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Terça, 04 de fevereiro de 2025

'Estamos comendo arroz e farinha', diz mãe que teve o Bolsa Família cortado

Mulher pede ajuda para não passar o Natal com fome junto com seus dois filho de 5 e 7 anos

21 de dez 2021 - 15h:30 Créditos: MS Notícias
Crédito: Acervo Pessoal

Mariana Ferreira, de 25 anos, moradora do bairro Jardim Noroeste em Campo Grande (MS), mãe de Yan, de 5 anos e Alyce, de 7 anos, entrou em contato com a reportagem para pedir ajuda. “Estamos comendo arroz e farinha doados pela vizinha”, resumiu ela, ao enviar imagens nesta terça-feira (21), de uma mesa onde havia apenas meio pacote de farinha.

“O arroz está numa panela na geladeira, tem meia panela”, explicou.    

Conforme Mariana, ela está desempregada e não tem contato com os pais das crianças. Está recebendo apenas o benefício de R$ 200,00 do Mais Social e cata materiais recicláveis para completar o dinheiro do aluguel. 

“Somos só nós três, somos sozinhos, não temos ninguém para ajudar a gente. Eu cato latinha para poder pagar o aluguel, eu paguei o aluguel esse mês, mas não temos nada na barriga agora. Só temos farinha e arroz, um pouco de arroz que a vizinha me deu”, relatou Mariana. 

Geladeira, onde havia apenas uma panelinha com arroz. Foto: Reprodução
Geladeira, onde havia apenas uma panelinha com arroz. Foto: Reprodução 

Segundo a mãe, ainda no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL) ela viu sua vida piorar agressivamente, depois que teve o benefício do Bolsa Família repentinamente cortado. “Cortaram sem nenhum motivo. 

Já atualizei os dados e nada, não me deram nenhuma resposta. Estamos com fome, ajudem a gente a não passar o Natal assim. É muito dolorido ver eles pedindo uma coisinha para comer”, comentou.

Apenas um saquinho de farinha há na dispensa de Mariana. Foto: Reprodução
Apenas um saquinho de farinha há na dispensa de Mariana. Foto: Reprodução 


A reportagem telefonou à Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS), responsável por promover e favorecer o acesso da população vulnerabilizada socioeconomicamente à bens e serviços com vistas à inclusão social. 

A secretaria quis saber se Mariana já havia feito o Cadastro Único para Programas Sociais ou CadÚnico. “Fiz tudo, me inscrevi e o Bolsa Família, fiz o recadastramento ano passado, mas até hoje não recebi nada”, disse a mãe. 

A SAS perguntou também se Mariana teria sido visitada por algum assistente social. “Eles vieram aqui, fizeram o cadastro, disseram que iria ajudar com cesta básica, mas não trouxeram nada. Eu liguei lá e eles justificam que a fila está muito grande”, explicou Mariana. 

“Já encaminhei para o setor responsável para ver se ela já tem alguma passagem ali no CRAS (Acessar o Centro de Referência da Assistência Social). Em linhas gerais, a Assistência Social trabalha assim: essas pessoas podem procurar o CRAS de sua região, expor a sua situação e a Assistência Social agenda uma vista na residência, para oferecer, levar um benefício eventual até que o programa dela saia”, explicou a assessora da SAS. 

A mãe disse à reportagem que está precisando “praticamente de tudo”. “Comida tá faltando tudo e quem puder nos ajudar com a doação de roupas, Deus pague quem ajudar”, finalizou. Para falar direto com Mariana basta contatá-la no número: 67 9126-4360.

BOLSONARO 

A renda dos 5% mais pobres no Brasil com a entrada de Bolsonaro na gestão em 2018 caiu 39%. A extrema pobreza aumentou em 71,8% no primeiro ano do governo bolsonarista, 3,4 milhões de brasileiros passaram a viver na extrema pobreza. 

As informações são do FGV Social, da Fundação Getúlio Vargas, que atribui esses dados à crise econômica e a desajustes no programa Bolsa Família. Em 2019, houve redução no número de beneficiários e aumento na fila das famílias que buscam por assistência pelo programa.

As mudanças no programa vinham acontecendo desde o governo de Michel Temer. Segundo Marcelo Neri, diretor do FGV Social, as mudanças no Bolsa Família em cinco anos significaram um ajuste fiscal nos ombros dos mais pobres que quase não contribuiu para a questão fiscal do e ainda desprotegeu os brasileiros mais vulneráveis durante um período de crise econômica.

Criado em 2003, durante o governo Lula, o Bolsa Família era o maior programa de transferência de renda do mundo, com atendimento de pouco mais de 40 milhões de pessoas. Focado em crianças e famílias abaixo das linhas de extrema pobreza e pobreza estimadas pelo governo, o benefício era oferecido através de um cartão magnético em posse das mães e/ou mulheres da família em 90% dos casos. 

O valor de elegibilidade inicial ao benefício básico, o programa pagava R$ 89 reais por pessoa, é bem próximo da linha mais baixa de pobreza das metas do milênio da ONU no valor de US$ 1,25 por dia ajustado pela paridade de poder de compra que serviu de inspiração na adoção da linha oficial de pobreza e dos critérios do Bolsa Família em 2011.

Em 2020, o governo federal cortou mais de 185 mil beneficiários do programa, seguindo os cortes aplicados no governo Temer. De acordo com a justificativa para os cortes, as 185 mil famílias removidas do programa "se emanciparam" por apresentarem evolução nas condições financeiras, "ou seja, superaram as condições necessárias para a manutenção do benefício". 

Em 2021, por fim, o governo deu fim ao Bolsa Família com a intenção de criar o Auxílio Brasil, que segue em adequação.  

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