
Terminou após quase 12 horas, nesta quarta-feira (9), os interrogatórios de Monique Medeiros, mãe do menino Henry Borel, e Jairo Souza Santos Júnior, o ex-vereador conhecido como Dr. Jairinho.
Durante o depoimento à juíza Elizabeth Machado Louro, da 2ª Vara Criminal da Capital, Monique afirmou que falaria “toda a verdade” sobre a morte do filho.
A professora foi detalhista na fala, relatando episódios de ciúmes e de agressões de Jairinho— citou inclusive que chegou a ser enforcada por ele.
Segundo ela, só havia trégua das brigas nos momentos de intimidade, no que chamou de "ritual" durante o sexo (veja detalhes mais abaixo).
Monique relembrou ainda o dia da morte do filho, 8 de março de 2021. Em alguns momentos do depoimento, ela chorou (veja no vídeo abaixo).
Antes da fala de Monique, o ex-vereador negou ter agredido o enteado. O depoimento não foi transmitido a pedido da defesa.
Ambos são réus pela morte de Henry, em março de 2021, e compareceram à quarta audiência de instrução do caso, nesta quarta-feira (9).
Monique Medeiros chora ao lembrar o que Henry falou: 'Mamãe, eu vou cuidar de você pra sempre'
Às 14h07, a audiência foi interrompida para almoço. A sessão voltou às 15h06. Do lado de fora, parentes de Henry fizeram um protesto pedindo justiça.
Depoimentos de Jairinho e Monique estão previstos em audiência nesta quarta-feira (9)
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Ato por justiça por Henry Borel na frente do Fórum — Foto: Reprodução/TV Globo
Crises de ciúmes
A mãe de Henry começou a fala descrevendo o filho.
"Foi o filho mais maravilhoso que eu poderia ter: um menino dócil, carinhoso, inteligentíssimo, uma criança feliz, sorridente. Ele foi a criança mais maravilhosa que eu já tive o prazer de conhecer. Meu filho era realmente uma criança especial, ele era realmente um anjo”, disse Monique, chorando. “Ele era lindo."
Na sequência, revelou episódios de ciúmes de Jairinho. “Ele começou a se mostrar uma pessoa com altos e baixos dentro de casa”, afirmou. “Pediu para apagar fotos no meu Instagram que não eram apropriadas”, lembrou.
“Ele falou que eu mandasse embora meu personal trainer e meu preparador físico. Resolvi contratar um professor de futevôlei, e ele não aceitou porque era um homem. Também falou para eu trocar de academia, porque tinha muito jovem”, narrou.
Segundo Monique, Jairinho chegou a infiltrar um empregado na academia para vigiá-la e sobretudo para tirar foto da roupa de ginástica que usava.
Até o trabalho foi motivo de desconfiança. “Quando eu ia até a minha escola, ele reclamava, porque o sinal não pegava bem. E ele começou a dizer que queria eu trabalhasse em um local mais apropriado”, disse ela, ao explicar como foi parar no Tribunal de Contas do Município, através da influência de Jairinho.
“Ele tinha a localização do meu celular, porque já que a gente não conseguia se ver, ele queria ter um pouco de controle do que eu estava fazendo, já que ele tinha muito ciúme do Leniel, que tinha livre acesso à casa”, explicou.
“Jairinho disse que era muito controlador. Ele disse que nos outros relacionamentos ele também era assim”, lembrou Monique.
“Ele sempre tinha um motivo para me culpar”, emendou.
Monique disse que foi humilhada quando encomendou uma sobremesa para ela, Jairinho e Henry. Segundo Jairinho, ela teria “dado mole” para o entregador. “Você é p*ta, você gosta de ter outros homens!”, citou. “Você é bipolar, você tem algum problema”, respondeu a ele. “Ele fazia, mas depois ele se desculpava.”
Brigas e agressões
'Acordei sendo enforcada na cama por ele', diz Monique Medeiros sobre episódio de agressão
A mãe de Henry afirmou que a primeira agressão de Jairinho foi em janeiro de 2021. Jairinho teria pulado o muro da casa dos pais dela, entrou na casa dela, desbloqueou o celular dela com a senha e viu a conversa dela com Leniel.
“Acordei sendo enforcada por ele na cama ao lado do meu filho. Eu nem sabia o motivo”, disse.
“Ele jogou o celular em mim e falou. ‘Você está dando mole para o seu marido’. Eu o chamava de Lê, ele me chamava de Nique. Esse era o grande problema da história".
