Em meio a pandemia do novo coronavírus, cerca de 17 mil indígenas das aldeias Bororó e Jaguapiru, em Dourados, continuam sem água encanada no espaço que forma a maior reserva urbana indígena do país. Segundo o líder da aldeia Bororó, Gaudêncio Benites, quase metade dos índios está sem abastecimento de água há mais de um mês.
O assunto já mereceu várias manifestações do deputado Barbosinha (DEM), da tribuna da Assembleia Legislativa, em visita realizada pessoalmente às comunidades afetadas e em intervenções junto ao MPE (Ministério Público do Estado) e ao MPF (Ministério Público Federal), mas, "infelizmente, a Sesai [Secretaria especial de Saúde Indígena], órgão do Ministério da Saúde que deveria cuidar desse assunto, parece que não vê nesse problema um agravante para os casos de coronavírus", observa o deputado.
Citando o mais recente boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde da Prefeitura de Dourados, que mostra, na última sexta-feira (21), 15 novos casos de testagem positiva para a Covid-19 entre os índios das aldeias da cidade, Barbosinha disse que "se algo não for feito, além da gravidade do problema, a Reserva de Dourados vai ser o epicentro do coronavírus em Dourados, por absoluta inércia dos organismos oficiais".
O procurador do MPF em Dourados, Marco Antonio Delfino de Almeida, concorda que a falta de água é uma realidade nas comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul e lembra que desde 2011 vem cobrando providências. "Infelizmente é necessário que haja demanda judicial para um direito que deveria ser automático", acrescenta.
"Já chegamos a ficar 15, 20 dias, sem água. É um problema constante na comunidade. Não tem como cobrar higienização porque não tem água. Não adianta oferecer o produto para lavar se não tem água. É um problema sério", diz o líder da aldeia Jaguapiru, Nelson Avila, relatando a realidade dos índios de Dourados.
"Se não houver uma intervenção federal na Sesai, essa situação vai continuar e nós vamos perder vidas", protesta o deputado Barbosinha. Alguns indígenas chegam a percorrer mais de 4 quilômetros para levar água para casa, diariamente. As aldeias já somam 232 casos confirmados do novo coronavírus desde o início da pandemia em Dourados.
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