Rastreador colocado em uma mochila “entregou” à polícia suspeito de arrombar carros em Campo Grande para furtar celulares, notebook e até drones avaliados em R$ 30 mil. De acordo com investigação da Derf (Delegacia Especializada na Repressão de Roubos e Furtos), Edileno de Araújo Trindade, 35, conhecido como “Alemão”, teria furtado ao menos 43 veículos entre o fim de março e fim de maio, sempre em bairros nobre da Capital.
Conforme registrado pela Derf em relatório enviado à Justiça, depois de ter o carro furtado próximo a uma pizzaria na Rua Bom Pastor, no dia 28 de abril, um agrônomo informou à PM (Polícia Militar) o endereço indicado por rastreador colocado numa mochila onde ele carregava um notebook e outros pertences. Policiais estiveram na casa de Edileno, na Vila Palmira, região do Santo Amaro, e o suspeito alegou que não havia saído de casa naquele dia e por isso, seria impossível que um notebook furtado estar no imóvel.
Sem mandado para fazer buscas ou prisão, os PMs tiveram de deixar o local. Acontece que horas depois, a vítima notou que o rastreador apresentou nova movimentação. Desta vez, da casa no Santo Amaro até na MS-080. A polícia novamente foi informada e na manhã do dia seguinte, às margens da rodovia, militares encontraram oito computadores abandonados, além da mochila rastreada. “Todos os notebooks localizadas eram provenientes de furtos mediante arrombamento de veículos”, informou a Derf, elencando os registros dos furtos.
No dia 9 de maio, o delegado Jackson Frederico Vale representou pela prisão preventiva do suspeito e pediu à Justiça que os endereços ligados a Alemão fossem vasculhados por ordem judicial em buscas de mais provas. O juiz Roberto Ferreira Filho, da 1ª Vara Criminal, autorizou as buscas no dia 15 e a determinou a prisão no dia 16 do mês passado, exigindo relatório detalhando toda a ação num prazo de 5 dias úteis após o cumprimento das ordens judiciais.
Busca e apreensão – Policiais da Derf foram até a casa no Santo Amaro, onde encontraram Edileno, a esposa e mais uma pessoa, no dia 29 de maio e ainda de acordo com o relatório enviado ao Judiciário, ninguém atendeu ao portão, que teve de ser arrombado.
Ainda segundo o documento, o suspeito se irritou ao ser acusado de furtos. “Mostrou-se agressivo dizendo ser ‘cigarreiro’, ou seja, contrabandista de cigarros, e que ‘não mexia com furtos’”. Alemão teria de debatido e se jogado no chão. Por isso, arranhado o rosto. Ele foi algemado.
Durante buscas, o primeiro objeto que policiais encontraram e que também liga Edileno aos furtos, por ironia do destino ou não, foi um Vade Mecum, considerada a “bíblia” dos advogados. O livro que reúne a legislação brasileira resumida estava assinado com o nome de uma das vítimas dos arrombamentos de veículos da Capital investigados pela Derf.
À polícia, o homem chegou a dizer que o livro era “problema da esposa”. Ela negou e levou a equipe de investigadores a sítio no Assentamento Santa Mônica, que pertenceria a Edileno. Numa casa abandonada, que policiais desconfiam ser usada como entreposto para contrabando, foi encontrado armamento ilegal – 1 pistola da marca Luger, modelo M90 e calibre 9 mm, e 3 carregadores de pistola da marca Glock, todos de calibre 9 mm.
Em interrogatório, Alemão admitiu não ter a documentação das armas, negou que tivesse furtado os notebooks, mas confessou o arrombamento e furto de drones avaliados em R$ 30 mil, indicando para a polícia onde estavam os equipamentos, que foram recuperados.
O alvo da Derf utilizava um veículo GM Tracker branco ou um HB20 para rodar por bairros da Capital com aglomerações de bares e restaurantes, escolhia carros estacionados, que possuíam objetos aparentes em seus assentos e tapetes, e os arrombava. Ainda conforme a investigação, ele usava lanterna para conseguir enxergar o interior dos veículos, agia em cerca de 15 minutos e chegou a praticar 8 furtos num só dia.
Alegação de tortura – Dois dias após as buscas e a prisão, a defesa de Alemão fez pedido para ter acesso às imagens das câmeras de segurança da casa do suspeito que foram levadas pela polícia. A advogada Thaís Priscilla do Couto Lara alega que o cliente foi “brutalmente agredido pelos policiais que exigiam a todo momento que este assumisse quase 40 furtos realizados em um curto espaço de tempo, ameaçado durante toda a operação e obrigado a levar os policiais em diversos endereços”.
A defesa pediu que Edileno passasse imediatamente por exame de corpo de delito para que fossem registradas as marcas da “tortura”. O mesmo pedido traz lista de objetos que pertenceriam a esposa do investigado e teriam sido apreendidos.
A Polícia Civil ainda não concluiu a investigação sobre o caso. O investigado, segundo a Polícia Civil, já respondeu por tráfico de drogas, contrabando de cigarros, furto qualificado, receptação, posse de armas de fogo e outros crimes. Ele está preso em caráter preventivo (por tempo indeterminado).