Pesquisadores espanhóis identificaram uma molécula promissora no combate ao alcoolismo. Batizada de MCH11, ela mostrou capacidade de reduzir o consumo de álcool e a vontade de beber em camundongos, além de aliviar sintomas de abstinência. Embora ainda não existam estudos em humanos, os cientistas acreditam que a descoberta pode futuramente contribuir para tratamentos personalizados da dependência alcoólica.
O estudo foi publicado em 21 de outubro na revista Biomedicine & Pharmacotherapy e é resultado de quatro anos de pesquisas conduzidas pelo Instituto de Neurociências (UMH-CSIC), pelo Instituto de Saúde e Pesquisa Biomédica de Alicante (ISABIAL) e pela Rede de Pesquisa em Dependência Química na Atenção Primária (RIAPAD).
Como funciona a MCH11
De acordo com o pesquisador Abraham Torregrosa, as atuais terapias para transtorno por uso de álcool apresentam “sérias limitações”, com até 70% dos pacientes recaindo no primeiro ano. Diante disso, a equipe concentrou esforços no sistema endocanabinoide, responsável pela regulação do prazer, motivação e estresse — áreas diretamente afetadas no alcoolismo.
A molécula MCH11 age bloqueando a monoacilglicerol lipase, enzima que degrada o 2-AG, uma substância ligada ao bem-estar e ao controle dos impulsos. Ao inibir a enzima, a molécula aumenta a disponibilidade do 2-AG, o que diminui o impulso de beber e os sinais de abstinência.
Segundo o professor Jorge Manzanares, da Universidade Miguel Hernández (UMH), os testes mostraram que a molécula atua sem provocar efeitos colaterais relevantes nos camundongos, preservando funções motoras e cognitivas. Além disso, o tratamento demonstrou reduzir sintomas de ansiedade e depressão associados ao alcoolismo.
Resposta diferente entre machos e fêmeas
Os experimentos identificaram diferenças importantes entre os sexos:
• Machos responderam bem a doses baixas e médias;
• Fêmeas precisaram de doses mais altas para obter o mesmo efeito.
Análises genéticas também revelaram que o MCH11 pode corrigir alterações em genes associados ao transtorno por uso de álcool, embora, novamente, as fêmeas necessitem de doses maiores.
Combinação com medicamento já existente
A equipe também testou o uso de MCH11 em conjunto com o topiramato, medicamento já utilizado em tratamentos para dependência alcoólica. A associação se mostrou a estratégia mais eficaz, reforçando o potencial do MCH11 como parte de terapias combinadas e personalizadas.
Apesar dos resultados animadores, Manzanares destaca que o caminho até um possível uso clínico é longo: “Os resultados são promissores, mas ainda preliminares”.



