza, de 19 anos, um dos organizadores da invasão. No início do ano, conforme o jovem, outras famílias começaram a invadir o terreno, mas foram expulsos no mesmo dia pela Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano).
"Mas, agora, todo mundo está muito unido. Dessa vez, estamos com uma resistência forte, da outra vez as famílias fugiram, mas agora, não vamos ceder", completa Alisson. No terreno ocupado, fizeram moradia idosos, mas também muitos jovens. Adolescente, de 17 anos, que está grávida, se mudou para o local com o marido e outro filho de um ano e seis meses.
Da outra vez que o terreno foi desocupado, ela conta que os funcionários da prefeitura, levaram machados, inchada, facões e foices, usados na limpeza do terreno. Bem como outros poucos móveis adquiridos pelos moradores com muito custo.
"A gente monta, eles (prefeitura) vem aqui e arrancam tudo. Demoramos dois dias para deixar tudo pronto", comenta a adolescente. A jovem morava com a mãe em outro barraco e decidiu invadir o local para ter um pouco mais de independência. "As coisas estão muito caras, não consigo pagar o aluguel", acrescenta
Nesta segunda-feira, policiais militares já teriam ido conversar com os moradores, mas não os forçaram a deixar o local. "Nós vamos morar aqui sim e no meu barraco, estarão morando eu, minha mãe e dois sobrinhos, que são criados por ela", disse outra moradora.
Favelas aumentaram - Entre 2010 e 2019, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de favelas em Campo Grande saltou de apenas três para 38. Atualmente, são cerca de 23 entre áreas em estudo e em processo de regularização. Em 2019, mapeamento específico sobre os Aglomerados Subnormais, foram identificados pelo IBGE 38 localidades com 4.516 domicílios em condições precárias e com cerca de 8.050 pessoas. O avanço dessas áreas mostra não apenas o crescimento populacional e da cidade, mas também o aumento das dificuldades financeiras e de políticas públicas que não dão conta das demandas dos considerados sem-teto. Isso, depois de Campo Grande ter, em 2012, sido considerada a primeira capital sem favelas no Brasil.