A Polícia Civil cumpriu três mandados de prisão, deteve mais duas pessoas em flagrante e capturou um foragido da Justiça na terceira fase da Operação Caronte, realizada nesta sexta-feira, 24, que mira o tráfico de drogas na Cracolândia, no centro de São Paulo. Entre os presos, está Selma Regina Lourenço, de 51 anos, a “Abelha Rainha”, apontada como uma das líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) na região, segundo a investigação.
Focada em prender vendedores de droga da Cracolândia, a Operação Caronte foi iniciada há cerca de oito meses, contou com a infiltração de agentes no fluxo e antes já havia identificado uma nova dinâmica do tráfico na região, o “carrossel do crack”. De acordo com a investigação, o território é dominado pelo PCC que fatura cerca de R$ 200 milhões por ano com o comércio ilegal de entorpecentes no local.
© Felipe Rau/Estadão Região da Cracolândia, no centro de São Paulo, em julho de 2021
Nesta terceira fase, deflagrada às 8 horas, a Polícia Civil planejou cumprir 23 mandados de prisão temporária. Até o momento, no entanto, 20 alvos ainda não foram localizados e são considerados foragidos. A investigação é conduzida por agentes do 77º Distrito Policial (Santa Cecília) e pela Delegacia Seccional do Centro.
“Existe um trabalho da Polícia Civil para identificar a função de cada um deles e como eles trabalhavam dentro dessa rede de tráfico de drogas”, diz o delegado seccional Roberto Monteiro. Outras duas pessoas foram presas em flagrante por tráfico de drogas durante a ação. Um procurado da Justiça também foi localizado.
Um dos principais alvos da operação, Selma Regina Lourenço estaria envolvida com o tráfico na Cracolândia há 20 anos, de acordo com a polícia. “Ela é apelidada de ‘Abelha Rainha’ justamente porque tinha, em volta dela, muitos traficantes que compravam e revendiam drogas que ela oferecia”, afirma Monteiro. “É uma liderança que nós já estávamos buscando há bastante tempo e hoje foi presa.”
Ainda segundo o delegado, a suspeita estaria “diretamente ligada” à facção criminosa, seria responsável por uma das barracas instaladas no fluxo e já havia sido presa antes por tráfico. “Ela é uma das traficantes relevantes”, diz. “Ela vendia droga para consumidores finais e também para micro-traficantes da área da Cracolândia e do centro.”
Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão em cinco hotéis da Cracolândia. “Essas hospedagens são, na verdade, quartéis generais do tráfico de drogas e local de consumo para dependentes químicos”, diz o delegado. “Percebemos a utilização desses imóveis como verdadeiros depósitos de drogas e também local de reunião dos traficantes.”
A Polícia Civil diz ter apreendido porções de maconha, crack, lança-perfume e cocaína, mas as substâncias foram encaminhadas para o Instituto de Criminalística (IC), motivo pelo qual ainda não haveria o balanço final da quantidade de entorpecente. Houve, ainda, apreensão de uma arma de fogo falsa, uma bicicleta elétrica, uma seringa, duas facas, dois pneus e três máquinas de cartão.
PM fez ‘cerco’ contra arrastões
A terceira fase da Operação Caronte também contou com apoio da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e da Polícia Militar (PM). Segundo o delegado seccional, o planejamento previa que a PM realizasse o cerco na Cracolândia contra retaliações, como invasões de lojas e arrastões já registrados no entorno em outras ocasiões.
“Nas operações de anos anteriores, era muito comum que traficantes incentivassem os usuários de droga para que fossem até áreas de comércio e avenidas próximas, justamente para praticar furtos, assaltos e depredação de bens”, diz Monteiro. “Isso tirava o foco da polícia, que se voltava à proteção do patrimônio público e privado, impedindo a ocorrência de arrastões.”
Desta, coube à PM fazer o “anel maior”, ou seja, o policiamento preventivo em proximidades da Cracolândia, para reduzir o risco desses crimes. “Não houve nenhum tumulto”, afirma o delegado. “O planejamento foi muito grande para que não houvesse nenhuma intercorrência. O objetivo é prender traficantes e não ter qualquer efeito colateral.”