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Domingo, 22 de dezembro de 2024

Clube de tiro do Estado é suspeito de repassar arsenal ao crime organizado

Pedreiro com registro de CAC tinha pistolas, fuzis de assalto e coletes da polícia e sua prisão deu início à investigação da PF

15 de out 2022 - 11h:00 Créditos: DOURADOS AGORA
Crédito: REPRODUÇÃO

A prisão do pedreiro Narciso Chamorro, 32 anos, no dia 5 deste mês, nas Moreninhas, em Campo Grande, desencadeou um inquérito da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul que tem o objetivo de desarticular um esquema de transferência de armas adquiridas legalmente por meio de colecionadores, atiradores desportivos e caçadores (CACs) para o crime organizado. 

As armas, segundo investigação da Polícia Federal à qual o Correio do Estado teve acesso, podem estar sendo repassadas para quadrilhas especializadas em crimes de grande potencial ofensivo, como roubo a bancos e também para a prática do chamado domínio de cidades, conhecido como “novo cangaço”. 

Nesta sexta-feira (14), a Polícia Federal deu continuidade às investigações, que tiveram início com a prisão em flagrante de Narciso, e desencadeou a Operação Ópla, que cumpriu sete mandados de busca e apreensão em Campo Grande e em Maracaju. 

A operação contou com o apoio do Exército Brasileiro e cumpriu mandados de busca e apreensão em clube de tiro e de caça da Capital. 

Com o pedreiro que tinha registro de caçador e supostamente trabalhava para o dono de um clube de caça, a Polícia Federal encontrou três pistolas Glock 9 milímetros, quatro fuzis 7,62 milímetros e centenas de munições, toucas ninja, coletes da Polícia Civil, boné de clube de tiro, entre outros itens.


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O FLAGRANTE

Chamorro, que agora está preso preventivamente, disse à Polícia Federal ao ser preso que, mesmo não sendo praticante do tiro esportivo nem nunca tendo participado de nenhuma competição esportiva de tiro, gosta de caçar javalis.

O pedreiro tem o certificado de CAC, o qual ele tirou na época em que trabalhou para Rodrigo Donovan, proprietário do clube de caça Golden Boar, conforme consta no auto de prisão em flagrante lavrado pela Polícia Federal. 

Chamorro disse aos policiais ter conhecido Rodrigo Donovan há aproximadamente 1 ano, quando efetuou uma obra para ele, na cidade de Maracaju. 
Na ocasião do flagrante, no início deste mês, a Polícia Federal apreendeu o carro de Chamorro, um GM

Corsa em mau estado de conservação, que estava estacionado perto do Parque Jacques da Luz, e posteriormente, na casa dele, três pistolas calibre 9 milímetros da marca Glock, todas da Geração 4, sendo duas delas equipadas com “kit rajada” (uma delas com a numeração raspada), e seis carregadores de pistola Glock.

Também foram apreendidos quatro fuzis da marca Imbel, modelo IA2, dos quais três tinham número de série e um estava com a numeração raspada. 

MAIS ITENS

Com o pedreiro, que diz ter tirado o registro de CAC com Rodrigo Donovan, a Polícia Federal ainda apreendeu três coletes balísticos com a inscrição “Polícia Civil”. 

Os materiais são à prova de bala, e a suspeita é de que poderiam ser usados em simulação de operações policiais. Ainda foram encontradas cinco balaclavas (toucas ninja).  

A Polícia Federal ainda apreendeu 116 munições calibre 9 milímetros, 80 munições para fuzil de calibre 7,62 milímetros, um colar de ouro, 16 carregadores de fuzil 7,62 milímetros, um boné do Clube de Caça Golden Boar, do qual Rodrigo Donovan é tido como proprietário, além de alguns documentos das armas e caixa de munição. 

ENCOMENDA

Quando foi preso, no início do mês, Chamorro disse aos policiais federais que uma pessoa que se identificava pelas iniciais “RD” iria orientá-lo sobre onde as armas seriam entregues. Para este serviço, receberia um pagamento de R$ 2 mil em dinheiro vivo no momento da entrega.

No auto de apreensão das armas, dos coletes, boné, munições e demais materiais que estavam com Chamorro, havia um documento em nome de Rodrigo Donovan de Andrade, cujo endereço era a cidade de Maracaju. 

Em pesquisa nas redes sociais, o Correio do Estado encontrou diversas atividades do Clube de Caça Golden Boar nas cidades de Campo Grande e de Maracaju. 
No interior do Estado, chegou a ter estande na tradicional Festa da Linguiça. 

ROUBOS E ASSALTOS

De posse do flagrante, a Polícia Federal deu início a um trabalho de aprofundamento da investigação sobre Rodrigo Donovan de Andrade, e a pessoa que se identificava como RD, que mantinha intensa troca de mensagens com Narciso Chamorro. 

Foram encontradas reportagens e registros de antecedentes criminais de um homem também identificado como Rodrigo Donovan de Andrade, pela prática de roubos a banco em cidades dos estados da Bahia, Sergipe e de Mato Grosso. 

“Ainda em seu interrogatório, Narciso Chamorro afirma que trabalha para Rodrigo Donovan de Andrade, que, segundo ele, é o dono do clube de tiro e caça GOLDEN BOAR, e que foi quem o ajudou a se registrar como CAC junto ao Exército Brasileiro”, afirmou a Polícia Federal em despacho em que pediu a prorrogação da prisão preventiva de Narciso. 

OUTRO LADO

O Correio do Estado telefonou para o Clube de Caça Golden Boar na tarde desta sexta-feira (14). Uma representante do local, que pediu para não ter seu nome revelado, confirmou a ação da Polícia Federal e afirmou que “tudo será esclarecido” e que o local não tem nenhum envolvimento com a prisão de Narciso Chamorro. 

Posteriormente, uma funcionária do Clube de Caça entrou em contato com a Redação para providenciar o envio de uma nota oficial sobre o ocorrido nesta sexta-feira. 
Até o fechamento desta reportagem, porém, a nota não foi recebida por nossa equipe. 

SAIBA

Policiais federais e do Exército deflagraram nesta sexta-feira (14) a Operação Ópla, cujo intuito é proibir o trânsito e o comércio ilegal de armas como pistolas e fuzis desviados de CACs, armeiros e clube de tiro.

O armamento estaria em nome de laranjas, que poderiam ser controlados por organizações criminosas que comandam crimes violentos, como ataques a casas de comércio e agências bancárias.



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