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Quinta, 28 de março de 2024

Brô MC’s prepara live para arrecadar alimentos às aldeias de Dourados

A live dos Brô MCs será no sábado (13) às 19h00 com transmissão pelo Facebook e YouTube do grupo.

09 de jun 2020 - 18h:07 Créditos: O progresso
Crédito: A ideia da live não é comercial, surgiu de uma necessidade das famílias Guarani Kaiwoá (Foto: Divulgação)

Os Brô MC's, primeiro grupo de rap indígena do Brasil, está preparando uma série de lives com o objetivo de arrecadar alimentos para as aldeias de Dourados. A decisão foi tomada com a chegada do coronavirus na Reserva e a situação de vulnerabilidade que passam muitas famílias. Apesar de não terem definido datas devido a instalibidade da internet em pontos da aldeia, o grupo garante que as apresentações ocorrerão em breve. 

Durante entrevista ao jornal de Dourados O Progresso, o fundador do grupo, Bruno Veron, destacou a preocupação da comunidade em relação a doença. “A  aldeia aqui é totalmente despreparada. Falta estrutura nos postos de saúde. É muito triste ver a precariedade. Não tem médico dentro da aldeia e essas situações podem dizimar o povo indígena. Sem contar o preconceito que foi gerado em cima da comunidade, sendo que nós somos as vítimas. Não fomos nós que trouxemos esse vírus para cá. Os índios não foram lá na China”, desabafou.

Questionado se ele pretendia falar do tema nas próximas letras ele esclarece que culturalmente  isso não é recomendado. “Trata-se de uma doença que matou tanta gente e acreditamos que ela nem deve ser relembrada no futuro para que não volte a fazer mal a ninguém”, explica. No entanto adiantou que a intenção dos shows on line será mostrar a realidade da reserva e um pedido de socorro.

Sonhos e desafios da carreira

Apesar de várias premiações e de serem reconhecidos internacionalmente, os integrantes do grupo ainda sonham em um dia viver da música. Eles relataram que ainda é um desafio os artistas locais terem espaço onde vivem, ainda mais com o estilo musical que escolheram. “O rap transforma a mente das pessoas. Eu ouvia muito quando criança e me interessei porque os artistas contavam sobre sua realidade na periferia. Eu queria fazer o mesmo, mostrar a realidade dos povos guarani kaiowa, algo que ninguém contava.  O rap abre a mente das pessoas para o que é real, mas ainda tem espaço limitado”, destaca Bruno.

O fato de serem reconhecidos mundialmente aumenta a responsabilidade. “É uma honra levar a nossa realidade para outros povos que não conhecem as aldeias de Mato Grosso do Sul. Ao mesmo tempo uma responsabilidade maior ainda, pois acabamos nos tornando referência para aquela garotada que está começando e que sonha em viver da música. Acreditamos que temos o dever de levar a palavra dos nossos antepassados, nossos líderes que estão sempre na luta pelos diretos dos povos indígenas. Como o Bruno sempre fala, os Brô MC’c  representam toda a nação indígena. Queremos que as palavras do nosso povo ecoem através das nossas músicas sem esquecer de nossa cultura”, explica Kelvin Peixoto.

Música

Criado em 2009 o Brô MC’s é formado hoje pelos integrantes Bruno Veron, Clemerson Batista, Kelvin Peixoto, Charlie Peixoto, Higor Lobo e Dani Muniz.  O grupo carrega consigo a força da fala, Nhe'e, um misto de músicas tradicionais indígenas com a batida pulsante do rap, que atravessa fronteiras, e traz consigo toda a força da cultura indígena Guarani - Kaiowá.

O trabalho se materializa através de rimas e cantos na língua nativa, mas também em português. Línguas que aproximam o grupo de outros lugares, de outros olhares, que outrora estavam distantes, mas pelo poder atraente da música, se fazem mais perto. Um misto deluta e arte, de existir e resistir, mas principalmente progredir, pois o tempo não para.

Formado por jovens indígenas das aldeias Jaguapiru e Bororó - Reserva Indígena Francisco Horta Barbosa, se reuniram no intuito de promover ideias, conquistar espaço e pontuar inúmeras situações que permeiam o cotidiano indígena em Dourados, mas não apenas, sendo que, hoje o grupo potencializa a representatividade das etnias e culturas indígenas do Brasil.

História

Em 2007 os jovens começaram a construir outros caminhos para suas vidas por meio da música. Em específico pelo Rap, os jovens foram aderindo à cultura Hip Hop, influenciados pelo estilo e pelas letras das músicas.

O sentimento de pertencimento foi além de simples ouvinte, e em 2007 o fundador do Brô MC’s Bruno Veron começa a escrever suas primeiras canções relatando a realidade da aldeia sob seu ponto de vista. Em 2008 o irmão dele Clemerson Batista Veron se junta a Bruno para dar continuidade ao projeto, assim como os também irmãos Kelvin Peixoto e Charles Peixoto, nesse ano eles fazem uma participação nos extras do Filme Terra Vermelha do diretor italiano Marco Bechis.

Ainda em 2008, Higor Lobo convida o grupo para participarem da música “No Yankee” do seu segundo álbum intitulado Outra Fase, onde o grupo mescla o português com o guarani. Com essa música o Brô se consagra vencedor do Festival Rap Popular Brasileiro e ganha o direito de representar o estado na final nacional do Festival no Rio de Janeiro em 2009.

Com o passar do tempo foram realizadas diversas oficinas de Hip Hop na aldeia indígena Jaguapiru pela CUFA no sentido de potencializar as práticas dos jovens indígenas, sempre valorizando a cultura indígena, tendo o Hip Hop apenas como um instrumento dessas manifestações. Durante as oficinas surgiu à idéia de gravar o CD demo do Brô MC`s, o processo de produção e composição das músicas, de produção e gravação vai de outubro a dezembro, sendo o lançamento no Festival Conexão Hip Hop em dezembro de 2009 em Dourados – MS.

Após o lançamento do CD o primeiro grupo de rap indígena do Brasil já se apresentaram no Brasil e no exterior, sendo um sucesso de crítica não apenas por suas letras e temas abordados, como também pelo valor simbólico cultural de uma junção inusitada do rap com a cultura indígena, do português com o guarani como nas letras “Terra Vermelha” e “Tupã”, e “Eju Orendive”. O disco traz músicas que envolvem os mais diversos temas, um trabalho que mescla culturas evidenciando todas as potencialidades desses jovens guaranis.

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