A cotação do dólar paralelo na Argentina (dólar blue) atingiu o maior valor da história na última terça-feira (17), ao chegar a 378 pesos. A escalada da moeda americana provocou um movimento do Banco Central do país vizinho do Brasil, que precisou vender 23 milhões de dólares para conter a disparada — foi a primeira vez, em 2023, que a autoridade monetária atuou no mercado.
O dólar blue é vendido nas ruas da Argentina, sem fiscalização, em casas de câmbio operadas por doleiros e cambistas. Normalmente, é mais valorizado do que a cotação oficial do governo.
Somente em janeiro, a moeda americana acumula alta de 32 pesos, uma expansão de 8% que a põe no ativo de maior valorização em todos os tipos de câmbio da Argentina. Agora, o dólar blue argentino só perde para o "dólar Catar", que custa o equivalente a 379 pesos e é outro apelido para a moeda americana comprada em pesos, associada ao Mundial no país árabe.
Diante da escalada do dólar paralelo no país e do ambiente hostil para investidores e moradores da Argentina, o Banco Central do país precisou se desfazer de reservas da moeda. Ao todo, a autoridade monetária vendeu 23 milhões de dólares ontem para frear a alta da moeda americana. A medida reduziu a "gordura" obtida durante o mês de 285 milhões de dólares para 262 milhões de dólares.
Fundo do poço?
A diferença de cotação entre o dólar blue argentino e o dólar Catar chegou a 40 pesos há um mês e, em pleno verão, incentivou os argentinos a viajarem para o exterior a fim de comprar informalmente em vez de pagar suas despesas com cartão, para assim baratear o custo das férias.
A situação, porém, pode se agravar, porque analistas do mercado argentino afirmam que o dólar blue tem como piso o dólar da Bolsa de Valores, hoje em 342 pesos, enquanto o dólar Catar já atingiu o teto. Logo, a moeda argentina pode se desvalorizar ainda mais.
Ao mesmo tempo, o governo de Alberto Fernández tem a esperança de que a escalada do dólar na Argentina perca força, já que janeiro, mês de férias, apresenta a maior demanda. "Quem compra dólar para especular, achando que vai continuar subindo, vai ser pego de surpresa", de acordo com fontes do Ministério da Fazenda argentino.
Os analistas apontam outros motivos que explicam o salto do dólar blue. Ao jornal argentino Clarín, o economista Salvador Di Stéfano especificou que a causa do aumento é que “há menos oferta porque os turistas já não usam esse mercado, pagam com cartão a um preço semelhante”.
Esse último ponto se refere aos estrangeiros que visitam a Argentina e que, até um mês atrás, achavam preferível trazer dólares e trocá-los no mercado informal, já que a taxa de câmbio obtida era praticamente o dobro do preço que receberiam se pagassem com cartão.
O principal problema dessa operação era que, por ser ilegal, os dólares que os estrangeiros traziam não passavam pelo Banco Central. Para resolver a questão, no início de dezembro foi lançado o dólar para turistas, que permite pagar com cartão e obter a cotação similar ao dólar paralelo. Isso reduziu a oferta no blue.