O transporte da produção sul-mato-grossense de grãos, celulose e minério é realizado por meio das rodovias. De acordo com estudo da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) do governo federal, 80% de tudo o que é escoado em Mato Grosso do Sul sai por meio de caminhões.
Apesar de a gestão estadual ter planos de investir em outros modais para melhorar o gargalo logístico, a sobrecarga nas rodovias deve perdurar por alguns anos. Um dos principais problemas apontados é o excesso de caminhões que trafegam na BR-262.
De acordo com o titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, desde o ano passado houve aumento na quantidade de veículos que transitam pela rodovia.
“Realmente, a demanda é muito forte, temos hoje transitando 700 caminhões diários de minério de ferro de Corumbá [MS] e cruzando até Suzano [SP], andando mil quilômetros na beira da ferrovia. O Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes] tem hoje um dos menores orçamentos dos últimos anos para a manutenção das estradas federais”.
“Temos conversado muito com o Dnit, a BR-262 é um caso, foi feito um trabalho de Água Clara até Três Lagoas que nós gostaríamos que fosse repetido de Corumbá até Água Clara. Que é a criação da famosa terceira pista, que é importantíssima. Hoje, o Dnit não tem o recurso para fazer isso. A gente vai conviver com esse excesso de caminhões de minério por pelo menos três, quatro anos”, explica o secretário.
Conforme publicado na edição do Correio do Estado do dia 30 de julho, de acordo com o estudo da EPL, são necessários quase R$ 50 bilhões em investimentos para melhorar a infraestrutura logística de MS.
Somente para reorganizar as rodovias, a EPL aponta necessidade de investimento de R$ 18,10 bilhões em 103 projetos rodoviários, totalizando 5.800 km. “O aumento expressivo no fluxo de caminhões na BR é o principal gargalo. Nós temos elevado nível de acidentes e deterioração da pista”, analisa Verruck.
Conforme Cícero Filho, economista da EPL, com a diversificação da malha do Estado a pressão sobre os preços deve cair. “A gente tem uma estimativa de redução de 26% do custo de transporte, já considerando o valor do tempo da carga e o valor do frete”, pontua.
Para o economista, novas rotas de escoamento dariam às commodities produzidas em MS diferentes canais de transporte.
“O fluxo hoje de minério de ferro, de Corumbá, provavelmente focaria na ferrovia. A carga agrícola teria o perfil de descer pela Ferroeste para os portos do sul, principalmente soja e milho. A celulose teria um potencial de usar a rodovia BR-262, por exemplo, além do Corredor Bioceânico, com cargas gerais e outros tipos de produtos”, finaliza.
FERROVIAS
Entre as mudanças previstas, a principal é a reativação do transporte ferroviário do Estado. O projeto mais avançado é a recomposição da Malha Oeste, que corta MS de leste a oeste, e uma das possibilidades é de que grandes players ajudem a reconstruir trechos em uma espécie de consórcio.
Atualmente, transitam em paralelo dois projetos, o primeiro é a relicitação tradicional, por concessão, e o segundo é a viabilidade trazida pelo novo Marco Legal das Ferrovias, do governo federal, que autoriza empresas a construírem e explorarem o transporte ferroviário sem a mesma burocracia da concessão.
Segundo a Semagro, a expectativa é de que até o fim deste ano a Malha Oeste seja relicitada.
“Eu falei isso até para o ministro [de Infraestrutura e Transportes], que a solução da Malha Oeste resolve um outro problema, que exatamente hoje nós temos um gargalo muito grande, além de acidentes toda a estrutura, na [BR] 262. Volto a dizer que demora porque é um sistema de concessão. Tem que terminar todo o estudo técnico, que demora um ano. Dentro da ferrovia isso está caminhando, até o fim do ano a gente deve relicitar”, contextualiza Jaime Verruck.
Ainda de acordo com o secretário, com a retomada do transporte ferroviário a meta é mudar o perfil logístico saindo de 80% da rodovia para 50%, e os 50% restantes entre a ferrovia e hidrovia.
Os recursos a serem investidos na ferrovia devem superar R$ 30 bilhões, segundo os cálculos da EPL. Atualmente, 890 km de ferrovia são utilizados em MS, a proposta da EPL é que este montante chegue a 1.500 km de malha ferroviária. Atualmente, segundo o titular da Semagro, todo o transporte pela ferrovia de Mato Grosso do Sul não passa de 2%.
HIDROVIAS
Outra opção para reduzir a sobrecarga nas rodovias é ampliar o transporte hidroviário. A hidrovia sul-mato-grossense, que compreende os rios Paraná e Paraguai, é de mais de 1.100 km, por onde são transportadas cerca de 3,8 milhões de toneladas de mercadorias por ano.
O estudo elaborado pela EPL aponta que a hidrovia demandará investimento de quase R$ 800 milhões.
“Nós temos de melhorar o fluxo da hidrovia do Paraguai, que compreende Ladário, Corumbá, Porto Esperança, que nós temos o terminal e Porto Murtinho. Essa é a conexão que a gente faz com a hidrovia. Mas a Bolívia também faz essa utilização. Nós temos três pontos críticos que vão de Porto Murtinho até Corumbá. Nestes locais, mesmo em funcionamento normal, as barcaças têm de ser desconectadas para que se façam as curvas”, esclareceu Verruck.
O secretário ainda frisa que o processo atrasa o envio de mercadorias e que há a necessidade de se fazer uma dragagem (desassoreamento) para aumentar o calado.
“São três pontos que nós temos de fazer dragagem. Existe um pedido de licenciamento no Ibama que autoriza a dragagem nesses três pontos, e no ano passado o governador Reinaldo falou que nós estamos dispostos a pagar”.
Com esta dragagem, a navegação poderia ocorrer mesmo quando houvesse a redução do calado do rio. Nos períodos de seca, a navegação é paralisada porque não há como as embarcações passarem em decorrência da baixa profundidade dos rios. Segundo a Semagro, com o processo de dragagem, o tráfego poderia ser prolongado por trinta dias. (Colaborou Naiara Camargo)