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Sexta, 29 de março de 2024

“Pandemia dentro da pandemia” violência contra a mulher aumenta no Estado de Mato Grosso do Sul

Só nos quatro  primeiros meses de 2020, foram quase 5 mil  B.O’s registrados

09 de jun 2020 - 10h:06 Créditos: Redação o progresso.
Crédito: JACOBLUND VIA GETTY IMAGES

Os números de registros nas delegacias caem, mas a violência contra a mulher aumenta. Umas das causas apontadas é o confinamento delas com os agressores. É o que acredita a  subsecretária de Políticas Públicas para as Mulheres do Estado de Mato Grosso do Sul, Luciana Azambuja. Para ela o aumento faz com que a violência contra a mulher seja considerada  uma “pandemia dentro da pandemia”. Em entrevista à escritora Delasnieve Lapet, a subsecretária alertou para a dificuldade das vítimas em sair de casa para denunciar e acredita que a demanda, hoje reprimida, poderá gerar uma “enxurrada” de denúncias nas delegacias após o período de quarentena.

“O isolamento social tem sido muito cruel para muitas mulheres porque elas estão em casa ao lado do agressor. Além disso, as crianças estão sem aulas na rede pública e na rede privada. Esse tempo excessivo, num ambiente desestruturado e relacionamento abusivo, vai potencializar a violência.  Esse homem, assim como toda sociedade, também está preocupado com o futuro de seu emprego e situação financeira. Somado com outros fatores de risco como o álcool em excesso e às vezes até droga, a violência tende a aumentar. Não é a pandemia, não é o coronavírus que está transformando o homem bonzinho em  agressor, mas essa situação de incerteza, de insegurança além da permanência em casa está trazendo mais violência doméstica e não só às mulheres, mas às crianças, idosos e as pessoas com deficiência, que estão nesse contexto familiar”, explica.

Luciana Azambuja acredita em aumento dos registros pós pandemia.  “Nós temos um aumento de violência contra mulheres. Apesar de com o isolamento social e o toque de recolher, muitas delas não estão saindo de casa sequer para denunciar.  Acreditamos que, assim que passar o auge da pandemia teremos uma demanda reprimida e uma “enxurrada” de registro de boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia”, afirma.

Segundo ela, pode-se considerar que o País vive uma pandemia dentro de uma pandemia, há muitos anos. “O Brasil amarga a quinta posição do ranking mundial onde as mulheres mais morrem por questão de gênero e o Estado de MS também está entre os cinco ou seis com maiores índices de denúncias de violência doméstica entre os 27 estados da Federação”, ressaltou, observando que esse dado não significa, necessariamente, um aumento da violência em si, mas o reflexo das ações do Estado em estimular e encorajar as mulheres a denunciar tendo em vista que oferece serviços acolhedores e de qualidade, que fazem as mulheres confiar na rede de proteção e buscar ajuda, o que influencia na estatística.  

“Campo Grande tem a primeira Casa da Mulher Brasileira do País já há cinco anos e é uma referência, não só dentro do Brasil, mas para outros países. Sem sombra de dúvidas o fato da unidade oferecer todos os serviços integrados aumentou muito a procura das mulheres. Isso não quer dizer que Campo Grande passou a ter mais mulheres vítimas de violência, mas sim que elas se sentiram mais à vontade para procurar os serviços que estão na Casa da Mulher. Então nós temos sim, há muito tempo uma pandemia da violência doméstica, de machismo, de sexismo e misoginia contra as mulheres no Brasil e Mato Grosso do Sul, não foge à regra dos 27 estados da Federação”, explica.

Denúncias online

Luciana explicou ainda que diante do fato da vítima estar ao lado do agressor em tempos de pandemia, o que a impede de acionar serviços como o 180 por telefone, por exemplo, o Estado lançou ferramenta virtual em que ela pode fazer suas denúncias on line, apenas digitando. Trata-se do site “Não se cale” que traz um conteúdo diversificado abrangendo não só a violência doméstica, como outras formas de violação dos direitos das mulheres, considerando as políticas públicas e os serviços existentes no Estado.

“Em razão da pandemia pelo novo coronavírus e das medidas de proteção adotadas pelo Governo do Estado – como da adoção do home office para servidores há duas semanas, percebemos a ausência de um instrumento virtual que pudesse alcançar as mulheres em suas casas, de modo silencioso e eficaz nas informações, orientações e encaminhamentos”, informa.

Números

De acordo com o site “Não se Cale”, em 2019 MS registrou aproximadamente 18.700 registros de boletins de ocorrência em todos os 79 municípios, com maior incidência nos crimes de ameaça e lesão corporal.  Foram 98 feminicídios tentados, onde as vítimas sobreviveram por sorte e contra a vontade de seus algozes – e 30 casos consumados. Comparando com 2018, houve uma redução de 6,3%. Só nos quatro  primeiros meses de 2020, foram quase 5 mil  B.O’s registrados.

Crimes bárbaros em MS

O Estado já registrou 14 feminicídios esse ano. A última morte foi Valéria Ribeiro de Oliveira, de 30 anos, que foi esfaqueada pelo ex-namorado, no último dia 14, em Paranaíba. Antes de esfaquear a vítima, o autor atirou contra ela, mas nenhum disparo a atingiu. O crime foi na casa de Valéria, e de acordo com a Polícia Civil, na frente da filha dela. A menina gritou pedindo ajuda, vizinhos chamaram a Polícia Militar (PM). Ao comentar o caso, Luciana Azambuja pediu a colaboração da sociedade em denunciar e se estiver em local seguro e puder registrar imagens, pode contribuir muito com a polícia.

Antes de Valéria,  uma moradora em Anastácio,  foi queimada pelo ex. Já em Costa Rica, uma mulher sobreviveu a tiros disparados pelo ex, mas a mãe dela acabou morrendo.

Como denunciar

Pelo telefone, as denúncias podem ser feitas pelos serviços Disque 180 e 190 (Polícia Militar). Em Dourados, as delegacias estão atendendo normalmente. A unidade especializada é a Delegacia da Mulher localizada na Rua Projetada B, 820 - Vila Bela. O telefone: (67) 3421-1177 e o horário de funcionamento é das 7h30 às 17h.

Nos casos de flagrante, o denunciante pode acionar a Primeira Delegacia De Polícia De Dourados (Depac), que atende toda a cidade 24h. O endereço da unidade é Rua Cuiabá, 1828 – Centro. O telefone: (67) 3411-8060. Para denuncias on line, a vitima pode acessar:  www.naosecale.ms.gov.br


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