
Muita lacração e pouca história? O remake da novela Pantanal já esteve em alta com os sul-mato-grossenses, mas a adaptação de Bruno Luperi vem decaindo a cada dia, desagradando a população e fazendo até os pantaneiros desligarem a TV.
"Pantanal" já apresenta uma considerável queda de audiência nas últimas semanas e os comentários em relação ao folhetim criado por Benedito Ruy Barbosa estão ficando cada vez piores. "Gostava muito, não assisto mais", "Parei de assistir, muito chato esse Jove e Juma" e "não representa MS" estão entre as principais reclamações.
A história, que antes era queridinha e intocável, começa a afugentar o público. Para os sul-mato-grossenses, algumas situações e detalhes mostrados pela novela são motivos de profunda vergonha alheia seja pela representação dos pantaneiros locais e de Mato Grosso do Sul de forma geral.
Diante dessa "escapada" de telespectadores, o MidiaMAIS separou uma lista de momentos vergonhosos do remake que constrangeram ou ainda estão constrangendo o Estado em que a obra é ambientada. Confira:
Pantanal sem tecnologia
Oi? Fazenda sem televisão, sem sinal de internet, peões sem telefone? O autor Bruno Luperi fez questão de atualizar problemas sociais mas esqueceu de trazer a própria realidade pantaneira para os dias atuais. Não há um sítio em Mato Grosso do Sul que não tenha tecnologia ou a mais simples televisão. E isso há tempos. Talvez, na época da primeira versão, realmente os eletrônicos não fizessem parte do cotidiano, mas, nos anos 2020, mostrar um pantanal desatualizado e avesso às modernidades é absolutamente incompatível.
Conforme relatos de próprios moradores nas redes sociais do MidiaMAIS, hoje em dia todo peão tem um celular na mão e não vive sem WhatsApp. Na novela, a peonada só veio descobrir o aparelho por agora e ainda chama de "priquito" - dialeto visto como esdrúxulo e que serve para estereotipar ainda mais Mato Grosso do Sul.
Ara, diacho, reiva... quem fala assim?
Outro ponto que já até foi queridinho e virou meme foi o vocabulário fictício da obra. Expressões como "ara", "diacho", "réiva" e muitos outros jargões estereotipados do universo caipira também são marca registrada na adaptação de Bruno Luperi. O problema é que ninguém em Mato Grosso do Sul fala assim. A equipe da TV Globo passou quase seis meses no pantanal de MS convivendo com os moradores da região, mas nada disso refletiu no texto não atualizado por Luperi, que manteve as palavras carimbadas das obras de seu avô, Benedito Ruy Barbosa.

Quem já acompanhou outras novelas do veterano, como "Cabocla", "O Rei do Gado" e "Paraíso", sabe que "diacho", réiva" e "ara" são dialetos presentes e que fazem parte do universo rural de Ruy Barbosa, com base no que o mesmo viveu em mil novecentos e bolinha. O tempo em MS parece não ter sido o suficiente para que o neto devoto do avô conseguisse perceber que essas palavras caíram em desuso há muito tempo e não fazem parte do vocábulo pantaneiro sul-mato-grossense.
Banho e chuveiro
A novela foi considerada muito apelativa quando mostrou uma jovem de 22 anos descobrindo o chuveiro no Rio de Janeiro. Sim, Juma, isolada no meio do pantanal de Mato Grosso do Sul só soube da existência do objeto e tomou banho em um banheiro em 2022, e no Rio de Janeiro. Em MS isso não existe? Para os sul-mato-grossenses, a cena foi uma verdadeira vergonha. Ao experimentar o banho de água encanada, a "pantaneira" questionou se o chuveiro estava "cuspindo fogo" nela. É sério isso?

Tereré
Tudo bem que os artistas que estrelam o folhetim global não são sul-mato-grossenses e não têm a obrigação de gostar ou conhecer a cultura do tereré. Eles até disseram curtir e alguns adotaram para a vida, mas a forma como a bebida é inserida nas cenas da trama causam profundo constrangimento a quem é de Mato Grosso do Sul e assiste.

Guta tomando tereré no copo Stanley não passou despercebido - (Foto: Reprodução/TV Globo)
A guampa solta, na maioria das vezes sem uma garrafa de gelo por perto, é um detalhe que choca. Peões e Zé Leôncio andando para lá e para cá com a "cuia" na mão. Ou a forma completamente avulsa com que decidem tomar a bebida, sem o contexto da roda ou do "parar para tomar". Até um copo Stanley já foi usado na obra como guampa de tereré - utensílio que causa a fúria de qualquer sul-mato-grossense. E, nesta vez, não foi diferente: Guta passeava apenas com o copo na mão, sem gelo ou água. Pode isso, Arnaldo? Como esse povo toma tereré?
Roupas
As roupinhas de Filó (Dira Paes) para uma típica pantaneira cozinheira são alvo constante das críticas das moradoras da região, que afirmam que ninguém se veste daquela maneira, com sainhas e blusas de alcinha, dentro de uma cozinha no Pantanal.
E a Guta regatinha, que polemiza e adora militar, mas parece não conviver com mosquitos, mutucas, muriçocas e tantos outros insetos. A propósito, a ausência da ambientação sonora dos sapos e grilos cantando e toda a sonorização da natureza pantaneira está ausente no remake - característica muito presente na versão original da Manchete.