Miqueias da Silva Santana, 30 anos, matou a mulher, a sogra e a filha de apenas três anos. O triplo feminicídio foi comedido em Campinas (SP) e segundo a polícia, ele teria decidido matar a filha para que ela “não sofresse na mão de ninguém” e não ficasse órfã, após decidir tirar a vida da mãe e avó da garota, minutos antes.
Segundo a Polícia Civil, a afirmação foi feita durante depoimento na tarde de ontem (18), em Campinas, no interior de São Paulo, quando o suspeito teria confessado o crime. As vítimas foram veladas na manhã de hoje, no Cemitério dos Amarais.
Segundo o site UOL na ocasião, o homem ainda teria dito que não mataria Manoela Santana, 3, decisão alterada após atingir, com golpes de enxada, a sogra, Creuza Felicio, 71, primeira das três vítimas. O crime foi descoberto na manhã de ontem, quando o próprio homem ligou para a Polícia Militar dizendo que havia feito “uma besteira”. O caso ocorreu no Jardim Aeroporto, no Distrito do Ouro Verde, o mais populoso de Campinas.
Na mente dele, matar a filha seria a melhor solução. Ele sabia que ela ficaria sem a mãe, sem a avó e também sem o pai, porque ele ficaria preso. Santana disse que ‘queria que ela fosse morar no céu’.Mateus Rocha, delegado assistente da 2ª Delegacia de Defesa da Mulher de Campinas
O corpo da pequena Manuela Bernardes Santos foi encontrado ao lado do corpo da avó, Creuza Aparecida Bernardes Felício, no sofá. As duas foram assassinadas a golpes de enxada — a sogra foi atacada primeiro, segundo relato policial.
O corpo da mãe da criança e esposa de Santana, Cláudia Bernardes Santos, estava no quintal, onde foram achadas a enxada e uma pá. De acordo com relatos de Santana para a polícia, o casal estava junto há 10 anos, mas ao longo deste período se separou por um certo tempo, por uma suposta traição dela, mas há três meses decidiram reatar a relação. Nesta nova fase, o casal tinha constantes discussões por ele suspeitar que ela tivesse um caso extraconjugal.
Os velórios das vítimas do triplo feminicídio foram realizados simultaneamente na manhã de hoje (19), no Cemitério dos Amarais. Dezenas de familiares, em choque, acompanhavam com muita tristeza e ainda sem entender exatamente o que havia acontecido.
“Ele era um homem ‘folgado’, a Claudia tinha que fazer tudo para ele, até colocar comida no prato. Mas, nunca imaginávamos que ele seria capaz de fazer algo tão cruel”, disse a irmã de Creuza, Magali Felicio.
José Eduardo Bernardes, irmão de Claudia, segurava uma flor com uma chupeta que era de Manoela durante a conversa com a reportagem. Ainda em choque, resumiu o sentimento da família toda: “o cara destruiu totalmente a nossa vida”.
Suspeito foi demitido horas antes dos crimes
Apesar de ser descrito como um homem tranquilo e sem vícios, Miqueias da Silva Santana era tido como desastrado e esquisito, o que o tornava alvo de chacotas, segundo o ex-patrão que pediu para não ter o nome divulgado. O homem acabou demitido na última segunda-feira (17).
O dono de uma oficina mecânica de Campinas relatou que, por diversas vezes, Santana realizava serviços fora da ordem determinada. Em algumas situações, ele acabava causando mais problemas para o patrão.
“Ele era esquisito e não tinha noção técnica do que fazia. As pessoas sempre zoavam dele pelas coisas que fazia. Mas ele nunca falou nada. Não contava nada de sua vida pessoal”, disse o microempresário.
Ele trabalhava das 7h30 às 17h, mas foi demitido no início desta semana, segundo o ex-patrão, que acredita que o fato pode ter motivado uma briga entre o casal.
“Estou chocado. Se soubesse que poderia acontecer essa tragédia, teria evitado. Ele nunca me falou de sua vida particular. Tenho filhos pequenos e estou com o coração partido com a morte da família, em especial da menininha”, disse.
Polícia diz não ter dúvidas de “crime premeditado”
Segundo a Polícia Civil, Miqueias Santana não teria atuado num “rompante”, mas planejado o crime e que, em depoimento, ele conta que, depois de ser dispensado do trabalho, voltou para casa e passou o dia com a família. À noite, passou a se desentender com a mulher e durante o jantar, realizado na casa da sogra, uma edícula no mesmo quintal da propriedade.
A discussão foi interrompida quando ele seguiu até uma adega no bairro para comprar refrigerante, mas encontrou o estabelecimento fechado. Na volta, a briga continuou. Creuza saiu em defesa da filha e acabou golpeada na cabeça. Manuela, ao ver a avó ferida, correu para perto da idosa e também foi agredida com a enxada. No depoimento, ele diz não lembrar quantos golpes foram desferidos na sogra e na filha.
Cláudia começou a ser agredida quando tentou defender a mãe e a filhinha. Ao tentar buscar socorro, ela foi perseguida e atingida com mais golpes na cabeça. O agressor chegou a pegar uma pá para continuar com o espancamento, já que o cabo da enxada se quebrou.
O homem ainda relatou que já planejava matar a mulher e a sogra, mas somente decidiu fazer a filha “ir morar no céu”, na noite desta segunda-feira, quando retornava da adega.
“Após o crime, que aconteceu na casa da sogra dele, ele disse ter ficado em estado de choque e que não sabia o que fazer. Ele foi para a casa dele, que fica no mesmo terreno, deitou no chão e acordou pela manhã”, acrescentou o delegado assistente Mateus Rocha.