Depois da briga, Monique contou que Jairinho mandou um buquê de flor e uma caixa de chocolate com um pedido de desculpas de 20 em 20 minutos para a casa dela. “Ele batia e depois vinha um afago”.
"Em fevereiro, nós não éramos 100% felizes, nem 100% infelizes. Eu não enxergava como uma coisa ruim. Mas com um mês e 10 dias que estávamos morando juntos, começou a ter resistência entre os dois. Jairinho e Henry começaram a disputar a minha atenção", contou.
Monique também falou sobre o episódio em que o próprio Henry relatou as agressões.
"Eu estava fazendo comida e o Henry veio me contar que o Jairinho tinha dado uma banda e uma moca nele. Fui até a sala pra questionar e ele disse que era brincadeira, que tinha segurado o Henry pelo braço, mas que ele nem tinha caído no chão. Pedi pra que não brincasse mais assim. Ele disse que eu mimava demais o Henry (...)".
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Jairinho e Monique (de branco) na quarta audiência de instrução do Caso Henry Borel — Foto: Reprodução/TV Globo
Primeira suposta agressão
Monique relembrou o dia que a babá Thayná Oliveira Ferreira relatou agressões a Henry, quando ela estava no salão.
"No dia 12 de fevereiro, fui para um salão para fazer o cabelo e deixei o Henry em casa com a Leila e com a babá Thayná. E a Leila me ligou dizendo que o Jairinho tinha chegado em casa e que tinha ido para o quarto com o Jairinho. Estavam com a TV alta, com som de desenho e que tinha ficado lá por seis minutos".
Ao sair do quarto, segundo ela, o filho foi para o colo da babá e fez uma chamada de vídeo para ela.
"O Henry fez uma chamada de vídeo comigo me perguntando se eu atrapalhava a vida dele, que o tio Jairinho disse que eu atrapalhava".
A babá, segundo ela, ligou por volta das 15h40 dizendo que Henry contou que tinha levado uma banda do "tio Jairinho" e que estava com o joelho doendo. "Às 17h40, eu estava em casa".
Ela nega que tenha continuado no salão após os relatos do filho.
"Fui julgada e condenada de acordo com o depoimento da polícia, que eu fiquei quatro horas no salão enquanto meu filho era espancado. Mas isso não aconteceu. Assim que ele me fala que ele tinha levado uma banda, eu voltei".
Em casa, Monique contou que voltar a questionar o filho sobre o que aconteceu.
"Perguntei ao Henry sobre o que tinha acontecido e ele disse que o tio Jairinho tinha empurrado da cama, ele escorregou e caiu no chão. Perguntei de novo, e ele falou que tinha escorregado e caído no chão. Confesso que fiquei sem acreditar. Jairinho tinha dito que ele escorregou da cama e caiu. Como diretora de escola, sou orientada a ouvir o relato da criança junto com um laudo médico. E assim, eu fiz, mas nada foi atestado no joelho do Henry".
Ela contou também sobre as brigas que tinha com Jairinho e disse que em uma delas, ele chegou a pisar nas roupas de Henry.
"Um episódio, a gente brigou e eu disse que ia embora, pra casa de Bangu. Comecei a arrumar uma mala com as roupas do Henry, e ele começou a pisar em cima das roupas do Henry. Fiquei desesperada, peguei meu filho e disse que embora sem as roupas, e ele disse que se eu fosse, eu nunca mais pegar nada meu. Aí fui para o outro quarto com o meu filho".
Em outro episódio, disse que foi enforcada por Jairinho.
"Ele foi me enforcando da sala de jantar até a porta da cozinha. Falei que ia embora e ele pegou as minhas malas e começou a quebrar tudo".
Ritual durante o sexo
Segundo ela, só havia trégua no momento de intimidade.
"As brigas só diminuíam quando a gente namorava. Mas até para isso o Jairinho tinha um ritual. Era sempre ele por cima de mim, me enforcando e pedindo pra eu dizer que ele era o único homem da minha vida. Que eu nunca tinha ficado com outro homem. (....) Ele insistia pra eu dizer que ele era o único. Ele só namorava assim".
Dia da morte de Henry
Monique também relembrou o dia em que o filho morreu.
"Subi com o Henry no colo, dei de cara com o Jairinho no elevador. Estava indo me buscar. Subimos juntos, mas de cara fechada porque o Jairinho estava querendo me controlar".
