“O maior estimulo para o cometer homicídios é a impunidade”. É com essa frase que a família de policial militar Jurandir Miranda, de 47 anos, resolveu estampar outdoors e externar a revolta em ver o homem que tirou a vida do parente ser inocentado pela justiça. No julgamento, foi reconhecido que o também policial Izaque Leon Neves, de 33 anos, matou em legítima defesa.
O crime aconteceu em outubro de 2019, na cidade de Aquidauana – cidade a 135 quilômetros de Campo Grande. Izaque, soldado da Polícia Militar, matou Jurandir com 7 tiros, supostamente por ciúmes da ex-mullher. Os dois tinham uma rixa antiga e chegaram até a ser punidos administrativamente por conta de brigas e ameaças.
No dia 11 de setembro deste ano, o soldado foi julgado pela Justiça Militar. Por maioria, foi considerado inocente. Conforme consta no site Campo Grande News, o advogado de Izaque, Antônio Cicalise Netto, afirmou que o júri analisou vídeos do crime e depoimento e por isso reconheceu que ele agiu em legitima defesa.
O mesmo vídeo usado pela defesa para justificar a legítima defesa, para a família, mostra exatamente o contrário. Nas imagens é possível ver Jurandir chegar de moto na lanchonete. Izaque já estava no local, sentado sozinho em uma das mesas. Assim que a vítima estaciona, é atingido pelo primeiro tiro.
Ferido, ele ainda desce da moto, é mais uma vez baleado e cai na calçada. O soldado foge, mas não demora muito para voltar. Ele chuta o rival, os dois brigam no chão e ficam ali por mais de um minuto, até que testemunhas aparecerem para separar. Nesse momento, segundo a família, Jurandir ainda foi esganado e privado de qualquer tipo de socorro.
“No momento do julgamento os oficiais que votaram a favor da absolvição não assistiram ao vídeo, ou estavam com os olhos tapados. Porque por mais leiga que seja a pessoa, ao assistir o vídeo, chegará à conclusão de que foi uma execução”, desabafou Arthur Viegas Miranda, filho de Jurandir.
Izaque ficou preso do dia do crime até o julgamento. Com a inocência decretada, foi liberado. Para Arthur, e para toda família, a decisão mostra a fragilidade do sistema judiciário. “Esperávamos que no mínimo iria ser feita justiça, mas para a surpresa de todos, o júri decidiu por três votos a dois que foi legítima defesa. O sentimento de todos é que a Justiça Militar ignorou o símbolo da justiça e usou a velha tese do corporativismo”.
“O que mais revolta é saber que os oficiais que participaram do julgamento são formados em Direito ou no mínimo tem um grande conhecimento da matéria, pois tiveram aulas na academia de formação de oficiais. Para os familiares e a sociedade aquidauanense, a Justiça Militar perdeu uma grande oportunidade de ganhar credibilidade”, afirmou.
Jurandir era cabo da Polícia Militar e estava lotado na PMA (Polícia Militar Ambiental) quando foi assassinado. “Ele foi um homem honesto, digno e cumpridor dos seus deveres, sempre apoiou a nossa família”. Agora, o advogado contratado pela família vai recorrer da decisão, e enquanto isso a família se une em um só pedido: “justiça já”.