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Sábado, 06 de julho de 2024

Dólar cai 13% no ano; entenda por que a moeda está em queda mesmo com guerra na Europa

Moeda fechou em R$ 4,84; Brasil tem atraído dólares por causa dos juros altos e por ser um grande produtor agrícola

24 de mar 2022 - 09h:08 Créditos: r7
Crédito: r7

O dólar caiu pela sexta vez seguida ante o real e atingiu o menor nível em dois anos nesta quarta-feira (23). A moeda americana perdeu 1,44% no dia e fechou a R$ 4,8446 para a venda, o menor valor para encerramento desde 13 de março de 2020 (R$ 4,8128).

Em 2022, o dólar acumula queda de 13,11% ante a moeda brasileira, o que deixa o real com a melhor performance global acumulada até o momento.

Parece estranho que a moeda brasileira se valorize enquanto acontece uma guerra entre uma superpotência como a Rússia e a Ucrânia, em plena Europa. Isso, em tese, faria com que a aversão ao risco e o medo de que o conflito se estenda por mais países levassem os investidores estrangeiros a buscar proteção para o seu dinheiro em "portos seguros" como ouro e dólar, considerado uma moeda de "reserva de emergência" para os países.

Porém essa guerra tem feito exatamente o contrário, valorizando a moeda brasileira em relação ao dólar. Por quê?

Por que o real está se valorizando mesmo com uma guerra?

A coluna ouviu dois especialistas para explicar por que isso está acontecendo: Rachel de Sá,  chefe de economia da Rico Investimentos, e Carlos Heitor Campani, professor de finanças do Coppead/UFRJ.

Rachel de Sá explica que, apesar de um ambiente de guerra causar mais aversão ao risco, o que em tese seria negativo para países emergentes como o Brasil, que são considerados mais arriscados e afastariam os investidores estrangeiros, essa guerra tem a característica de envolver dois grandes produtores de commodities, Rússia e Ucrânia. Esses países produzem muitas commodities minerais, agrícolas e energéticas, como trigo, petróleo, alumínio e ouro, por exemplo. 

Com a perspectiva de diminuição da produção desses países, os produtores de commodities como o Brasil acabam se "beneficiando" dessa briga, já que os demais países vão comprar os produtos de nações que não estão em guerra e, portanto, têm o que vender.

A economista explica também que o Brasil já vinha num movimento de valorização do real antes mesmo de a guerra estourar, porque com o retorno do mundo à normalidade após o pico da pandemia os países voltaram a buscar commodities para produzir. Mas, por conta da própria pandemia e por problemas climáticos, a produção de commodities já era mais baixa.

Em economia, quando um produto está em falta, seu preço aumenta. E é por isso que um país que produz mercadorias de que os demais estão precisando recebe mais dinheiro. Não é isso o que acontece no mercado da esquina? Se todo mundo quer comprar papel higiênico e o papel higiênico acaba, quem tem estoque vai poder aumentar o preço, porque os compradores vão disputar o produto. Essa é a chamada lei da oferta e da demanda, e é o que acontece com tudo o que é produzido e que tem valor econômico.

Como os estrangeiros estão trazendo dólares para comprar produtos em reais, existe maior oferta da moeda, seu preço cai e o o real se valoriza.

Alta dos juros no Brasil atrai capital estrangeiro

Outro fator que também está atraindo os investidores é a forte alta da taxa básica de juros do Brasil, a Selic, que passou de 2% ao ano em março de 2021 para 11,75% ao ano em apenas 12 meses e deve alcançar 12,75% ao ano já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária.

Quem explica esse movimento é o professor Carlos Heitor Campani, da Coppead/UFRJ. "Se o investidor internacional investir em dólar lá fora, vai ganhar 2% por ano, e olhe lá. E aqui nossa taxa está em 11,75% ao ano, o que, mesmo descontado o risco, representa um ganho real para o investidor", diz.

"O termômetro é a Bolsa brasileira, que neste primeiro trimestre, que ainda nem terminou, já recebeu mais dólares do que no ano passado inteiro", diz.

Outro motivo para que o real esteja se valorizando é a percepção dos investidores de que ele está desvalorizado demais, ou seja, o Brasil está barato, é uma pechincha.

"O Brasil continua sendo um bom negócio, e o investidor internacional está começando a achar que vale a pena o risco Brasil. Todos esses componentes juntos estão pressionando para o mesmo lado, para que o dólar caia e o real se fortaleça", diz Campani.

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