
O dólar opera em queda nesta terça-feira (8), com os investidores atentos a desdobramentos da guerra entre Ucrânia e Rússia e a possíveis medidas do governo brasileiro para evitar novas altas nos preços dos combustíveis conforme a cotação internacional do petróleo avança. O real é beneficiado por um fluxo de investimentos devido aos juros altos e busca por mercados ligados a commodities.
Por volta das 9h32, a moeda norte-americana caía 0,22%, cotada a R$ 5,068. O contrato futuro do dólar de primeiro vencimento negociado na B3 recuava 0,89%, a R$ 5,066.
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Na segunda-feira (7), o dólar teve leve alta de 0,02%, cotado a R$ 5,079. Já o Ibovespa recuou 2,52%, aos 111.593,46 pontos.
Petróleo e combustíveis
Os preços do petróleo vêm escalando desde que a Rússia invadiu a Ucrânia. Analistas acreditam que o furor recente pode ser apenas o começo, já que os avisos de US$ 200 por barril começam a se espalhar pelo mercado.
O preço da commodity atingiu seu nível mais alto desde 2008 na segunda-feira (7), quando os países ocidentais passaram a considerar um embargo ao petróleo da Rússia, o segundo maior exportador do mundo.
O petróleo Brent, a referência global, atingiu brevemente US$ 139 o barril antes de cair para US$ 125. Isso é um salto de mais de 35% em apenas um mês.
O principal fator para a alta é o descompasso entre oferta e demanda da commodity, com os principais produtores, reunidos na Opep+, ainda não retomando os níveis de produção pré-pandemia, e o quadro foi intensificado com as tensões na Europa.
A alta também representa um potencial de avanço dos preços dos combustíveis em todo o mundo, incluindo o Brasil. Aqui, os preços já estavam defasados, e a tendência é que a Petrobras precise realizar um novo reajuste.
Porém, falas do presidente Jair Bolsonaro, criticando a política de preços da estatal, geraram temores no mercado sobre uma possível intervenção na empresa. Uma possibilidade é a criação de um subsidio temporário para os preços, mas, segundo o analista da CNN Caio Junqueira, o ministro Paulo Guedes se opõe à ideia.
O Congresso também deve analisar projetos que buscam reduzir os preços dos combustíveis ou evitar novas altas a partir de medidas como cortes de impostos e criação de um fundo de estabilização.
O receio do mercado é que as medidas acabem impactando as contas públicas e gerando um risco fiscal alto, o que reduziria a confiança de investidores e faria o dólar subir pela saída de investimentos.
Commodities
Outra consequência da invasão é a alta nos preços de commodities, principalmente as ligadas à Rússia e à Ucrânia, caso do milho, trigo e do petróleo.
O trigo chegou a ter alta de 7% na segunda-feira, e acumula valorização de 75% no ano. De acordo com a Necton, a valorização do real pode reduzir esse aumento para perto de 55%.
Ao mesmo tempo, a situação na Ucrânia pode impactar nos benefícios para o real de um ciclo de migração de investimentos para mercados ligados a commodities e vistos como baratos, com o Brasil.
O mercado doméstico pode ser beneficiado também pelos juros altos, que limita os efeitos das apostas em uma política de alta de juros agressiva pelo Federal Reserve.
O ciclo estava ligado, em partes, a expectativas de mais medidas pró-crescimento na China que estão aumentando as esperanças de uma recuperação na demanda por metais, o que levou a altas nos preços, reforçadas com a crise na Ucrânia.
Por outro lado, intervenções do governo chinês no mercado têm gerado pressões de queda, em um sobe e desce na cotação.
Guerra na Ucrânia
O foco dos investidores segue na guerra na Ucrânia e os seus desdobramentos. Em apenas 11 dias, mais de 1,7 milhão de pessoas precisaram fugir da Ucrânia por conta da guerra iniciada com a invasão de forças russas no último dia 24.
Na segunda-feira, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, fez um apelo pela imposição de novas sanções internacionais contra a Rússia por sua invasão da Ucrânia, conforme as forças russas tentam tomar a capital ucraniana, Kiev.
Do ponto de vista econômico, o principal acontecimento envolvendo o conflito é a série de sanções anunciadas pelos Estados Unidos e seus aliados ocidentais.
Dentre elas estão a expulsão de bancos russos do Swift, um sistema global de pagamentos, e o congelamento de reservas do banco central da Rússia.
Os países que apoiam a Ucrânia já afirmaram que devem implementar novas sanções contra a Rússia, que viu sua moeda, o rublo, despencar e atingir uma mínima histórica.
A possibilidade de avanço nas negociações entre Rússia e Ucrânia e um cessar-fogo temporário, porém, trouxeram um leve alívio nos receios do mercado e na aversão a riscos, com o índice DXY, que compara o dólar com uma série de moedas, recuando.
O VIX, chamado de “índice do medo” por tentar medir o grau de volatilidade do mercado, caía e rondava os 34 pontos, por volta das 9h30, após chegar ao maior nível desde setembro de 2020.