Ela chorou ao lembrar o que o filho falou:
"Mamãe, vou cuidar de você pra sempre".
Disse como soube que havia algo errado com o filho.
"Estávamos bebendo vinho. Não sei se nesse dia, ele colocou um comprimido na minha taça. (...) Por volta das 3h40, o Jairinho me acordou dizendo que tinha ouvido um barulho no quarto do Henry. Disse que ele tinha encontrado o Henry caído no chão, tinha pegado ele e colocado na cama de novo. Estranhei porque o Henry estava descoberto e ele sempre dormia enroladinho no edredom".
A professora falou que viu o filho de "olho aberto, olhando pro nada". E que Jairinho falou que eles deveriam levar o menino para o hospital.
"Eu vi todo o procedimento de reanimação no meu filho. Eles aplicaram 8 injeções de adrenalina, fizeram massagem cardíaca, quando um cansava, vinha outro. Eu vi meu filho ser entubado. Vi tudo isso e não vi um roxo no meu filho. Eu vi meu filho pelado e ele não tinha um roxo", disse chorando muito.
A tentativa de reanimação, segundo ela, levou duas horas. "Às 5h52, vieram me dizer que ele tinha morrido. Foi como se tivesse arrancado um pedaço de mim. "Só pensava em me matar, em me jogar na frente de um carro".
Após a morte do filho, ela contou que teve uma crise de pânico, tirou o mega hair e roeu as unhas. Foi então ao shopping fazer uma blusa em homenagem ao filho e, enquanto aguardava a blusa ficar pronta, foi ao salão "ajeitar o cabelo".
Monique voltou a chorar ao lembrar do velório do filho.
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Monique chora ao lembrar o dia que Henry morreu — Foto: Mauricio Almeida/Estadão Conteúdo
Jairinho se disse intimidado por Leniel
Monique contou como foi apresentada ao advogado André França. Segundo ela, Jairinho teria se sentido intimidado por Leniel Borel, no dia do enterro de Henry, e teria achado melhor consultar um advogado. André França pediu para Monique contar tudo de "ruim" que tinha acontecido no casamento com Leniel.
"O dr. André França me treinou para eu dizer em sede policial. Mesmo não me sentindo culpada, porque não tinha feito nada de errado, concordei. Ele cobrou R$ 2,3 milhões para entrar no caso".
Segundo ela, ele pediu R$ 300 mil em espécie e R$ 2 milhões "limpos", para o imposto de renda. E Jairinho teria prometido passar a casa de Mangaratiba para ele.
"Em meu primeiro depoimento, fui treinada a dizer que eu acordei primeiro e que Jairinho dormia. Depois, com novos advogados. mudei essa versão. Mas não é só uma versão. Tenho prova de que ele estava acordado e eu dormindo".
"Em doses homeopáticas , eles estavam sempre me induzindo a ter raiva do Leniel".
Monique contou ter tido acesso a um laudo que dizia que a Henry deu entrada no IML vindo do Hospital Lourenço Jorge, de fralda, e que ele apresentava íris castanhas e que a laceração hepática tinha sido feita entre 24 ou 48 horas antes.
"Mas desconfiei porque meu filho tinha ido do Barra D'Or, nu e tem olhos azuis".
"Meu filho não tinha roxo, não tinha porque eu não acreditar que tinha sido um acidente doméstico".
Ela explicou também a foto feita na delegacia, em que aparece relaxada, com os pés sobre uma cadeira.
"Uma tia me mandou mensagem perguntando onde eu estava e como eu estava. Fiz uma selfie para mostrar que eu estava na delegacia. Tinha tirado o sapato porque estava apertando muito o meu pé, e eu coloquei em cima da cadeira".
O depoimento
A professora falou que nunca combinou nenhuma versão com Jairinho.
"Eu estava com ele [Jairinho] porque eu acreditava que meu filho tinha sido vítima de um acidente doméstico. Não tinha processo por tortura, outras crianças, agressão à ex-namorada. Eu namorava há dois meses com o vereador do Rio de Janeiro, acima de qualquer suspeita".
Ela disse que o depoimento foi considerado "perfeito" pela família de Jairinho.
"Após o depoimento, fomos para a casa do coronel Jairo e abriram uma garrafa de vinho para comemorar porque o depoimento tinha sido perfeito, e eu não tinha percebido que eu estava me colocando como álibi do Jairinho. Assim como eu, todas as namoradas do Jairinho foram treinadas para dar depoimento".
