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Segunda, 09 de junho de 2025

Ocupação irregular de áreas em Petrópolis mais do que dobrou entre 1985 e 2020

Dados são de monitoramento realizado pelo MapBiomas com base nas regiões consideradas 'aglomerados subnormais' pelo IBGE. A expansão da ocupação irregular continuou a crescer mesmo após grandes tragédias, como as de 1988, 2011 e 2013.

23 de fev 2022 - 07h:54 Créditos: Redação G1
Crédito: G1

As áreas ocupadas de forma irregular mais que dobraram em Petrópolis, no Rio de Janeiro, nos últimos 35 anos. É o que mostra levantamento feito a pedido do g1 pela MapBiomas com base em imagens de satélite e dados do IBGE.



Entre 1985 e 2020, houve um crescimento de 108,81% no espaço ocupado na cidade pelos "aglomerados subnormais", classificação do IBGE para áreas como favelas, invasões e loteamentos irregulares.

Geralmente, esses locais estão em áreas precárias, sem infraestrutura básica – muitas vezes em regiões consideradas de risco de deslizamentos ou inundações.

O IBGE mapeou 48 "aglomerados subnormais" em Petrópolis, entre eles o Morro da Oficina, um dos mais devastados pela tempestade que destruiu a cidade na última semana.

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A expansão da ocupação irregular continuou a crescer mesmo após grandes tragédias, como as de 1988, 2011 e 2013.

A área construída no município sobre esses locais em 1985, três anos antes de uma das maiores tragédias já registradas na história da cidade, era de 198,7 hectares, mostra o levantamento realizado por Julio Cesar Pedrassoli, coordenador do mapeamento das áreas urbanizadas do MapBiomas e professor de engenharia Cartográfica da Universidade Federal da Bahia.

Em 2020 – último ano com dados atualizados –, essa ocupação passou para 414,9 hectares (aumento de 108,81%).

Veja abaixo a evolução da área ocupada a cada 5 anos:

Avanço da ocupação irregular em Petrópolis — Foto: Kayan Albertin/g1

Avanço da ocupação irregular em Petrópolis — Foto: Kayan Albertin/g1


Mais de 70 mil pessoas em áreas de risco


De acordo com uma pesquisa feita pelo IBGE e pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), utilizando dados do Censo 2010, pouco mais de 70 mil pessoas moravam nessas áreas de risco de desastres naturais em Petrópolis em 2018.

O número representa 24,4% da população total do município calculada pelo órgão. Esse mesmo levantamento do IBGE apontou que 24.089 domicílios estavam nas áreas de risco.

Em outro levantamento, contratado pela prefeitura de Petrópolis e realizado pela empresa Theopratique Obras e Serviços de Engenharia e Arquitetura em 2016, foram mapeadas 27.704 moradias "em áreas de risco alto e muito alto" nos 5 distritos que compõem a cidade.

As informações constam no Plano Municipal de Redução de Riscos, que foi entregue à prefeitura em 2017 e utiliza metodologia diferente a do IBGE.


Cada vez mais alto


O Morro da Oficina cresceu 88,9% em área construída de acordo com os cálculos do MapBiomas. No vídeo abaixo, a mancha vermelha representa o aumento das construções ao longo dos anos:

Veja a evolução do avanço das favelas em Petrópolis

Veja a evolução do avanço das favelas em Petrópolis

Segundo a análise da professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e coordenadora do tema urbano no MapBiomas, Mayumi Hirye, ao longo dos anos as pessoas passaram a ocupar regiões da encosta com maior declive. O avanço das construções está relacionado com a falta de alternativas de habitação para a população de baixa renda.

"Outro processo que deu pra notar no Morro da Oficina e que também notamos em outras áreas de ocupação informal é o aumento do número de pavimentos das edificações", disse Mayumi.


"Isso representa um adensamento da ocupação e uma sobrecarga sobre o terreno. Como são áreas de ocupação informal, não tem um engenheiro fazendo cálculo de qual é a fundação adequada. Quando a pessoa constrói o primeiro andar, ela constrói uma fundação pensando nesse primeiro andar. Quando constrói o segundo andar você tem uma sobrecarga de estrutura", comentou.


Essa sobrecarga sobre o solo pode aumentar as chances de deslizamentos de terra nos locais que já são suscetíveis a esse fenômeno, segundo especialistas ouvidos pelo g1

"Petrópolis está numa área montanhosa, na região serrana do Rio de Janeiro, que é altamente suscetível a desenvolver deslizamentos e processos de instabilização de encostas", explicou Julio Lana, geólogo do Serviço Geológico do Brasil, da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (SGB-CPRM).

"Conforme a cidade se expande, as ocupações vão tomando áreas que são mais suscetíveis e, geralmente, isso ocorre de maneira desordenada. Fatalmente, você vai ter uma série de ocupações sem nenhum tipo de estudo técnico, e, portanto, há a geração de áreas de risco", concluiu.

Tragédia em Petrópolis é a maior da história da Cidade Imperial

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Para uma determinada região ser considerada "área de risco" é preciso haver ocupação humana em um local onde há chances de ocorrer esses eventos naturais como deslizamentos, inundações e enxurradas.


O que pode minimizar os problemas?


"Reassentar todas as pessoas é praticamente impossível", comenta o geólogo da SGB-CPRM.

"São milhões de pessoas morando em áreas de risco no Brasil inteiro. Reassentar todas elas é algo praticamente utópico".

Porém, o especialista apontou alguma medidas que podem ser tomadas para diminuir os riscos:


  • Conscientização e comunicação da população em áreas de risco para que elas deixem provisoriamente a região quando houver previsão de fortes chuvas;
  • Obras de engenharia para reduzir riscos, como obras de drenagem e muros de contenção, embora sejam pontuais e incapazes de resolver todos os problemas;
  • Fiscalização para que as áreas de risco não cresçam


Mayumi, do MapBiomas, também reforçou a importância de oferecer alternativas à população que ocupa essas áreas.

"Não adianta somente proibir e fiscalizar para que essas áreas não sejam ocupadas. É preciso trabalhar para oferecer as alternativas, seja via mercado imobiliário, seja via políticas públicas de habitação", afirmou.


"As pessoas de baixa renda não acessam o mercado imobiliário formal. Seja porque não possuem crédito ou porque não têm renda suficiente. O que resta para elas é, muitas vezes, comprar um lote informal ou invadir áreas, que muitas vezes são de risco", disse.


A especialista também alertou para as projeções climáticas, que mostram que as chances de eventos como as chuvas extremas estão aumentando.

"Grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte estão assentadas sobre esses terrenos [suscetíveis a deslizamentos]. Você tem cidades menores, como essas da região Serrana do Rio, por exemplo, que também estão em áreas de risco. E se você junta essas situações existentes com as projeções futuras de mais chuva, é de se esperar que a gente tenha mais eventos como esse", concluiu.

As mortes em decorrência das chuvas que atingiram Petrópolis na semana passada passaram de 190, informou o Corpo de Bombeiros no início desta terça-feira (22). Há ainda 83 desaparecidos. O número é o maior já registrado na história da cidade – a maior catástrofe até aqui era a de 1988, quando 171 morreram.


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