O levantamento feito pelo governo federal, através da Casa Civil, atualizou a lista de municípios que possuem áreas de risco de deslizamentos, enxurradas e inundações.
Em Mato Grosso do Sul, 29 cidades estão na indicação e a Defesa Civil estadual relata que o Plano Estadual de Proteção e Defesa Civil ainda não foi instituído, pois depende do Plano Nacional.
A criação de centros de monitoramento de desastres ambientais é defendida por cientistas e meteorologistas.
O doutor em Meteorologia e professor do Instituto de Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Vinicius Capistrano, informa que para evitar o agravamento de mudanças climáticas, as grandes cidades deveriam ter centros de monitoramento de eventos extremos.
“Isso ajudaria a tomada de decisão mais rápida, talvez em tempo real, por parte dos órgãos responsáveis. Tal centro de previsão poderia ser dotado de um modelo de previsão de tempo e enchentes em alta resolução, detectores de campo elétrico e meteorologistas para monitoramento de tempestades por Radar Meteorológico”, expõe o professor.
Já o meteorologista do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de MS (Cemtec), Vinicius Sperling, relata que apesar do esforço do Cemtec, o centro é pequeno para realizar todas as atividades de monitoramento detalhadamente, sendo indica a criação de centros regionais e locais como o caminho apontado por pesquisadores e cientistas para esse fim.
“É um pouco o que o Cemaden faz, são centros multidisciplinares. Você tem uma sala de situação, pessoas monitorando em tempo real, só que no Cemaden é o país inteiro e também é um pouco inviável dar um detalhe melhor, mas é assim, são meteorologistas, são hidrólogos, são sociólogos que conhecem as áreas de risco, conhecem o impacto que pode ter, são geólogos que tem a ver com deslizamentos, são esses centros multidisciplinares que eu acho que tem que ser pensados”, relata Sperling.
O meteorologista falou também que aliado ao centro de monitoramento é necessário também um sistema de comunicação direta com a população, que vai avisar, principalmente as pessoas em áreas de risco, sobre a situação real do local em eventos extremos como fortes chuvas, que podem causar estragos.
“Pensando em eventos extremos, por exemplo uma chuva intensa, que nem acho que caiu dia 4 de janeiro de 2023 em Campo Grande, 140 milímetros mais ou menos, vira um caos a cidade. Então não adianta ter um centro monitorando, vendo a situação, entendendo o que está acontecendo, e sem ter um canal direto com a população. Em algumas áreas de risco, por exemplo, região serrana do Rio, tem sirenes que tocam. Tudo isso tem que se ver”, comenta o meteorologista.
Segundo o relatório da Casa Civil, 25.092 pessoas em Mato Grosso do Sul estão nessas áreas de risco, que foram mapeadas pelo governo federal nos municípios de Água Clara, Amambai, Anastácio, Aquidauana, Bataguassu, Batayporã, Bela Vista, Bonito, Brasilândia, Campo Grande, Cassilândia, Coronel Sapucaia, Corumbá, Coxim, Deodápolis, Dourados, Eldorado, Itaquiraí, Ivinhema, Miranda, Mundo Novo, Naviraí, Nioaque, Ponta Porã, Porto Murtinho, Rio Verde de Mato Grosso, Santa Rita do Pardo, São Gabriel do Oeste e Três Lagoas.
De acordo com o levantamento, a cidade que mais teria a população atingida em casos de chuvas extremas seria Batayporã, que das 10.712 pessoas que vivem no município, 10 mil são em áreas de risco de enxurradas e inundações.
A Defesa Civil estadual aponta que publicou o Decreto n° 16.244/23, que institui a Política Estadual de Proteção e Defesa Civil, e que no documento, estão previstas todas as atribuições de todos os envolvidos em cenários de catástrofes climáticas.
Além disso, frisou que as coordenadorias municipais e estadual têm como medida preventiva a elaboração de planos de contingência para todos os tipos de desastres.
A prefeitura de Campo Grande informou que possui uma Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil, que tem todo o mapeamento de áreas de risco da Capital.
“Entender os riscos e identificar cenários que possam causar potenciais danos são ações essenciais, com mapeamento das vulnerabilidades físicas e sociais e que leve em consideração os tipos de solo, vegetação, construção e localização geográfica. Todos esses tópicos já vêm sendo estudados”, pontua a prefeitura, que rebateu inclusive, o levantamento feito pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), que coloca Campo Grande entre as capitais que não possuem plano municipal de enfrentamento para mudanças climáticas.
SAIBA
Em MS, os municípios com mais pessoas vivendo em áreas de risco são Batayporã (10 mil), Aquidauana (2.650) e Coxim (1.740).