Um homem de 31 anos que diz ser ex-integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) começou a compartilhar vídeos em uma rede social, desde segunda-feira (16/10). Nas postagens, ele orienta jovens a não entrarem no mundo do crime.
Frank Willians de Paula Souza e Marques também afirma estar jurado de morte e que, por causa disso, pretende revelar os supostos bastidores da facção, na qual ele diz ter ocupado cargos de liderança.
O suposto ex-integrante do PCC também divulga o link de uma vaquinha online, no valor de R$ 10 mil para que, segundo ele, consiga fugir do Brasil e evitar sua “sentença de morte” por parte da facção. Até a publicação desta reportagem, ele havia conseguido angariar R$ 7.901,39.
“Sou Frank, ex-integrante [do PCC], como sabem joguei tudo no ventilador e preciso urgente sair deste país, minha morte se aproxima cada dia mais”.
O Metrópoles apurou que Frank não conta com apelido criminoso registrado no sistema da polícia, algo comum entre membros de facção para dificultar investigações.
Nos vídeos, ele também afirma ter sido preso diversas vezes. No entanto, ainda de acordo com registros da Polícia Civil, Frank foi preso uma única vez por roubo qualificado, ficando atrás das grades por 12 dias, entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, no Centro de Detenção Provisória de Piracicaba, no interior paulista. O caso já foi arquivado.
Além disso, ele já foi processado por ameaça, em 2006, e atualmente responde a um processo por estelionato. Quando adolescente, Frank foi aprendido por tráfico de drogas.
“Sintonia”
Com um histórico criminal pequeno, e pouco tempo de cadeia, Frank afirma nas postagens já ter ocupado o cargo de “sintonia”.
As sintonias do PCC são lideradas por membros, chamados de irmãos, “batizados” pela facção. Diferentemente das máfias, em que laços familiares respaldam os contatos e as relações dos criminosos, no PCC o que importa é a função de cada membro, como em uma empresa.
Em um dos vídeos, Frank afirma que era “sintonia geral da lista negra dos estados internos e externos”.
Segundo organograma desenvolvido a partir de investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), da Promotoria paulista, não existe nenhuma sintonia com o nome afirmado por Frank.
Ele afirma no vídeo que, por causa dessa sua suposta função de liderança, “tinha planilhas, dados de muitos integrantes [da facção]”.
“Sei como funciona [o PCC], então não aceitaram que eu saísse”, diz ele ainda no vídeo, ao relatar que tentou sair da facção.
Saindo do crime
Frank diz que há duas formas de sair do PCC. Uma delas é ficar doente, de forma que sua atuação no mundo do crime seja comprometida, ou que o integrante ingresse em alguma religião. No caso dele, Frank afirma que foi supostamente banido do crime como “traidor”.
Ele chega a afirmar que não havia traído o PCC, mas que passou a fazer isso a partir do momento no qual começou a compartilhar os vídeos na internet.
“Vou morrer de qualquer jeito, daqui a pouco vão deixar outro cara igual a mim no lugar”.
O perfil usado por ele contava com 288,6 mil seguidores, até a publicação desta reportagem. Algumas das postagens estavam com mais de dois milhões de visualizações.
Em comentários, algumas pessoas apoiam Frank, afirmando se preocupar com a situação dele.
“Me envergonho e me arrependo muito [de ter entrado no crime]. Quero que meus filhos vejam esse vídeo um dia, mas vejam que o pai deles se arrependeu, que era só um fantoche manipulado [pelo PCC]”. Segundo Frank, ele tem cinco filhos.
A reportagem apurou que ele já tentou a sorte como MC. Usando o nome artístico de Gabriel Neblina, ele chegou a gravar até um videoclipe.
Procurado para dar mais detalhes sobre sua postagens, ele não havia dado retorno. O espaço segue aberto para manifestações.
Sentença de morte
Fontes policiais e da Justiça ouvidas em sigilo pelo Metrópoles afirmam que Frank decretou sua sentença de morte ao usar o nome do PCC nas postagens, mesmo que ela não faça parte da organização criminosa.
“Para mim, ele está mentindo ao afirmar ser da facção. Mas, independentemente disso, vai morrer se o pegarem”.