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Quinta, 21 de agosto de 2025

Bolsonaro ameaça a democracia

Esplanada dos Ministérios foi palco do amedrontador desfile de tanques da Marinha, na votação da PEC, de interesse e inspiração de Bolsonaro

16 de ago 2021 - 09h:10 Créditos: DAIANE SCHUINDT
Crédito: Imagens do Google

O presidente Jair Bolsonaro é a ameaça contra a democracia. Diz contar com as Forças Armadas para tudo. Generais do núcleo do poder falam em romper a corda. Um general me disse, acerca dessa jactância: “Não fui consultado, falam por si mesmos”.

10 de agosto de 2021 é a data da mais contundente ameaça militar contra a democracia na vigência da Constituição de 1988: Bolsonaro colocou tanques nas ruas. Ou melhor, a Esplanada dos Ministérios foi palco do amedrontador desfile de tanques da Marinha, quando da votação da PEC, de interesse e inspiração de Bolsonaro, que adotaria a impressão dos votos registrados em urnas eletrônicas. Tendo consigo o ministro da Defesa e os comandantes das três Forças, Bolsonaro foi adulado com a inadequada entrega de um convite pelo comandante da Marinha, que poderia tê-lo feito discretamente, como convém em circunstâncias tão tensas e perigosas. As explicações dos comandantes foram constrangedoras, com argumentos inaceitáveis. Fala-se até que o Exército foi apanhado de surpresa com a decisão do presidente, do ministro da Defesa e da Marinha.

As principais autoridades políticas reagiram à altura do momento, com críticas pertinentes e bem fundamentadas. A Câmara dos Deputados derrotou a PEC de Bolsonaro e o Senado aprovou a Lei de Segurança do Estado Democrático de Direito, que revogou a Lei de Segurança Nacional. Em suma: Bolsonaro ameaça com a força militar e perde no embate político. Até quando?

Duas decorrências do desastroso e antidemocrático passeio dos tanques. Primeira: Bolsonaro manda nas Forças Armadas, que com ele retornaram ao poder e são recompensadas com recursos, 6 mil nomeados na administração militar deste governo civil, salários ampliados, tempo ilimitado para o exercício de função civil fora das carreiras, superação do limite constitucional dos vencimentos e salários, previdência, etc. A defesa nacional está praticamente fora da agenda do presidente. Fala-se, isso sim, do uso político do Ministério da Defesa. O ministro, general Braga Netto, é um chefe político, não apenas o administrador das Forças Armadas. Segunda: Bolsonaro apequenou as Forças Armadas (e o Brasil) ao expô-las na condição de “minhas Forças Armadas”. Na imprensa internacional, nosso país aparece como uma republiqueta cujo presidente é candidato a ditador.

O desfile de tanques decorreu de uma decisão do partido militar para obedecer e agradar a Bolsonaro, mas certamente causou desconforto e preocupação em significativos setores das Forças Armadas. Lembremos: o partido militar expressa o ativismo de setores militares e contradiz o que devem ser essas instituições no sistema democrático – neutras, apolíticas, apartidárias, referidas à defesa e preservação do Estado; estimula as dissensões internas, conflita com a disciplina e a hierarquia.

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