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Domingo, 22 de dezembro de 2024

Conselheira tutelar relata cenas de horror em abandono de crianças na Capital

Pior que uma violência, uma situação de abandono cruel, disse a profissional que resgatou as três crianças rodeadas de lixo, sujeira e fezes

24 de ago 2022 - 13h:29 Créditos: JD1
Crédito: Imagem Ilustrativa

"Pior que uma violência, uma situação de abandono cruel", essas foram as palavras usadas pela conselheira tutelar Vania Aparecida da Silva para definir o caso de abandono de três crianças no bairro Santa Luzia, em Campo Grande, na noite desta terça-feira (23). Elas foram resgatadas com auxílio da Polícia Militar.

Em entrevista a reportagem, a conselheira relatou que as crianças, de 12, 10 e 2 anos, estavam sozinhas no imóvel onde havia dois quartos, uma sala, cozinha e um banheiro.

A conselheira explicou que apesar do chamado inicial, as crianças não responderam nem ela, nem os policiais militares e houve a hipótese de arrombamento, não necessariamente cumprida. Contudo, sabiam ter gente na residência, pois o bebê passou a chorar e por isso a criança mais velha resolveu abrir a casa.

Porém, as cenas de horror levaram Vania a passar mal. A profissional contou que em todos os cômodos da casa havia roupas sujas jogadas no chão, comida podre, panela de pressão aberta com alimentos estragados, banheiro com fezes e impossibilitado de ser usado, uma cena, segundo ela, "que nunca tinha visto", apesar dos longos anos que trabalha no Conselho Tutelar.

Com tamanha sujeira e situação insalubre, um policial militar, que atendia a ocorrência, também entrou em choque ao ver a situação do banheiro onde as crianças tomavam seus banhos. O bebê de dois anos estavam sem fraldas e a irmã teria apontado que só existiam mais duas fraldas, mas que ele já tinha usado uma naquele dia.

Vania lembrou que não é a primeira vez que visita à família. Em outros tempos, quando a menina tinha entre 3 e 4 anos, uma situação de abandono também havia sido registrada e chegou a ser acolhida em algumas oportunidades por causa do uso de drogas da mãe.

À reportagem, a conselheira salientou ser possível que as crianças não retornem para o convívio com a mãe, mas que tudo dependerá dos trâmites legais, pois há uma reunião marcada nesta quarta-feira (24) após a procura da mãe para saber sobre as crianças, no intuito de apresentar uma proposta de ajuda para a mãe e as crianças.

Caso seja aceita, haverá todo o esforço por meio da unidade, e se rejeitada, a situação será encaminhada ao Ministério Público e ao Poder Judiciário.

O que chamou a atenção da conselheira e dos militares é que a menina de 12 anos era bastante instruída a conceder justificativas que 'limpassem' a barra da mãe, mesmo em uma clara situação degradante de uso de drogas. Das várias justificativas apresentadas pela menina, a que a mãe estava trabalhando e que não tinha tempo foram as mais usadas.

"A droga ela está acabando com a família, acabando com as pessoas e quem sofre são as crianças", indagou a conselheira. Ela não tinha conhecimento de quanto tempo as crianças ficariam sozinhas na residência recheada de sujeira, fezes e lixos.

Do lado de fora o cenário também era semelhante. A profissional relatou que usuários de drogas ganham muitas roupas e tinha uma pilha de peças de vestuário amontada, além dos dejetos e comidas que eram jogadas no espaço.

Questionamento das crianças

Durante a conversa com a menina, Vania relatou que ela buscava entender para onde iriam, pois não tinham com quem ficar naquele momento - a própria criança relatava que as avós morreram e que não tinha condições de conviver com o pai.

"Tia, eu vou para a escola amanhã", foi um dos questionamentos feitos pela menina para a conselheira tutelar.

A situação de abandono de incapaz somente não evoluiu para uma flagrante, pois a mãe das crianças não estavam na residência naquele momento, por volta das 18h de ontem. A conselheira reiterou que a mulher poderia ser presa, pois era um claro e grave crime de abandono de incapaz.

O caso deve ser investigado pela Polícia Civil, pois foi registrado um boletim de ocorrência na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Centro e as crianças estão na unidade de acolhimento do Conselho Tutelar.

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