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Quinta, 21 de novembro de 2024

Entenda como a crise envolvendo a Ucrânia e a Rússia pode afetar o Brasil

O impacto mais significativo seria maior pressão sobre a inflação, especialmente por causa dos preços dos combustíveis. Os principais produtos que o Brasil importa da Rússia são ligados à agricultura, especialmente fertilizantes.

24 de fev 2022 - 15h:58 Créditos: G1
Crédito: G1

Se a Rússia de fato enviar tropas para a Ucrânia após a autorização de Vladimir Putin para a entrada de militares no país, haverá consequências indiretas para países que não estão envolvidos no conflito, mas que têm parcerias comerciais com os russos ou os ucranianos, apontam especialistas. O Brasil seria afetado principalmente por causa da economia, e o impacto mais significativo seria maior pressão sobre a inflação.

Em 21 de fevereiro, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, autorizou o envio de militares russos para "manter a paz" nas regiões separatistas da Ucrânia de Donetsk e Luhansk.

O Brasil é secundário na disputa, diz Fernanda Magnotta, senior fellow do núcleo EUA do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).


"No entanto, todos os países se afetam de alguma forma. E, de cara, há efeitos econômicos derivados de um conflito: o abastecimento de gás e uma alta de preço de combustíveis, por exemplo, que afetariam de forma muito significativa países como o nosso, onde o preço de combustíveis já tem sido, nos últimos meses, o responsável por pressão inflacionária", aponta a especialista.


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Em entrevista à GloboNews, José Márcio Camargo, economista chefe da Opus Investimentos, afirma que no ano passado o petróleo já teve um aumento de mais de 40%, e que, além disso, haveria um choque nos preços de alimentos.

Os principais produtos que o Brasil importa da Rússia são ligados à agricultura, especialmente fertilizantes. Na tabela abaixo, estão os cinco itens que o país mais comprou dos russos em 2021, em valores. Apenas um, hulha betuminosa (um tipo de carvão mineral), não é usado no solo para preparação para o plantio.

Produtos que o Brasil mais importa da Rússia*

Outros cloretos de potássio1,35 bilhão
Diidrogeno-ortofosfato de amônio (fosfato monoamônico ou monoamoniacal), mesmo misturado com hidrogeno-ortofosfato de diamônio (fosfato diamônico ou diamoniacal)862 milhões
Ureia, mesmo em solução aquosa, com teor de nitrogênio (azoto) superior a 45 %, em peso, calculado sobre o produto anidro no estado seco508 milhões
Hulha betuminosa, não aglomerada411 milhões
Nitrato de amônio, mesmo em solução aquosa377 milhões
*Dados de 2021, em dólares

Fonte: Comex

Magnotta afirma que o Brasil é muito dependente da Rússia em relação a esses insumos, e uma operação militar na Europa teria efeito direto em relação ao abastecimento de adubo e fertilizantes.

"Já há algum desabastecimento em geral na economia por causa da pandemia, e no contexto de guerra isso seria agravado", aponta.



Produtos mais exportados do Brasil para a Rússia*

Soja, mesmo triturada, exceto para semeadura343.286.654,00
Pedaços e miudezas, comestíveis de galos/galinhas, congelados167.164.904,00
Café não torrado, não descafeinado, em grão132.723.847,00
Amendoins descascados, mesmo triturados129.731.662,00
Outros açúcares de cana124.262.859,00
*Dados de 2021, em dólares

Fonte: Comex


Consequências de política externa


O Brasil pleiteou o apoio dos Estados Unidos para se tornar um membro extrarregional da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). No conflito, o governo russo pede o fim da política expansionista da Otan e que a organização se comprometa a não instalar armas de ataque perto de suas fronteiras.

Caso houvesse um conflito militar, o país seria cobrado pelas potências em relação ao seu posicionamento —ou seja, seria forçado a assumir um lado.


"Isso implica tomar decisões em relação a quem desagradar: de um lado o Brasil é parte da aliança ocidental e há a tentativa de se chegar a um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia já há uma longa data, e do outro, a China tem sinalizado uma aproximação com a Rússia", afirma Magnotta.



Viagem de Bolsonaro


Ainda que não haja um agravamento da situação na Rússia, no Brasil já há algumas consequências políticas, segundo Magnotta. Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro (PL) viajou à Rússia e encontrou-se com Putin no dia 16 de fevereiro.

Na ocasião, o governo russo dizia que estava retirando suas tropas. Rapidamente, aliados do presidente brasileiro divulgaram a retirada das tropas como se o brasileiro tivesse alguma relação com isso.

O ministro do Turismo, Gilson Machado, chegou a publicar no Twitter uma montagem de uma capa falsa da revista norte-americana "Time" que mostra o presidente Jair Bolsonaro e, abaixo, a frase: "Prêmio Nobel de 2022". A capa falsa ainda incluía ainda frases para atribuir à viagem de Bolsonaro à Rússia a retirada de tropas russas da fronteira com a Ucrânia, o que não foi confirmado.

Também circulou pelas redes sociais um vídeo de um discurso do presidente russo Vladimir Putin com legendas em português que afirmam que, após conversar com o presidente Jair Bolsonaro, ele desistiu de atacar a Ucrânia.

A edição é mentirosa e não condiz com o que Putin falou em russo. Na verdade, ele faz um discurso em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março.



Sanções podem ser impostas à Rússia


Os membros da União Europeia discutem quais devem ser as sanções que deverão aplicar à Rússia.

Um dos temas que mais se discutem é interromper a construção do duto de Nord Stream 2, que leva gás russo à Alemanha. O gasoduto ainda não entrou em operação.

O líder da Alemanha, o chanceler Olaf Scholz disse que vai congelar o processo de certificação do Nord Stream 2 depois que a Rússia reconheceu formalmente a existência dos dois territórios separatistas da Ucrânia como repúblicas independentes.

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