Menu
Quinta, 04 de dezembro de 2025

Guerra das canetas: veto da Anvisa reacende debate sobre patentes e acesso

Pacientes veem tratamento inviabilizado enquanto especialistas divergem sobre alternativas

24 de nov 2025 - 14h:38 Créditos: Redação, com informações do Midiamax
Crédito: Reprodução/Midiamax

O tratamento para perda de peso — seja por estética ou saúde — ficou ainda mais caro no Brasil após a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibir a importação de canetas emagrecedoras com tirzepatida adquiridas no Paraguai, mesmo quando destinadas ao uso pessoal e acompanhadas de prescrição médica. A mudança impacta diretamente pacientes de Mato Grosso do Sul, que agora relatam aumento de até três vezes nos custos mensais.

A decisão, publicada na quinta-feira (20), veta a entrada dos produtos T.G. 5, Lipoless, Lipoless Eticos, Tirzazep Royal Pharmaceuticals e T.G. Indufar, todos sem registro sanitário no Brasil. Segundo a Agência, esses itens não tiveram qualidade, eficácia e segurança avaliadas no país. Até então, a importação era liberada mediante receita médica e uso exclusivo do comprador.

 

Pacientes tentam manter tratamento mesmo com restrição

A reportagem ouviu uma moradora de Campo Grande, de 28 anos, que estava em Pedro Juan Caballero no dia da proibição. Ela havia adquirido canetas Lipoless — produto com o mesmo princípio ativo do Mounjaro — suficientes para seis meses de tratamento.

“Já tinha comprado tudo. Acho que vão manter a proibição e provavelmente vou arriscar de novo”, disse.

A jovem perdeu 40 kg em 16 meses, passando de 132 kg para 92 kg. O processo começou com Ozempic e Wegovy, cujos preços variavam entre R$ 1,1 mil e R$ 1,8 mil por mês. Após a indicação médica para uso do Mounjaro, ela migrou para as versões paraguaias devido ao custo muito menor: cerca de R$ 310 mensais.

Na viagem mais recente, ela pagou R$ 620 por uma caixa de 15 mg — suficiente para dois meses de uso — e adquiriu três unidades. Para cruzar a fronteira, utiliza caixa térmica e armazenamento adequado, sempre levando a receita.

Para ela, as canetas são fundamentais: “Não uso por estética. Comecei com obesidade e pré-diabetes. Minha qualidade de vida mudou completamente”.

 

Outra paciente relata benefícios, mas ressalta importância de acompanhamento

Uma segunda usuária, de 66 anos, perdeu 8 kg ao utilizar Ozempic e medicamentos similares ao Mounjaro. Apesar de episódios de alergia durante o tratamento, manteve o acompanhamento médico e diz que a reeducação alimentar foi essencial para manter o peso após interromper as aplicações.

 

Questão econômica e debate sobre patentes

O baixo preço das canetas paraguaias se deve à quebra de patente no país vizinho, o que permite a fabricação por diversos laboratórios. No Brasil, porém, o Mounjaro é exclusividade da farmacêutica Eli Lilly, o que mantém os valores elevados.

Para a jovem de 28 anos, o entrave é financeiro: “O Brasil não tem coragem de quebrar a patente e segue favorecendo a indústria farmacêutica”.

Especialistas divergem. O endocrinologista Ben Hur Ono é contra a quebra de patentes e afirma que há alternativas nacionais, como a tirzepatida manipulada, com custo inferior.

Já o médico Dr. Canela defende que o debate precisa avançar para além das patentes e focar nos entraves tributários: “Antes de pensar em quebrar patentes, o país precisa enfrentar a questão dos impostos e do acesso. Reduzir a carga tributária já ampliaria muito o alcance dos tratamentos”.

Deixe um comentário


Leia Também

Veja mais Notícias