O presidente Jair Bolsonaro (PL) dará início oficial à campanha pela reeleição nesta terça-feira (16) com sua equipe se dizendo otimista com a expectativa de colher impacto eleitoral com a melhora de indicadores econômicos e o pagamento de benefícios sociais recém-aprovados.
Na primeira etapa da campanha, a estratégia será intensificar agendas nos estados do Sudeste, para buscar consolidar seu desempenho nos maiores colégios eleitorais do país, e tentar reverter a rejeição entre jovens e mulheres.
Para isso, a campanha aposta numa maior presença da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em eventos eleitorais e em viagens.
Em segundo lugar nas pesquisas, o presidente vinha amargando desde o início do ano más notícias, em especial no setor econômico, aumentando ainda mais a pressão no seu entorno diante da proximidade do pleito e da estagnação nas pesquisas.
No último Datafolha, ele aparece com 29% das intenções de voto no primeiro turno, contra 47% de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Mas, na semana que antecedeu o início oficial da campanha, Bolsonaro e seus aliados tiveram um momento de alívio com a indicação de melhora em pesquisas internas.
A campanha atribui a mudança especialmente à queda na inflação e no preço dos combustíveis.
A aposta do entorno do mandatário é que ele deve crescer nos levantamentos nas próximas semanas, com queda na inflação e pagamentos de benefícios sociais turbinados, no valor total de R$ 41,25 bilhões, às vésperas da eleição.
Na esteira da queda no preço dos combustíveis e da energia elétrica, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) registrou deflação (queda de preços) de 0,68% em julho. É a menor taxa já registrada desde 1980.
A queda, contudo, ficou concentrada especialmente em transportes e habitação.
Os alimentos e as bebidas subiram 1,3% no período.
A comida cara castiga sobretudo o bolso dos mais pobres, faixa do eleitorado em que o presidente tem mirado para melhorar o seu desempenho.
No último dia 9, mais de 20 milhões de famílias passaram a receber R$ 600 do Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família.
O montante será pago até o final do ano. O aumento do valor do benefício está no mesmo pacote que dobrou o valor do vale-gás e concedeu um auxílio a caminhoneiros autônomos.
Nesse quadro, os recentes atos de leitura de cartas em defesa da democracia, que contaram com o apoio de importante parcela do empresariado, foram minimizados pela campanha de Bolsonaro. Aliados do mandatário classificaram o movimento como "petista".
A estratégia do entorno do presidente para fazer frente às adesões aos textos pró-democracia é dobrar a aposta nos atos bolsonaristas previstos para o 7 de Setembro.
A expectativa é conseguir no Dia da Independência uma forte adesão de apoiadores e, dessa forma, projetar força nas ruas. Bolsonaro e aliados intensificaram na última semana as convocações para as manifestações do feriado.
As agendas de Bolsonaro nesta primeira semana ficarão focadas nos três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Dos mais de 156 milhões de brasileiros aptos a votar neste ano, quase 67 milhões estão na região Sudeste.
Nesses estados, Bolsonaro pretende fazer acenos às bases de seu eleitorado: pessoas ligadas à agricultura, com participação na Festa do Peão de Barretos; e militares, com a solenidade de entrega do espadim na Aman (Academia Militar de Agulhas Negras).
O presidente, que tenta transformar o processo eleitoral numa narrativa do bem contra o mal, vai dar início à sua campanha em Juiz de Fora (MG), onde sofreu um atentado com faca em 2018.
Aliados consideram o local simbólico e dizem que o ato foi pensado para representar o "renascimento" do chefe do Executivo.
Além disso, acreditam que a ida a Minas Gerais no primeiro dia de campanha reforçará a lembrança de que Bolsonaro foi vítima de um grave ataque que colocou em risco sua vida, o que consideram que ajudará a esvaziar o discurso de que o mandatário estimula a violência política. Sua passagem pela cidade mineira contará ainda com uma motociata.
Depois, o presidente deve ter compromissos em São Paulo e Rio. No dia 19, deve voltar a Minas Gerais.
Desta vez, porém, a previsão é que vá a Belo Horizonte para a inauguração do TRF-6 (Tribunal Regional Federal da 6ª Região).
Outra decisão da campanha de Bolsonaro é manter a ofensiva para conquistar o eleitorado feminino e jovem.
Há uma avaliação de que a abordagem de intensificar mensagens para mulheres e jovens reduziu a rejeição desses eleitores ao presidente na fase da pré-campanha.
De olho nos jovens, a participação de Bolsonaro no podcast Flow, que durou mais de cinco horas e bateu recordes no YouTube, foi muito bem avaliada pela campanha.
A ideia é que ele participe cada vez mais de entrevistas nesse formato. No sábado (13) ele já deu entrevista ao canal de YouTube de Rica Perrone, simpático ao presidente.
Nos últimos meses, estrategistas de Bolsonaro também convenceram o presidente a focar seus discursos no público feminino.
Depois disso, ele passou a destacar ações do governo voltadas às mulheres, como a entrega de títulos rurais a mulheres.
O chefe do Executivo acumula em seu histórico uma série de declarações machistas e chegou inclusive a ser condenado por apologia ao estupro por ter afirmado que a deputada Maria do Rosário (PT-RS) não "merece ser estuprada".
Além disso, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que é evangélica e muito próxima do segmento, passou a acompanhar Bolsonaro em eventos religiosos.
Também compareceu em atos políticos, como na convenção do PL que oficializou Bolsonaro e Braga Netto na chapa que concorrerá à reeleição.
Neste sábado (13), a participação do presidente na Marcha para Jesus, no Rio de Janeiro, foi marcada pelo protagonismo de Michelle, que pulou, fez coreografias ao som de canções evangélicas, mandou beijos para a plateia e puxou uma oração.
No palco montado no sambódromo, ela foi recebida com gritos de "Michelle" pelo público e, em sua fala, prometeu "trazer a presença do Senhor Jesus" para o governo.
Já em clima de campanha, na última sexta-feira (12), o mandatário deixou o expediente no Palácio do Planalto mais cedo para gravar inserções com candidatos em Brasília.
Ele ficou mais de três horas na produtora contratada pelo PL e gravou com dezenas de aliados que concorrerão à Câmara, ao Senado e ao governo.
Estiveram lá, por exemplo, Vitor Hugo (PL), candidato a governador de Goiás, e Hamilton Mourão (Republicanos), atual vice-presidente que disputa uma vaga no Senado pelo Rio Grande do Sul.