
Um relatório da Polícia Civil concluiu que o comandante do barco-hotel que naufragou e deixou sete pessoas mortas no Pantanal é o responsável pelo acidente. Cinco das vítimas eram de Rio Verde, no sudoeste de Goiás: quatro eram da mesma família e a quinta pessoa era um amigo deles. A investigação apontou que Vitor Celestino Francelino conduziu a embarcação mesmo ciente do mau tempo.
O relatório foi assinado no dia 20 de outubro deste ano pelo delegado Iago Adonis Ismerim dos Santos, do Mato Grosso do Sul, mas só foi divulgado nesta terça-feira (20), em primeira mão pelo portal Olha Goiás.
Ao concluir o inquérito, o delegado entendeu que Vitor, que era o comandante, é o autor do crime de homicídio culposo. No entanto, como ele também morreu no acidente, se torna impossível o seu indiciamento e, por isso, o investigador enviou o processo ao Poder Judiciário e sugeriu pelo seu arquivamento.
Acidente
Segundo a Polícia Civil, 21 homens - entre parentes e amigos - que estavam no Pantanal desde o dia 9 de outubro daquele ano, contrataram a embarcação Carcará no Porto Limoeiro. O grupo saiu para pescaria em direção ao Paraguai Mirim, região do Castelo, e depois para o Bonfim, onde ficou boa parte do tempo.
O acidente aconteceu no dia 16 de outubro, após a embarcação naufragar por causa do mau tempo. Um dos ocupantes do barco relatou à polícia que todas as pessoas estavam sem coletes. Ele disse ainda que, após o naufrágio, ficou no casco do navio junto com outros sobreviventes, até serem resgatados pela Marinha e pelo Corpo de Bombeiros.
Outra pessoa que estava na embarcação relatou, conforme o documento, que havia equipamento de segurança suficiente para todas as pessoas, porém, ninguém vestia o colete. O tripulante disse ainda que o barco tombou por causa de um “vento repentino”.
Laudos
O delegado juntou laudos de exame periciais e o Relatório De Inquérito Administrativo Sobre Acidentes e Fatos de Navegação, confeccionados pela Marinha, para concluir o inquérito.
Segundo ele, os documentos apontam que a embarcação foi atingida por vento de 145,08 quilômetros por hora, sendo que o tempo já havia sido previsto e amplamente divulgado. O delegado escreveu ainda que a responsabilidade de checar as condições meteorológicas era do condutor.
Ainda conforme a Polícia Civil, a causa do acidente foi a “imprudência” de Vitor, que conduziu o barco mesmo ciente do mau tempo e que ainda deixou de executar uma manobra que poderia garantir a segurança dos tripulantes e passageiros.
A causa da morte das sete vítimas foi apontado no laudo como sendo “afogamento em decorrência de acidente náutico”.
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Goianos na embarcação
Dentre os cinco goianos na embarcação, quatro eram da mesma família. Eles foram enterrados no dia 17 de outubro daquele ano, em Rio Verde. Amigos e parentes se emocionaram na despedida do grupo.
“É um momento ímpar, difícil. Um momento igual a esse eu nunca passei na minha vida, é o pior momento da minha vida até hoje”, disse Osvaldo Alves de Souza, após perder dois irmãos, um sobrinho e o marido de uma sobrinha no acidente.
As vítimas da mesma família são:
- Thiago Souza Gomes, de 18 anos;
- Fernando Gomes de Oliveira, de 49 anos, pai de Thiago;
- Olímpio Alves de Souza, de 71 anos;
- Geraldo Alves de Souza, de 78 anos, era irmão de Olímpio, sogro de Fernando Gomes e avô de Thiago.
O quinto goiano vitimado no acidente, Fernando Rodrigues Leão tinha 49 anos, que era amigo do grupo de familiares que estavam juntos. Ele foi enterrado no dia seguinte, pois o corpo demorou um pouco mais para ser transportado à Goiás.
Filho de goiano sobreviveu
Filho de Olímpio Alves, uma das vítimas goianas, o dentista Leonardo Oliveira Alves, de 47 anos, que é um dos sobreviventes do naufrágio, disse que todo acidente aconteceu em questão de segundos. Ele achou que morreria no naufrágio.
"Eu estava morto naquele momento, cheguei a pensar que ali que tinha acabado a vida. Machuquei um pouco, porque caiu coisa em mim e, de repente, Deus me tirou de lá e eu consegui sair”, disse.
“Eu chorei muito, sofri muito, meu pai era meu guia, mestre, meu líder. O que me conforta é a alegria que ele estava lá comigo. A alegria que deixei naquele rosto, o tanto de beijo que eu dei. Isso para mim vai ficar”, contou Leonardo, à época.
O dentista contou que a família ia todos anos ao Pantanal para pescar. Os momentos antes do acidente eram de extrema alegria entre eles. O grupo fazia um churrasco, que encerraria o passeio.
O tempo, então, ficou nublado rapidamente, mas sem vento forte. Porém, segundos depois, uma rajada de vento quase derrubou uma geladeira. Ele segurou o eletrodoméstico e ficou na parte de cima para ajudar a organizar as coisas.
“Nesse momento, quando a gente pegou uma vasilha de comida, era para eu ter descido, mas eu voltei para pegar um celular. Quando eu peguei o celular, o barco, em dois segundos, porque não deu tempo de respirar, o barco de 75 toneladas levantou e virou”, contou, na época do acidente.