"Foi um episódio fora do comum. Por que, na hora que eu comecei a sentir o cheiro…". Indignada após um passageiro fazer cocô em seu veículo de trabalho, a motorista de aplicativo Sônia Souza ficou no prejuízo e impossibilitada de trabalhar por dois dias em Campo Grande.
Conforme ela, que atua há quase três anos dirigindo pelas ruas da Capital, o maior problema foi o fato do passageiro não ter avisado, já que ela poderia tê-lo ajudado de alguma maneira.
"Eu trabalho de máscara e cada vez que o passageiro sai do meu veículo eu borrifo álcool, então fica aquele cheiro do álcool no carro. Peguei esse passageiro e era uma corrida curta, aí, de repente, começou a querer vir um cheiro… eu falei 'não, deve ser que a pessoa peidou, não é possível. Ou pisou num cocô e entrou no carro'", conta ela sobre o que pensou a reportagem.
Assim que o passageiro desceu, a motorista borrifou o álcool e seguiu o caminho, mas o fedor não diminuiu. Sem imaginar ou querer o cogitar a pior possibilidade, Sônia andou meia quadra negando o que já era dado como certo. "O cheiro continuou forte. Eu fechei os vidros para borrifar álcool, encostei o carro, liguei a lanterna do celular e olhei com calma pra ver se tinha alguma coisa. Aí eu vi o meu banco sujo. Era fezes. Falei 'nossa, não acredito'", diz a motorista.
"Ele nem me avisou na hora, que estava passando mal ou algo assim. Porque se a pessoa fala que está passando mal eu sempre ando com uma sacola de lixo daquelas grandes, caso seja preciso forrar o banco ou se a pessoa estiver molhada… aí na hora eu fiquei indignada", relata a trabalhadora.
O pior veio depois, com o prejuízo por não poder rodar com o carro, e pela limpeza do veículo, não coberta totalmente pela Uber. "Fiquei domingo sem trabalhar porque esse tipo de serviço é uma lavagem especial e o lava-jato que faz isso é só na segunda-feira. Aí segunda cedo eu levei pra lavar, mandei a nota fiscal da limpeza para o aplicativo, o aplicativo cobrou do passageiro e me reembolsou uma parte só, não me pagou 100% de tudo que eu gastei", revela Sônia.
Apesar do transtorno e do peso da situação em seu bolso, para ela, o silêncio do passageiro foi o pior de tudo. "Mas o que me deixou mais 'de cara' é que a pessoa não avisou. E como eu uso máscara, demorei pra perceber a situação, infelizmente", diz ela, rindo de nervoso e lamentando os dois dias de trabalho que perdeu, já que só pegou o veículo de volta na segunda-feira à tarde.
Mais perrengues
Certa vez, Sônia autorizou uma passageira a entrar em seu carro bebendo cerveja. O problema é que a moça derrubou todo o líquido e o automóvel ficou fedido. "Não dá pra você trabalhar. Então hoje eu não deixo mais entrar comendo e nem bebendo dentro do carro. E as pessoas ficam bravas", comenta a motorista.
"O povo xinga e xinga feio, começam a socar o carro. Isso é uma coisa absurda. Até de 'vagabunda' já me chamaram porque eu não quis levar uma criança tomando uma casquinha, falam que a gente não quer trabalhar", relata, afirmando que esses são apenas alguns dos inúmeros perrengues que já enfrentou.
Vida de motorista de app
Motorista de aplicativo há quase 3 anos, Sônia diz a reportagem que costuma trabalhar em todas as regiões de Campo Grande. "Sempre observo bem antes de embarcar qualquer passageiro. Virei motorista de aplicativo pela independência, faço minhas metas e consigo definir quanto vou ganhar", conta ela.
Além disso, a motivação vem pelo gosto. "Eu gosto de dirigir. Hoje com tudo muito caro, preciso trabalhar um pouco mais. A gasolina abaixou um pouco, mas a manutenção e outros serviços não", finaliza a motorista, que segue na luta e cada vez mais precavida de situações embaraçosas como as fezes de um passageiro.