Disse que a babá Thayná mentiu e que ela nunca mandou ninguém apagar mensagem de WhatsApp. O pedido, segundo ela, foi feito pela irmão de Jairinho.
O dia da prisão
Monique contou que ela e Jairinho foram para a casa da tia dele no dia da prisão para fugir da imprensa.
A juíza pediu para Monique explicar por que ela é Jairinho estavam com telefones que foram jogados fora no ato da prisão.
A professora disse que estava dormindo e que não sabe como se deu o fato, mas que Jairinho estava sim com um Iphone.
A magistrada perguntou ainda se ela acredita na tese de que o filho foi vítima de um acidente doméstico.
Monique diz que não sabe, mas que as únicas pessoa que sabem o que aconteceu são "Deus, Henry e Jairinho, que estava acordado".
Ameaças de interna, advogada e policial penal
Durante o interrogatório, a professora relatou que foi ameaçada por outras presas — uma delas seria a interna com quem divide cela. As ameaças, segundo ela, se estendem a sua família e advogado.
"A última vez que fui ameaçada foi na segunda (7). Sofri ameaça de morte de mais de 20 presas, e uma delas está dentro da minha cela. Elas diziam que eu era assassina de criança, que iam me dar canetada no ouvido, que iam jogar água fervendo em mim".
Depois desse depoimento, a juíza tentou tranquilizar Monique dizendo que cuidaria "pessoalmente" da segurança da professora na prisão. A magistrada também pediu a Monique que escrevesse em um papel o nome da interna que a ameaçou na cela.
Em seguida, mandou transferir a presa que divide cela com Monique.
Em outro momento da fala, Monique reiterou denúncia que fez contra a advogada Flávia Froes. Segundo a professora, a advogada teria dito que ela (Monique) estava "com a cabeça a prêmio".
Segundo a professora, quando se conheceram Flávia se apresentou como amiga da família e disse que se solidarizava com a dor dela. Disse ainda que estava ali para ajudar, mesmo não sendo advogada oficial de Monique.
Ainda no interrogatório, Monique afirmou que Flávia Froes teria dito que "fala todos os dias por telefone com Jairinho" – ex-companheiro e também réu pela morte de Henry – e que ele estava "muito deprimido".
A mãe de Henry também disse que Flávia teria apresentado um documento pra ela assinar, que corroboraria uma tese única de defesa.
Mas a professora afirmou ter negado, e em seguida teria ouvido a seguinte frase da advogada: "acho melhor você colaborar, sou amiga do coronel Jairo [pai de Jairinho], advogada do Comando Vermelho. Acho que seria melhor. Sua cabeça está a prêmio".
Monique falou ainda que recebeu ameaças veladas de uma policial penal, que teria ido a sua cela e dito que ela deveria ser "muito grata ao seu sogro, o Coronel Jairo".
A professora disse ter respondido que Jairo não era sogro dela, e como tréplica ouviu o seguinte do policial: "Seu sogro mandou dizer que você tem que ter gratidão por ele".
Promotor interroga Monique
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Promotor Fábio Vieira — Foto: Eliane Santos/g1 Rio
O promotor Fábio Vieira questionou Monique se, diante de episódios de agressão verbal, perseguição e violência, ela não foi capaz de perceber que esse ambiente era capaz de causar dano a Henry.
"Não via como um suposto agressor de crianças. Ele era uma pessoa gentil e agradava muito o Henry".
Ela conta que uma vez Jairinho fez ameaças contra Leniel. "Que podia prejudicar o Leniel se eu continuasse falando com ele".
O promotor voltou a questionar sobre o convívio de Jairinho e Henry.
"Não vi problema em ir morar com ele. Ele era muito agradável, as pessoas chamavam ele de príncipe pra mim. Não vi problema do Henry morar com Jairinho porque ele nunca teve problema com meu filho", reiterou Monique diante da insistência do promotor.
O promotor perguntou se "o jeito que a família de Jairo ganha dinheiro possibilitaria ameaçá-la no presídio", e Monique responde: "Sim".
Depoimento de Jairinho foi rápido
Caso Henry: 'Nunca encostei um dedo em um fio de cabelo do Henry", diz Jairinho
Antes da ex-namorada, Jairinho falou rapidamente na quarta audiência de instrução sobre o caso.
“Por Deus, nunca encostei uma mão num fio de cabelo do Henry”, afirmou.
