A convocação de Jair Bolsonaro (PL) para depor na CPMI dos Atos de 8 de janeiro não agrada o Palácio do Planalto, que teme dar palco político para o ex-presidente da República engajar a direita na acusação de que teria ocorrido omissão intencional do governo Lula no dia da invasão. A orientação para a base aliada no Congresso é protelar a ida dele e focar em nomes que possam relacionar diretamente Bolsonaro com as manifestações.
O vice-líder do governo no Congresso, Lindbergh Farias (PT-RJ), informa que a prioridade é ouvir o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres. "Estou convencido de que Torres é o elo com Bolsonaro. Na minha avaliação, a gente pode achar o autor intelectual desse crime contra o Estado Democrático de Direito", afirmou ao SBT News.
Lindbergh admite, porém, que em algum momento o ex-presidente será chamado à comissão. "Eu acho que vai acabar sendo convocado. Início não", destacou o petista.
O líder da oposição na Câmara, deputado Carlos Jordy (PL-RJ), também acredita que provavelmente Bolsonaro será convocado, "embora ele não tenha nenhuma relação com isso [os atos]", ressaltou. "Ele foi presidente da República, estava nos Estados Unidos, não teve contato algum com nenhum militante que estava nessas manifestações. Mas a esquerda, e se o governo achar que é prudente e conveniente convocá-lo para que ele preste esclarecimentos, ele vai com muita tranquilidade", apostou.
Jordy informou quais são as convocações prioritárias para a oposição. "Nós temos muitas pessoas que fazem parte do rol de possíveis convocados, como o Flávio Dino [ministro da Justiça] e o general Gonçalves Dias [ex-ministro-chefe do GSI]. Todos aqueles que participaram efetivamente dessa omissão dolosa", acusou.
"Se tiver omissão, a gente quer ir atrás também. Se o general Dias tiver responsabilidade, vai pagar", rebateu o petista.
O general Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, aparece nas imagens divulgadas pela CNN nessa semana, andando no 3º andar do Planalto, onde fica o gabinete presidencial, no dia das manifestações, deixando os golpistas circularem no local.