O espirro é um reflexo que tem como objetivo proteger as vias aéreas e expulsar algum tipo de alérgeno ou vírus que entrou ali. Ele pode ser um espirro alérgico, quando a gente mexe com pó, em um ambiente de ácaros, e as vias aéreas ficam irritadas e espirramos na tentativa de nos livrarmos desse alérgeno que acabou de ser inalado. Ou quando você está resfriado e as vias aéreas ficam cheias de muco. O espirro é a tentativa de tirar o excesso desse muco.
Claro que existe também o espirro de reflexo, que é aquele que você dá depois de alguma irritação - seja olhar para o sol ou chupar uma bala ardida. Mas, normalmente, o espirro tem sempre um fim de eliminar alguma coisa nociva para o organismo. Ou excesso de muco ou um alérgeno: cigarro, ácaro, poeira.
Então, indo nessa linha, como o objetivo dele é proteger a via aérea, tentar segurar o espirro é ir de encontro à natureza principal do espirro. Por isso, segurá-lo pode sim causar algum efeito nocivo.
Como funciona o espirro?
Antes de espirrar você faz uma inspiração profunda e o ar fica preso no pulmão - até a glote e as cordas vocais se fecham para que ele fique totalmente acumulado ali. Nesse momento, a pessoa tem uma contratura súbita, na qual os músculos do abdômen e os músculos intercostais jogam esse ar para fora. E esse ar sai numa força absurda, uma velocidade que é em torno de 160 km/h. Então se esse monte de ar represado não sai pelo nariz e pela boca, que é o objetivo, ele vai para algum lugar - e o mais comum é ir para a tuba auditiva.
A tuba auditiva é um canal que conecta nariz e ouvido e serve para equalizar as pressões da orelha média (ou cavidade timpânica) quando você tem alguma descompressão - como andar de avião, subir uma montanha, descer a serra. A pessoa sente que o ouvido entope, aí ela vai engolindo ou bocejando, o que faz abrir a tuba auditiva: o ar entra e as pressões ficam iguais, a externa e a interna.
Quando esse ar entra ali pode acontecer a perfuração do tímpano, que a gente chama de barotrauma, como quando acontece quando a pessoa mergulha muito profundamente sem equalizar a pressão. Isso é bem comum. Outra coisa que pode acontecer é o ar entrar na orelha média e traumatizar o labirinto - o que pode gerar uma labirintite aguda.
Outras complicações
Além do ouvido, segurar o espirro pode causar outras complicações no corpo, que, apesar de raras, podem acontecer também, como o rompimento do vaso ocular, descolamento de retina ou até gerar um acidente vascular cerebral (AVC). Mas isso acontece em pacientes que têm deformidades ou patologias preexistentes, como um aneurisma. Então a pressão do espirro retido é tão grande que há o aumento súbito da pressão intracraniana - e esse vaso que tinha parede delgada se rompe, gerando uma hemorragia.
Segurar o espirro é uma grande besteira, mas muita gente o faz, especialmente por medo de ser julgado por pessoas próximas por causa da covid.
A forma correta de espirrar é criar algum tipo de barreira para reter os vírus. Afinal, quando espirramos jogamos uma quantidade muito grande de germes - algo em torno de 100 mil germes por espirro - no ambiente e isso pode prejudicar os outros. Se tiver um lencinho, ótimo, porque assim já sai o muco junto. Mas caso não tenha no momento, proteja com o antebraço. Espirrar na mão pode fazer com que eles se espalhem para a maçaneta, a cadeira, a mão de outra pessoa.
Ficar assoando o nariz repetidas vezes, e forçar a saída do muco, também pode ser prejudicial. Claro que não na mesma medida de segurar o espirro, porque a força e a velocidade é muito maior, mas pode, sim, causar algum trauma no ouvido.