
Oito dias antes do tarifaço de Donald Trump, o governo brasileiro deu o primeiro passo para o desenvolvimento de um sistema nacional de navegação por satélite, uma espécie de "GPS genérico" e com tecnologia própria.
O grupo foi instituído por resolução do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) aprovada em 1º de julho e tem prazo de 180 dias, prorrogável por igual período, para entregar suas conclusões.
A resolução define os seguintes propósitos:
- Elaborar estudos e apresentar ações necessárias para propor uma estratégia de desenvolvimento tecnológico com vistas à implantação de um sistema brasileiro de posição, navegação e tempo (PNT);
- Diagnosticar vulnerabilidades decorrentes da dependência de sistemas estrangeiros;
- Elaborar estudos sobre possíveis rotas e desafios tecnológicos, capacidades laboratoriais e industriais instaladas e necessárias para um sistema próprio;
- Elaborar estudos sobre possíveis opções de fomento para a obtenção de um sistema brasileiro.
As reuniões ocorrerão no Palácio do Planalto e terão representantes de quatro ministérios — Ciência e Tecnologia (responsável pela coordenação dos trabalhos), Defesa, Comunicações e Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços —, além do próprio GSI. Também envolverão outras nove instituições:
- Comando da Aeronáutica;
- Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações);
- AEB (Agência Espacial Brasileira);
- Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais);
- Telebras
- Laboratório Nacional de Astrofísica;
- Finep (Financiadora de Estudos e Projetos);
- CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos);
- Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil.
Com a escalada das tensões entre Brasil e Estados Unidos, bolsonaristas têm mencionado a possibilidade de outras medidas de Trump, como expulsão de diplomatas brasileiros e bloqueio do GPS.
O GPS — sigla para Global Positioning System — é uma tecnologia desenvolvida pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos na década de 1970, ainda durante a Guerra Fria, e depois aproveitada para fins civis.
Os sistemas de navegação por satélite operam com uma "constelação" de satélites que orbitam a Terra e emitem sinais aos receptores. Em seguida, os dispositivos fazem um processo chamado triangulação, no qual recebem os sinais de três emissores diferentes e calculam a posição exata com base no tempo em que cada um deles demorou para chegar.
Embora o GPS americano seja o sistema mais disseminado no Brasil e se tornado praticamente sinônimo de navegação por satélite, outras tecnologias estão disponíveis: o sistema europeu Galileo, o russo Glonass e o chinês Beidou.
Reservadamente, um auxiliar direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse não acreditar que os Estados Unidos cheguem a bloquear o GPS para uso no Brasil.
Nas palavras desse interlocutor do petista, essa é uma medida plausível apenas em "situações de guerra", não no meio de tensões políticas ou comerciais.
De acordo com a fonte, o maior problema de uma hipotética restrição ao uso do GPS é a navegação aérea por satélites, já que os próprios aviões usam a tecnologia americana.
Já no uso mais comum do GPS, que é para funções de trânsito (como transporte de passageiros e entrega de mercadorias), a adaptação para outras tecnologias seria bem mais fácil e dependeria somente da troca por outro sistema.
Essa troca, lembra o auxiliar do governo, representaria um prejuízo à própria tecnologia americana -- que perderia um mercado importante.
Em caso de desenvolvimento de um sistema nacional de navegação por satélite, ele não precisaria ter necessariamente escala global, cobrindo apenas a localização no Brasil ou na América do Sul, por exemplo.