A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, contratou duas empresas ligadas a um ex-funcionário da Prefeitura de Belford Roxo, município no Rio de Janeiro que tem como prefeito o marido dela, Waguinho (União Brasil), que também é presidente estadual do partido.
A contratação foi feita durante a campanha eleitoral de 2022, quando Daniela foi eleita deputada federal. Conhecida como Daniela do Waguinho, ela assumiu a pasta do Turismo em 2 de janeiro.
A Rubra Editora e Gráfica e a Printing Midia estão no nome de Felipe de Souza Pegado, que foi assessor especial do Setor de Contratos e Convênios da Secretaria Municipal de Educação de Belford Roxo, entre março e setembro de 2021, quando Waguinho já era prefeito da cidade.
No total, enquanto comissionado da Prefeitura de Belford Roxo, Felipe recebeu R$ 13.266,67. A Rubra, por sua vez, prestou ao município serviços de fornecimento e instalação de material gráfico, entre 2017 e 2019, no total de R$ 5.473.183,93. A Printing não recebeu valores da prefeitura.
Durante o período eleitoral de 2022, Daniela Carneiro contratou a Rubra e a Printing. As empresas lideram o ranking de fornecedores da campanha da agora ministra. A Rubra recebeu R$ 561.535 e a Printing, R$ 530.747, totalizando R$ 1.092.282 pagos a Felipe Pegado. O valor corresponde a 35,45% do total gasto durante toda a campanha de Daniela.
Em resposta ao R7, a assessoria da ministra do Turismo alegou não saber da ligação de Felipe com a Prefeitura de Belford Roxo. "A ministra desconhece o fato de que esse ex-servidor seria sócio da gráfica contratada pela equipe da campanha. Como deputada, delegou à direção da campanha a escolha dos fornecedores, exigindo que fosse praticado o melhor preço com entrega do material em boa qualidade. Vale ressaltar que a ministra não tem nenhum vínculo em contratações feita pela prefeitura", escreveu, em nota.
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Belford Roxo, mas, até a última atualização deste texto, não recebeu retorno. O R7 ligou para os números das empresas de Felipe disponíveis nos sites de busca, mas as ligações não foram atendidas.
No cadastro da Receita Federal, o endereço da Rubra é a Praia de Botafogo, na capital do estado do Rio de Janeiro. A sede da Printing é o município fluminense de São João de Meriti, a cerca de 150 km da capital.
Ligação com milicianos
Logo nos primeiros dias do terceiro mandato de Lula, veio a público a suposta ligação de Daniela com a família de Juracy Alves Prudêncio, o Jura, condenado por chefiar uma milícia na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.
Jura é ex-sargento da Polícia Militar e foi condenado a 22 anos de prisão pelos crimes de homicídio e associação criminosa. Ele já cumpriu cerca de 15 anos. Daniela é próxima da esposa de Jura, conhecida como Giane Jura, ex-vereadora de Nova Iguaçu (RJ).
Nas redes sociais de Giane, há vários registros de Daniela e Waguinho, inclusive em eventos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como a caminhada "Elas fazem o L pela Democracia", ocorrida em 27 de outubro de 2022, em Belford Roxo.
Giane declarou apoio a Daniela em agosto do ano passado e pedia votos com frequência para a agora ministra. A esposa de Jura também fez campanha para Daniela em 2018, quando ambas apoiaram o então candidato Jair Bolsonaro (PL), à época no PSL. Jura participou dos eventos em apoio a Daniela naquele ano.
Jura chegou a ser nomeado para um cargo comissionado na Secretaria de Defesa Civil e Ordem Urbana de Belford Roxo após ter passado do regime fechado para o semiaberto, em maio de 2017. Na época, Waguinho, marido da ministra de Lula, cumpria o primeiro mandato à frente da prefeitura do município.
Em janeiro de 2020, a Vara de Execuções Penais suspendeu o trabalho de Jura fora da cadeia. A medida cautelar foi tomada a pedido do Ministério Público após indícios de irregularidade no cumprimento do benefício, já que ele não comparecia ao local de trabalho.
Em um dos processos em que o ex-sargento foi condenado, a juíza Beatriz de Oliveira Monteiro Marques refere-se a ele como comandante de "milícia privada extremamente organizada para a prática de delitos graves, tendo como área de atuação vários municípios da baixada fluminense, como Belford Roxo, Queimados e Nova Iguaçu", com atuações na "política, ameaçando moradores das localidades em que atuava a votarem nele", já que Jura seria "detentor de poderio e de capacidade para arregimentar homens e armas dentro de sua estrutura criminosa, mesmo estando preso".
O R7 procurou, na época da divulgação da suposta ligação, a assessoria de Daniela Carneiro no Ministério do Turismo. Em resposta, a ministra afirmou que ligação política não quer dizer concordar com eventuais atividades criminosas.
"A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, durante sua campanha, em 2018, recebeu apoio em diversos municípios. Ela ressalta que o apoio político não significa que ela compactue com qualquer apoiador que porventura tenha cometido algum ato ilícito. Daniela Carneiro salienta que compete à Justiça julgar quem comete possíveis crimes. Quanto às nomeações na Prefeitura de Belford Roxo, a ministra enfatiza que não tem nenhuma ingerência, pois o ato é de competência exclusiva do Poder Executivo", disse, em nota.