Indígena, até agora identificado apenas por Neri, foi morto a tiros em novo confronto com policiais militares no Território Nhanderu Marangatu, no município de Antônio João, fronteira com o Paraguai. Há quase três décadas o local é palco de conflitos e mortes na luta pela terra envolvendo os guaranis-kaiwás e fazendeiros.
A Aty Guasu (Grande Assembleia Guarani-Kaiowá) acusa a Polícia Militar de Mato Grosso do Sul de “massacre” e afirma em postagem nas suas redes sociais que equipes da Tropa de Choque atacaram a área de “retomada”, na Fazenda Barra, com intenção deliberada de matar.
Imagens gravadas pelos guarani-kaiowá mostram indígenas correndo, fumaça provocada por bombas usadas pelos policiais e o corpo de Neri no chão.
Policiais que estão no local afirmaram que os indígenas investiram contra a tropa usando inclusive armas de fogo. Em resposta, ainda segundo a versão dos policiais, o indígena foi atingido e morreu.
A reportagem apurou que após o confronto da semana passada, iniciado com o incêndio na ponte de acesso à fazenda, equipes da Polícia Militar permaneceram na área, por determinação da Justiça Federal, para impedir ocupação da propriedade.
Na segunda-feira (16), os indígenas teriam ocupado parte da Fazenda Barra. Policiais teriam conversado com as lideranças e firmado um acordo, para que a área não fosse ampliada.
Entretanto, ainda segundo policial que está no local, os indígenas teriam avançado. Diante da tensão, a Tropa de Choque foi acionada para reforçar a segurança, já que havia ameaça de ataque contra policiais, proprietários rurais e funcionários das fazendas.
Nesta quarta-feira (18), ao amanhecer, houve novo confronto. Policiais afirmam que indígenas armados atiraram na direção deles. Os indígenas afirmam que o ataque partiu da polícia e denunciam “massacre”.
“Acabaram de matar o Neri Kaiowá. A Polícia Militar atirou bem na cabeça dele e a tropa está vindo para cá agora. Socorro, eles vão nos matar também!”, afirma indígena em vídeo mostrando pessoas correndo no mato e fumaça de bombas usadas pelos policiais.
A demarcação do Território Nhanderu Marangatu, de 9,3 mil hectares, foi homologada em 2005 no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Entretanto, a demarcação foi suspensa por mandado de segurança impetrado no STF (Supremo Tribunal Federa).
O processo está há anos com o ministro Gilmar Mendes. Também existe ação, em andamento no TRF3 (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região, pedindo a aplicação da tese do marco temporal. Além disso, existe liminar da Justiça Federal em Ponta Porã que determina permanência na Polícia Militar na área.
A Fazenda Barra pertence a Pio Queiroz Silva e Rozeli Ruiz, pais da advogada Luana Ruiz Silva, assessora especial da Casa Civil do governo de Mato Grosso do Sul. Até agora a Segurança Pública de Mato Grosso do Sul ainda não se manifestou sobre a morte do indígena.