Jairinho também pediu a produção provas técnicas antes de poder falar em autodefesa — como imagens de câmeras do hospital para onde Henry foi levado, do raio-x do menino e das três folhas do prontuário médico — sem as quais não mais falaria sobre a morte de Henry.
A magistrada afirmou que só no momento de uma possível pronúncia (a confirmação do julgamento) que essas provas poderiam ser pedidas. Jairinho mais nada disse e foi dispensado. Ele não foi ouvido pelo MP.
A transmissão do depoimento de Jairinho foi suspensa pela juíza, a pedido da defesa.
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Monique Medeiros em depoimento no julgamento do Caso Henry — Foto: Reprodução/TV Globo
O que são audiências de instrução?
Audiências de instrução e julgamento são sessões preliminares em que são ouvidas testemunhas, advogados e réus para que o juiz possa ser convencido se houve crime e qual a natureza desse crime.
Parte desse rito aconteceu no dia 6 de outubro, quando foram ouvidas testemunhas de acusação; e nos dias 14 e 15 de novembro, quando algumas testemunhas de acusação e outras de defesa foram convocadas pelas duas defesas para prestarem depoimentos. Agora, por fim, os réus nesta quarta-feira.
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Audiência do caso Henry Borel, com presença de Jairinho e Monique Medeiros — Foto: Brunno Dantas/TJ-RJ
O que acontece depois?
A audiência pode determinar se Jairinho e Monique – acusados de homicídio triplamente qualificado pela morte do menino Henry – cometeram algum crime intencional contra a vida e devem ir a júri popular, se só cometeram outros crimes e devem ser processados em outras instâncias ou não cometeram crime algum e devem ser absolvidos.
Após ouvir todas as testemunhas de defesa e acusação, e os réus, a juíza Elizabeth Louro Machado vai se manifestar sobre a audiência de instrução e julgamento, o que pode ser feito de quatro formas:
Pronúncia
Quando o juiz se convence da materialidade do dolo (intenção de matar) e de que há indícios suficientes de autoria ou participação dos réus no crime. A partir disso, ele encaminha o processo para o Tribunal do Júri, onde os réus serão analisados por um Conselho de Sentença formado por sete jurados.
Impronúncia
Quando o juiz não considera as provas suficientes para prosseguir com o processo. Se surgirem novas provas, o caso pode ser reaberto posteriormente.
Desclassificação
Quando o juiz entende que não houve crime contra a vida e encaminha para o órgão competente dar continuidade na apuração do tipo de crime existente. Caso os réus sejam pronunciados por um crime contra a vida, mas tenham outros delitos imputados, o Tribunal do Júri será responsável por julgar todos.
Absolvição sumária
Quando o juiz considera os réus inocentes, a inexistência do fato, ou ainda a existência de causa de isenção de pena — se o acusado possuir, por exemplo, insanidade mental.
Tribunal do Júri
Caso a juíza Elizabeth Louro Machado opte pela pronúncia dos réus Monique e Jairinho, o próximo passo é o julgamento em si na presença de jurados, o chamado Tribunal do Júri.
Vinte e cinco membros são convocados, todos cidadãos comuns, dos quais sete são escolhidos por sorteio para formar o Conselho de Sentença. É desse grupo que, após novos depoimentos das testemunhas e interrogatórios, sai a condenação ou absolvição dos réus pronunciados.
Se os jurados decidirem pela condenação, a juíza elabora a sentença e estabelece a pena de cada um dos acusados(com base em todos os crimes). Pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, tortura e coação de testemunhas, Jairinho e Monique Medeiros podem pegar até 30 anos de prisão.
O caso
Monique e Jairinho estão presos desde 8 de abril acusados pela morte do menino Henry Borel. De acordo com as investigações, a criança morreu por conta de agressões do padrasto e pela omissão da mãe. Um laudo aponta 23 lesões por 'ação violenta' no dia da morte do menino.
O ex-vereador teve um pedido de habeas corpus negado pelos desembargadores da 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. Já a professora entrou com um pedido de relaxamento de prisão no Supremo Tribunal Federal.
Jairinho foi denunciado por:
- homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, tortura e impossibilidade de defesa da vítima), com aumento de pena por se tratar de menor de 14 anos;
- tortura;
- coação de testemunha.
Monique Medeiros foi denunciada por:
- homicídio triplamente qualificado na forma omissiva imprópria, com aumento de pena por se tratar de menor de 14 anos;
- tortura omissiva;
- falsidade ideológica;
- coação de testemunha.