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Sexta, 25 de julho de 2025

Volta do horário de verão volta a ser debatida após alerta sobre risco energético no país

O alerta está no Plano da Operação Energética apresentado pelo órgão e aponta que, em cenários específicos, a mudança de horário ajudaria a aliviar a demanda no período de pico, entre 18h e 21h.

10 de jul 2025 - 08h:45 Créditos: Enfoque MS
Crédito: WCarrilho

O debate sobre a retomada do horário de verão voltou à pauta nacional após o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indicar, na terça-feira (8), que a medida pode ser uma das soluções para garantir o fornecimento de energia entre 2025 e 2029. O alerta está no Plano da Operação Energética apresentado pelo órgão e aponta que, em cenários específicos, a mudança de horário ajudaria a aliviar a demanda no período de pico, entre 18h e 21h.

A proposta surge como parte de um pacote de ações para enfrentar um déficit estimado de 2 GW no sistema elétrico brasileiro. Além do horário de verão, o plano inclui a conclusão de novas linhas de transmissão e o uso de mecanismos como a resposta da demanda — recurso que incentiva consumidores a reduzirem o uso de energia nos momentos mais críticos.

Segundo o ONS, a reativação do horário de verão poderia evitar o acionamento de até 2,5 GW em usinas térmicas, reduzindo custos operacionais e a pressão sobre os reservatórios das hidrelétricas. Ainda assim, o órgão trata a medida como emergencial e temporária, e não uma solução definitiva.

Eficácia em debate

Especialistas ouvidos divergem sobre os possíveis impactos da volta da mudança no relógio. Do ponto de vista técnico, o engenheiro eletricista Luciano Duque, professor na Universidade Católica de Brasília e no UniCeub, considera que o horário de verão perdeu sua relevância diante das transformações no perfil de consumo e geração de energia.

“Hoje o pico do consumo ocorre mais cedo, por volta das 15h, em razão do uso de aparelhos de ar-condicionado. O horário de verão pode até gerar certo alívio, mas não resolve o problema central”, afirma. Para ele, ações como campanhas educativas e o incentivo ao uso racional da energia são mais eficazes.

Duque também alerta para os desafios logísticos e regulatórios de reimplantação da medida. “Além do custo-benefício limitado, há impactos na rotina da população, na produtividade e até no aumento do risco de acidentes”, avalia.

Custos e benefícios

Na avaliação econômica, o retorno do horário de verão também gera controvérsias. O consultor financeiro Gustavo Faria reconhece que a medida pode trazer benefícios pontuais, mas pondera que seu impacto sobre a conta de luz pode ser modesto.

“O Brasil tem uma matriz predominantemente hidrelétrica. As usinas térmicas são acionadas em situações específicas, como períodos de seca. O horário de verão ajuda a adiar esse uso, mas não o evita totalmente”, explica.

Faria destaca que o ganho real pode estar em efeitos indiretos, como a ampliação do tempo de luz natural no fim do dia, o que favoreceria o comércio e atividades de lazer. “Esses impactos, no entanto, variam conforme a região do país e o perfil da população”, completa.

Medida emergencial

Apesar da controvérsia, o ONS defende que o horário de verão seja considerado como uma possível ferramenta de alívio temporário diante do risco de sobrecarga energética. A entidade também reforça a necessidade de leilões para contratação de fontes que ofereçam potência com mais agilidade, como pequenas térmicas, baterias e usinas reversíveis.

O tema já foi alvo de debates anteriores. O horário de verão foi extinto em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro, após estudos indicarem redução da efetividade da medida. Agora, com o novo cenário de demanda crescente e desafios na expansão da geração, a proposta volta à mesa — desta vez, em caráter emergencial.

Enquanto especialistas e autoridades discutem os prós e contras, a população aguarda uma decisão que equilibre segurança energética, economia e bem-estar social.

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